sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Estações onde desembarcam as gripes


Por Sonia Hirsch

A leitora me escreve, muito aflita, sobre seu temor de vacinar a filha contra a gripe. "Na escola estão recomendando, mas minha filha é saudável, e eu não sei se devo..."

Lembro logo de um outono, dois anos atrás, que trouxe dias lindos e limpos e também o medo da pneumonia "atípica". Os jornais abriam manchetes sobre (felizmente poucos) casos fatais. Mais de dez laboratórios já estavam pesquisando remédios e vacinas. Cada um de nós acompanhou atentamente a evolução dos fatos, e também dos boatos, que não são confiáveis mas dão muito assunto.

Ficava assim combinada a vida: a qualquer momento podemos sofrer a invasão de um poderoso inimigo. Será? Melhor não. Mas como não?

Escrevi para minha amiga Lena Peres, médica infectologista, que respondeu: “A melhor recomendação é evitar aglomerações, fazer uma boa hidratação e cultivar o contentamento – virtude que aumenta as defesas do organismo.”

Grande sabedoria!

O ar que circula num ambiente cheio de gente não é mesmo lá grande coisa, e pode sim estar cheio de agentes irritantes para as mucosas do pulmão, além de micróbios de todo tipo e tamanho.

Boa hidratação significa água em quantidade, água que limpa, lava, refresca, ajuda a renovar as células e é essencial à vitalidade de todos os tecidos, inclusive respiratórios.

E o contentamento, bem... O contentamento é simplesmente uma das chaves da vida.

Para começar, se há contentamento não há medo. E se não há medo, qual é o problema? Um vírus, por pior que seja, jamais será significativo para a pessoa que está bem. Como disse a doutora, tudo pode ser apenas uma questão de estar com as defesas em ordem. Em se tratando do ser humano, defesa quer dizer zilhões de pequenas células espalhadas por todo o corpo, prontas a neutralizar a ação de qualquer micróbio; mas quer dizer também pensamentos e sentimentos positivos, que reafirmam a confiança na vida e não dão espaço para ansiedade.

Em psicologia é sabido que certas pessoas têm perfil de vítima. Saem à rua tão convencidas de que podem ser assaltadas que atraem o assaltante. Se forem visitar alguém que está com gripe, saem espirrando. “Ué”, alguém vai dizer, “mas isso é comum, gripe pega!”

Pega quem? Quem está predisposto a ser pego, ora essa. E também não pega assim de uma vez. Vai encostando, dá uma indisposição, uma vontade de se enfiar na cama, um friozinho, uma leve dor de garganta – e aí é que se vê quem comanda o barco. “É na tempestade que se conhece o timoneiro”, diz o ditado. Se o corpo está dando todos os sinais de que precisa descansar, e a gente não descansa, está querendo gripe.

Se, ao contrário, a gente respeita o que está sentindo e descansa, toma um caldinho quente, se agasalha, corta os excessos e fica contente por poder fazer isso, em pouco tempo tudo vai bem de novo. Foi dada ao organismo a oportunidade de se auto-regular, e ele agradece.

Alimentação pobre em nutrientes e rica em gorduras, laticínios, açúcar, produtos químicos, álcool e toxinas; stress, falta de sono, falta de atividade física, falta de afeto e outras emoções nutritivas; e exagero nas temperaturas artificiais, como o ar-condicionado gelado, tudo isso nos desregula. Ainda mais no outono, cujo ar mais seco favorece gripes, tosses, resfriados. Um vento fresco sopra de repente e pede sempre um casaquinho ou uma écharpe para não entrar pelos ombros e atingir o interior do corpo. É hora de colocar mais uma colcha na cama, e meias de algodão para dormir com os pés quentinhos.

Gripes acontecem quando o estado geral de cansaço, poluição e muco interno transborda. As mucosas já estão inflamadas. É isso o que dá oportunidade ao pobre do vírus, coisinha ridícula que nem corpo tem, e a bichos maiores e mais ocultos, diria mesmo ocultíssimos, como lombrigas, amebas, giárdias, solitárias, estrongilóides, oxiúros, tricuros, fascíolas e muitos mais, que se estabelecem em qualquer parte de nós e se multiplicam, com larvas que muitas vezes atravessam o delicado tecido do pulmão e coisas piores. Qualquer pneumonia sem causa óbvia obriga a investigar a "síndrome de Loefler", ou: presença de infecção por helmintos possivelmente afetando o pulmão.

Na medicina tradicional chinesa o outono é a estação dos pulmões, que dão ritmo e ordem à vida – ou depressão e melancolia, se estiverem fracos e sem energia. Reina a força de Metal, que tem a ver com tesouros e colheitas. Estação muito boa para concentrar os esforços, concluir processos e... tratar dos vermes, já que pulmões e intestinos trabalham juntos. O inverno é a estação dos rins e da bexiga, que podem ser energizados com caldos quentes, raízes como cenoura, nabo daikon e bardana, uma camiseta regata por baixo de qualquer roupa, uma faixa de algodão, lã ou seda em torno dos rins. Não é a melhor época do ano para frutas e saladas, menos ainda para sucos.

Outono e inverno são tempos de maturidade. A capacidade de realização do ser humano se apresenta como tranquilidade, paz, confiança nos processos de renovação da natureza. A gente olha para dentro e reconhece quem é. Faz o que tem que fazer e fica contente. Pronto.