quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Amamentar sozinha? Yes, we can!


Por Mariana Lettis, mãe do Esteban.

Amamentação prolongada, mãe sozinha também pode!

A Semana Mundial de Aleitamento Materno, SMAM 2012, está chegando e queria compartilhar meu relato de amamentação prolongada. Espero inspirar outras mães que também não tem companheir@, a que confiem no seu corpo – a gente consegue!

Meu menino tem 3 anos e meio, e até hoje ele mama. Durante a semana, só para dormir, se ficar doente, febril, a demanda aumenta para madrugada adentro, dia afora. No dia a dia, ele acorda 7:20hs já na porta da escola – levo ele dormindo no carrinho ou no sling se está chovendo, toda manhã, já que a porta da escolinha fecha pontualmente às 7:40hs.

Nos finais de semana ele aproveita o fato de acordamos juntos mais tarde para mamar de manhã, durante a preguicinha na cama. Isso não impede que ele tome um belo café da manhã com fruta, pãozinho integral com requeijão (sim, nós amamos requeijão), leite, cereal.

Mamar nunca foi problema para o pequeno se adaptar na creche, embora eu tenha sofrido muita pressão por parte das profissionais, para quem por fim consegui mostrar que a amamentação não era motivo de dependência emocional negativa. Também entreguei para elas a cartilha da OMS sobre alimentação infantil de 0 a 2 anos, para avaliarem na reunião pedagógica, junto a outros materiais, e então consegui ganhar respeito e confiança das funcionárias. Hoje, elas elogiam a conduta do pequeno e o fato dele ainda mamar. Até a diretora confessou que ela mesmo mamou até os 6 anos de idade. Acho que ainda consigo que elas promovam a amamentação prolongada!

Nunca tive muito leite, apenas o suficiente, meus peitos vazaram apenas uma vez. Se não fosse pela força que o pediatra nos deu, a confiança que nos transferiu, ensinar-nos o ‘mamasutra’, o que é livre demanda, eu não teria conseguido superar as pressões externas e teria dado complemento (a curva de crescimento do pequeno sempre foi limítrofe). O grupo de apoio à amamentação e o grupo de pós-parto, foram importantes também. O primeiro, para compartilhar experiências com outras mães que também queriam amamentar, ter a visão das minhas “pares” – muitas sofriam com as indicações desnecessárias de complemento pelos profissionais que as acompanhavam -, e para trocar dicas práticas. O segundo, para perceber que não é o fato de ter um companheiro que nos garante o apoio às nossas decisões de amamentar, de querer dormir coladas nas nossas crias para não ter que levantar da cama a noite toda, e que às vezes o fato de estarmos sozinhas nos faz com que nos tornemos mais práticas para resolver as situações, e que tudo flua segundo a nossa intuição, porque não temos ninguém ‘do contra’ por perto (um salve aos pais paternos que se entregam junto à arte da criação).

Por fim, consegui manter os 6 meses de aleitamento exclusivo. Não foi fácil. Tudo o que conseguia fazer em casa nos primeiros meses (tomar banho, ir ao banheiro, lavar louça, lavar roupa, ler um livro, descansar) era com o pequeno no sling e mamando! Quando ele dormia, varias vezes eu tentava dormir junto, para poder produzir mais leite. Bebia muita água, pois fazia calor, e chá gelado da mamãe ajudava a refrescar e na produção. Recorri muitas vezes às marmitas, porque não tinha tempo de cozinhar para mim. Os amigos eram o exército de salvação, se não vinham nos visitar, lá íamos de sling e cuia pra casa deles. Distrair, sair da “neura” da rotina dentro de casa, me fazia sentir mais tranqüila e relaxar da mamação toda, que acontecia em todo lugar. O Cinematerna era nossa saída romântica, ele mamando no escurinho e dormindo placidamente, toda terça-feira era nosso dia de filme e terapia com as “comadres”. Não foi à toa que a experiência nos fez ganhar uma irmã gêmea, pro pequeno e pra mim!

Voltar ao trabalho não foi nada fácil, mas tive a sorte dele já ter começado com a introdução de alimentos. Disciplinadamente, no horário do almoço, aproveitava para ordenhar, já um mês antes comecei a produzir um estoque no freezer. Conseguia tirar apenas 100ml por dia, e o pequeno sempre se recusou a mamá-los. O pediatra sugeriu então misturar o leite em duas papinhas (50ml e 50ml) salgada ou de frutas: banana, aveia, abacate, rendiam duas mamadas até chegar do serviço. Claro que tinha sucos e papinhas sem o meu leite no meio… à noite ele se esbaldava no peito, nem consigo lembrar quantas vezes acordava, ou ele se servia sozinho. Quando começou a escolinha (a vaga saiu quando ele tinha mais de um ano), para a hora das merendas, todo dia levava leite de grãos, que produzia uma vez por semana e congelava nos mesmos vidrinhos que usei para armazenar o leite materno. Já não conseguia mesmo “ordenhar” nem aqueles 100ml. Ele bebia, na mamadeira que pra ele era um copo diferente, porém igual ao de todos os coleguinhas, mas nessa altura já não atrapalharia a sua preferência pelo peito da mamãe.

Meu filho só começou a ingerir leite de vaca com mais de um ano e meio de idade. Hoje, por uma preferência dele, já toma os preparados da escola na caneca, no café e lanche, como meninão grande que ele é. Tem os mais diversificados gostos alimentares: desde pimentão cru até os tradicionais salgadinhos que aprendeu a comer na festa dos aniversariantes do mês. Consegui segurar a onda com refrigerantes até os 2 anos. Mesmo não comprando em casa, ele consome nas festas, mas sempre tem preferência por sucos, ufa! Come de tudo o que estiver bem temperado. E acho que esse gosto pela diversidade de alimentos tem tudo a ver com o fato de ter e estar mamando. Já que os gostos dos alimentos maternos se imprimem no leite.

Se está sendo fácil toda essa experiência? Não, não é… padeço cansaço crônico até hoje! Se já pensei em desistir? Não, claro que não. Não sei se o pequeno será o meu filho único, e sou das mulheres que vivem cada fase com intensidade e entrega. De fato, eu adoro o ditado que diz: “se está na chuva é pra se molhar”. Por fim, mergulhei por completo! Satisfação garantida!

Fonte: http://www.mamiferas.com/blog/2012/08/amamentar-sozinha-yes-we-can.html