sexta-feira, 23 de março de 2012

Sobre a minha decisão de acompanhar menos partos

Recentemente, tomei a decisão de acompanhar menos partos. Esta decisão tem relação com uma visão que tenho sobre os nascimentos, mas também com um momento de vida muito particular que eu gostaria de compartilhar com vocês.

Acredito que o nascimento é uma experiência fantástica para quem está nascendo e também pra todos que compartilham este momento com a nova vida. Eu, particularmente, tenho o privilégio de estar presente frequentemente no instante de nascimento de diversas famílias.

No entanto, vivi recentemente uma grande sensação de cansaço. Um cansaço físico, talvez emocional. Afinal, o parto que antecipa o nascimento sempre é vivido com grande expectativa, nervosismo, ansiedade e todas as palavras que tentam expressar este conjunto tão complexo de sensações vividas antes da chegada de novas vidas.

Entendo cada vez mais por que os pais se preparam para o parto e pouco se preparam para o nascimento. Afinal, se soubessem o que é o “nascer” não estariam nascendo como pais e não estaria nascendo um novo SER.

Sendo assim, acho que tive que me gestar como um “recepcionista de bebês” para este mundo: o mundo do ar, o mundo lá fora, a vida fora do útero. E precisei parar por um tempo.

É claro que a vontade de ter uma vida mais livre e mais solta foi central para este giro que dei. Ter noites livres, finais de semana inteiros, viagens imaginárias, manhãs dormindo e todos os privilégios de que gostaria de poder desfrutar por poder controlar meu próprio tempo. Que maravilha!

Aí veio aquela vontade de nascer! Ai que vontade de nascer!

E para nascer é preciso haver o parto.

Eu queria compartilhar com vocês, leitores do meu blog, pacientes e amigos que estou em trabalho de parto e não sei direito quem vai nascer.

Resolvi que eu posso tentar atender um número menor de nascimentos. Quero poder estar presente nestes momentos sem perder outras coisas da minha vida e ajudando a famílias de novas formas, com novas atividades e não apenas recebendo e acompanhando nascimentos.

E é isso que comecei a fazer.

Penso que viver e trabalhar assim é mais justo comigo e sinto que desta forma posso ajudar mais e melhor os pais que estão começando.

Estou experimentando.
Estou tentando nascer assim,
Suave assim...

Um beijo carinhoso a todos que me acompanham nesta jornada.

Dr. Carlos Eduardo Corrêa (Cacá) – Pediatra/Neonatologista