quarta-feira, 23 de março de 2011

Meu relato de amamentação

Especial para mães cujos bebês não se encaixam nas curvas de peso!

Aviso aos leitores: esse texto é sobre minhas experiências e minhas verdades. Como li certa vez nas palavras de um monge budista: “não há verdade que mereça esse nome que não seja a que vem de dentro”.

Meu nome é Graziela e sou farmacêutica homeopata e terapeuta floral. Me orgulho de não ser vacinada e de praticamente nunca ter feito uso de drogas químicas (medicamentos alopáticos) para qualquer alteração no meu estado de saúde. Minha filha nasceu de parto natural, em casa após uma gestação tranquila regada com muita meditação, prática de ioga, terapia floral e muito, muito estudo sobre a melhor forma de trazê-la ao mundo. Nunca sequer questionei minha decisão de ter um parto sem intervenções: minha confiança na minha natureza de fêmea feita para a maternidade sempre foi maior do que qualquer medo ou dúvida que pudesse ter.

Sobre amamentação, achava que sabia tudo que importava: que não havia mulher sem leite e que era balela o papo do leite fraco. Lia mensagens de alguma mulheres com dificuldades mas achava que se tratava de despreparo, falta de confiança, e até um pouco de preguiça eu confesso! Tinha a mais absoluta certeza que bastava a vontade de amamentar, colocar o bebê no peito e pronto a mágica estava feita! Aliás, tinha o sonho e a pretensão de ajudar a abastecer algum banco de leite (tinha até as instruções e uma lista dos bancos guardada). É, não foi bem assim que aconteceu...

Carina nasceu pesando 3,575kg. Depois de 4 dias apresentava uma perda de 395g. Se não me engano foi aí a primeira vez que ouvi falar de complemetação. Ao que parece o leite ainda não havia descido... levei um pequeno susto mas nada a ponto de me perturbar. Ao contrário de muitas mulheres não estava tendo grandes dificuldades: o peito só doeu um pouquinho nos primeiros dias, o leite não empedrou, não tive febre, o peito não rachou (passava uma pomada feita pela minha mãe também farmacêutica com azeite, mateiga de cupuaçu e báslamo do peru – o ó). Depois de três dias já estava de volta ao 3,275kg e agora o leite descia de fato. Tudo calmo e tranquilo, até que...

Com 18 dias resolvi começar o acompanhamento homeopático da minha pequena. Não havia nada errado, mas como homeopata sei que quanto mais conhecimento o médico tem a respeito de seu paciente mais assertivo ele é no momento de medicar e mais rapidamente o organismo volta ao equilíbrio. Não consigo imaginar um jeito melhor de estabelecer esse vínculo do que começando no berço! E aí veio a surpresa: A Carina havia perdido peso: estava com 3,250kg. A primeira suspeita foi de infecção urinária e não vou me ater aqui à complexidade de colher urina de um bebê de menos de um mês. O que importa é que a hipótese foi descartada. Bom, então talvez eu estivesse fazendo alguma coisa errada: oferecia o peito e depois de algum tempo (não olhava para o relógio para ver quanto), quando ela soltava achava que já tinha esvaziado aquele e oferecia o outro. Naquele dia fiquei sabendo sobre leite anterior (o leite magro, cheio de imunoglobulinas mas de baixa caloria) e leite posterior (com mais gordura, sem gosto - eu experimentei - e mais difícil de sugar). Fui embora disposta a corrigir o erro e ver tudo entrar no eixos. Voltei no dia seguinte ao consultório e... nada! Nem 1g!!! Mais instruções, mais expectativa. No dia seguinte mais uma pesagem e nada de novo. Foram 5 dias de pesagem sucessivas e só 10g de ganho. O "normal" é cerca de 30g por dia...

A essa altura a médica, super incentivadora da amamentação, também já estava falando em complemento. E eu estava pirando: meu parto foi uma reafirmação de quem eu sou, das minhas crenças e daquilo ao qual dedico minha vida de trabalho. Dar leite artificial para minha filha era uma descontrução muito grande. Fugi do consultório, pedi socorro na lista de amamentação e para minha terapeuta floral. O apoio que recebi foi fundamental para me colocar no eixo de novo, em especial das outras mulheres que me relataram experiências parecidas com a nossa (e bem sucedidas). Passados alguns dias a médica veio nos ver em casa e fizemos nova pesagem. Ela havia ganho 70g em três dias, o que tanquilizou um pouco os ânimos.

EXISTEM MIL MANEIRAS DE MAMAR...

...INVENTE A SUA!

Só voltei ao consultório mais de um mês depois. Tudo na minha filha me dizia que ela estava bem: era um bebê ativo, suas funções fisiológicas estavam em perfeito funcionamento e quando se punha a chorar esbanjava energia: a vizinhança inteira a conhecia pelo choro, o que para mim era um indício muito claro de que ela não estava passando por nenhuma privação! Na nova pesagem ela estava com 3,680kg. Um ganho de pouco mais de 100g mais de 2 meses depois do nascimento. A pediatra estava preocupada, me pediu para voltar em 15 dias. E apesar de nesse meio tempo a pequena ter engordado mais 110g ela não estava convencida. Ainda recomendava a complementação.

Foi nessa fase que a família também entrou em ação. Começaram os telefonemas de parentes preocupados pois a Carina estava muito pequena, ninguém via meu peito cheio, eu sofria de um problema genético: nenhuma das mulheres mais próximas a mim teve êxito na amamentação. Sei que a preocupação era legítima, sei que a intenção era ajudar. Mas ninguém ali tinha conhecimento profundo sobre o assunto e acabou que as intervenções foram extremamente tóxicas e prejudiciais ao nosso processo. Nos momentos mais difíceis corri para a Matrice, e novamente e sempre o apoio das mulheres Maternas foi fundamental. Uma dica das mais preciosas que recebi que abro parênteses para comentar foi a de tirar o leite e derivados da minha alimentação. Eliminou completamente os gases estomacais que estavam se tornando tão constantes que a pequena em alguns momentos desistia de mamar - era um arroto a cada três sugadas...

Por outro lado eu comia tudo o que diziam que dava leite. Canjica, mingau de aveia (feito com água de ameixa), salada de escarola crua, um tal de pirão de fubá e galinha caipira pra mulher parida do qual não posso nem lembrar o cheiro - o frango já não fazia parte do meu cardápio há algum tempo... O resultado disso foi que eu, que havia ganho apenas 12kg na gestação e que em 15 dias já havia eliminado 9 voltei a engordar: um total de 18kg...

O que de fato fez alguma diferença? Tomar cerca de 5L de água ao dia. Aí sim senti meu peito encher. Mas em relação ao peso, muito pouco impacto. Mas agora não era porque não tinha leite, e sim porque o leite era fraco! Cheguei a ouvir de médicos da família (que são otorrinos) que ela teria deficiências auditivas devido ao baixo peso. Sim, nessa hora as pessoas esquecem a diferença entre baixo peso e desnutrição! Meu marido mede 1,69m e pesa (depois de ter engordado com o casamento) 60kg. Eu brigo com a balança desde os 8 anos de idade e nesse período ouvi um dos comentários mais dolorosos de toda a minha vida: que eu não queria complementar a amamentação pois tinha medo que minha filha fosse gorda (só faltou a pessoa dizer: "como você")! Ok, sei que o número de células adiposas que vamos carregar vida afora se formam na primeira infância, mas daí a achar que eu valorizaria isso mais do que a saúde da minha filha...

Nesse ponto tomei também outra decisão importante. Resolvi trocar de pediatra, e voltar ao pediatra que atendeu meu parto e que é considerado especialista em amamentação. Além da pressão da família por uma segunda opinião achava que não era justo colocar a colega homeopata em tamanha saia-justa: ela não se sentia segura em nos acompanhar da maneira que eu estava conduzindo o processo. Ao procurar o novo pediatra, em momento algum tive a intenção de tranferir a ele a responsabilidade sobre minhas decisões. Queria alguém que olhasse o quadro sem preconceitos, tivesse sensibilidade suficiente para perceber o desenvolvimento que estava além da curva de pesoXaltura e que tivesse tranquilidade suficiente para nos acompanhar. E aqui preciso dizer: para isso o Dr.Cacá é o cara!

Ele foi muito claro comigo: menos de 10% da população brasileira tinha uma curva como a da Carina. Pra quem tem uma dessa em casa (eu cheguei a fazer uma xerox mas nunca preenchi), ela estava naquela temida área vermelha, lá embaixo (quase encostando na linha de baixo). A altura também estava abaixo (não tanto quanto o peso). Mas no mais ela apresentava um desenvolvimento perfeitamente normal. Foi nesse dia que descobri que ela já brincava - pra mim bebês até começar a engatinhar sómamavam, faziam cocô, choravam e dormiam... Perguntei se ele topava nos acompanhar e a resposta foi algo como "vambora!"! Chegamos a falar em tentar tirar o leite com uma bomba elétrica (eu já havia tentado duas manuais sem sucesso) mas no final da consulta ele achou que isso poderia me deixar mais neurótica se de repente eu tivesse dificuldade. Pela força das circunstâncias dei um desconto para o "mais"....

Bom, aqui a Carina estava com 3 meses e pouco e não havia ganho ainda 1kg desde o parto. Aliás, isso só aconteceu do quarto para o quinto mês. E ela usou roupas de recém-nascida até os 6 meses. Hoje quando vejo as fotos entendo porque as pessoas na rua me perguntavam se ela era prematura... Mas na época isso quase me enlouquecia. E eu tinha que recorrer as minhas lições de homeopatia, que enfatizam a INDIVIDUALIDADE como única referência para a saúde. As curvas são médias coletadas sabe-se-deus em que tipo de população, levando-se em conta quais viéses. Servem para dar uma idéia, mas usá-las como verdade suprema é um erro. Minha filha é prova disso.

Mas por ironia do destino foi justamente no congresso de homeopatia do qual participei quando a Carina estava com 5 meses é que "apanhei" mais. Fui questionada à exaustão por colegas que não se convenciam de que não iriam me convencer a complementar a amamentação. Também insistiam muito na introdução de alimentos. Tempos difíceis.

Faltavam cerca de 10 dias para a Carina completar 6 meses quando meu carro quebrou no Ipiranga (moro em Perdizes). Era hora do almoço e eu estava longe da minha filha. Quando finalmente consegui chegar minha mãe havia dado uma pêra para ela. Foi quando cedi. Comecei a introdução. Sem regras, sem pressa, e sem restringir nem um pouquinho a amamentação: se ela queria mamar e era hora do almoço, o mamar era prioridade. Não cheguei à perfeição dos 6 meses exclusivos como ansiava, mas dadas as circusntâncias fui longe, muito longe.

Algumas pessoas podem pensar que pra mim foi mais fácil: sou profissional de saúde, ainda mais da área alternativa. Mas para os desavisados: acima de tudo sou mãe de primeira viagem. A minha insistência, minha teimosia foi pautada pela minha certeza de estar fazendo o melhor para ela, mas essa certeza foi extremamente questonada e pressionada ao longo de 6 meses. Se estou certa ou não, só um futuro longínquo vai dizer. O que posso dizer, agora corujando um pouquinho, é que o desenvolvimento intelectual da minha filha deixa a todos preplexos. Amante da música, recita o "pato pateta" inteiro desde 1 ano e meio. Já reza para o anjo da guarda e com menos de 1 ano e 11 meses canta "como é grande o meu amor por você" (cantava pra ela desde o útero), além de já saber calçar os sapatos. O peso? Agora está um pouquinho acima da curva, assim como a altutra. É uma magrela de coxas grossas. Quando se enquadrou? Não tenho muita certeza, acho que lá pelo oitavo mês. Sumi do consultório quando ela estava com 9 meses e só voltei com 1 ano e 10m para trocar uma idéias com o queridíssimo Dr.Cacá.

E a Carina ainda mama no peito. Livre demanda, inclusive nas madrugadas (quase 2 anos sem dormir uma noite inteira - porque nas raríssimas vezes que a pequena não acordou para mamar eu acordei mais vezes que o usual para ver se estava tudo bem). Só agora começo a colocar algumas regrinhas, como não mamar andando pela rua pois ela está pesada e já não aguento mais carregá-la (engraçado, devido às Carina com 4 meses e 12 dias (e menos de 4,5 Kg)minhas lutas com a balança meu peito já era caído antes e achava que ia ter vergonha de amamentar em público - mas virei a rainha do peito-de-fora pelas ruas de Perdizes)...

Mas é tudo explicado, e ela já é capaz de entender as restrições. Quando me perguntam até quando vou amamentar digo que pelo menos até os dois anos, como recomendado pela OMS (embora a maioria considere exagero é difícil arrumar argumentos para contestar a OMS...). E depois? Não sei, vamos ver juntas.

Amamentar para mim vai muito além de alimentar, de doar anticorpos. É um ato de amor, é um ato de doação de alma, de criar um vínculo de afeto e segurança que esse serzinho vai levar pela vida afora. Embora tenha sido um começo difícil, passaria por tudo novamente pois não há nada no resultado que me faça questionar se valeu ou não a pena. Quando olho para minha filha hoje, o único arrependimento é não ter me informado mais para enfrentar a tempestade com mais tranquilidade. Espero sinceramente que meu relato sirva para tranquilizar outras mães e seus familiares, e que tire um pouquinho do peso das costas daquelas que ousam assumir a responsabilidade de nadar contra a corrente.

Não vou nunca cansar de dizer (e agradecer) que o relato e o apoio de outras mães foi fundamental para que eu chegasse até onde cheguei. A terapia floral também foi uma pedra muito importante nessa construção, assim como os cuidados incríveis do Dr.Cacá. Também não poderia deixar de agradecer à minha própria mãe, que embora não tenha conseguido nos amamentar ficou firme do meu lado, aguentou muita pancada da família e dos amigos da área da saúde e filtrou o quanto pode para que as preocupações gerais não chegassem a mim, mesmo estando ela mesma bastante insegura.

Para as que gostam de números seguem abaixo os que tenho. Deixo ainda meu contato pessoal para que aquelas que precisarem se sentirem à vontade em me procurar: pra trocar idéias, desabafar, pedir um colo:

gragarbi@hotmail.com

E muito leite para todas!


Graziela Garbi, em 14/03/2011