segunda-feira, 5 de março de 2012

Amamentar é...

Foto: Ângelo, Luciana e a Sarah de 4 meses.

Como muitos sabem acabei ficando expert na arte de amamentar, rs, e não foi por acaso. O que se vê hoje em dia são muitas campanhas em prol da amamentação, e depois que passei por todas as dificuldades dá para entender o por que. PORQUE É DIFÍCIL!

Não, as harpas não tocam nas primeiras vezes que você vai amamentar, não tem um coral cantando atrás, tudo o que se vê é um cenário onde uma mãe descabelada e sonolenta tenta encaixar o bebê molenga no bico do peito que está rachado, doendo com a descida do leite. O resultado pode ser desastroso, ainda mais quando somamos tudo isso a palpites como: Você não tem leite suficiente, seu bebê está muito magrinho, seu bebê está chorando de fome, você nunca mais vai poder fazer nada porque seu bebê só vai querer saber de ficar pendurado no seu peito, em outras palavras: DESMAME JÁ! E aí a gente se pergunta: Por que em outras épocas ou outros lugares tudo era mais fácil? Os peitos não empedravam, não rachavam, os bebês não choravam? SIM.

Acontecia tudo isso! Mas tenho certeza que já existiu uma época onde amamentar era a única opção, não existiam palpites como esse porque amamentar tinha que acontecer. O bebê precisava aprender a "pega" e a mãe precisava esperar o bico cicatrizar com o bebê mamando o tempo que fosse. Não existiam leites em pó, mamadeiras tão acessíveis, ou talvez nem existissem! E com tudo isso não existia a pressão da sociedade em amamentar, porque isso era fato. Não sei quando isso já aconteceu, mas tenho certeza que já aconteceu.

É uma faca de dois gumes. Se você amamenta as pessoas acham estranho e até obsceno você sacar os peitões para fora. "Imagina, inventaram a mamadeira e o leite em pó para isso, hoje a mulher é moderna e não precisa amamentar." Se você não amamenta é bombardeada por campanhas onde o aleitamento materno é o único alimento capaz de deixar seu filho feliz, saudável e sem isso ele crescerá burro e sem energia.

Mas, e se não dá? Aqui no Brasil existem muitas mulheres (muitas até conhecidas minhas) que desmamaram precocemente, não porque não queriam amamentar, mas por N motivos onde os bebês rejeitaram o peito ou por falta de apoio em continuar, diante de todas as dificuldades -reais ou inventadas- que existem ao amamentar.

As campanhas na minha visão estão totalmente equivocadas, pois trazem um sentimento ainda mais frustrante e negativo na mulher que está tentando amamentar, como se ela fosse incompetente, ignorante e até mesmo deficiente! Muitas entram em depressão pós parto por conta disso. Sei porque eu quase fui uma dessas.

Não estou dizendo que a mulher tem o direito de optar por amamentar ou não. Claro, livre arbítrio e cada um faz o que quer com sua vida, mas acho que é dever da mulher amamentar sim. Mas acho que o modo como é falado é muito fantasiado. Não existe apoio, somente uma imposição. É isso ou você é "menas mãe". Colocam a toda bonita Juliana Paes amamentando seu filho diante de um céu azul e só faltam anjinhos em volta. E aí a mãezinha tem seu bebê e acontecem todos os desastres possíveis: bico estourado, mastite, infecção por fungo, sapinho, pega incorreta, bebê que só chora. Ela se questiona: "O que eu estou fazendo de errado? Por que não é prazeroso amamentar? Por que dói? Por que ele fica pendurado o dia inteiro no meu peito? Por que ele não mama de 3 em 3 horas?" E diante das imagens mais lindas e plenas do mundo que é uma foto de uma mãe maquiada e sorridente amamentando ela conclui: " Não sirvo para isso, meu bebê me odeia, não sou boa mãe". Algumas até acham que não gostam de seus filhos, porque não sente felicidade em amamentar.


Esse pensamento não deveria acontecer, pois hoje vejo que tudo é um aprendizado, é encaixe, é conhecimento e auto conhecimento e que é bloqueado pela imposição do que "é para ser". Essas campanhas não incentivam o aleitamento materno exclusivo, não trazem informações sobre o puerpério e sobre todos os possíveis "problemas", e quando trazem algumas informações, essas não são seguidas pelos pediatras atuais que te ameaçam prescrever complemento se na próxima semana seu bebê não tiver engordado. Parece um cabo de guerra!

O que tenho para dizer diante de toda essa dificuldade das mulheres amamentarem exclusivamente é: Se informem com profissionais totalmente a favor do aleitamento materno, façam questão de entender o seu corpo, como ele funciona, entenda na medida do possível as necessidades do seu bebê, e entenda que cada um é cada um. O que acontece entre meu bebê e eu pode não acontecer com você e o seu bebê. Pode ser mais fácil, pode ser mais complicado. Mas nada está errado desde que você siga o que seu coração pede.

Eu quase desmamei a Sarah, quase fui vencida pelo cansaço e por todos que já não aguentavam mais. Dou os parabéns a mim mesma todos os dias por ter revertido a situação, mas tenho cicatrizes internas que ainda doem muito todos os dias também. Tudo isso quase custou minha sanidade, mas amamentá-la me livrou da depressão, disso eu tenho certeza.

Mas... cheguei no limite da minha sanidade mental, e isso eu não recomendo. Hoje eu tenho em mente que, amamentar é muito mais que o aleitamento materno. é dar amor, carinho, ter paciência, ensinar, aprender, acalentar, dar o melhor de si, é o olho no olho, pele com pele. Sem isso você não dá o que realmente seu filho precisa. Não adianta amamentá-lo sem realmente estar ali com ele, fazer parte daquele momento também.

Fonte: http://nalegriaenatristeza.blogspot.com/2012/02/amamentar-e.html