segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A CHUPETA

O que toda mãe (e pai) deveria saber antes de oferecer uma chupeta para o seu bebê.  (ou Considerações sobre a chupeta baseadas em evidências)

Por Andreia Stankiewicz

A Andreia Stankiewicz, odontologista e Melania Amorim e Karina Falsarella estão escrevendo um texto sobre amamentação e saúde dos dentes do lactente, acaba de escrever um novo artigo que é, na verdade, um serviço de utilidade pública.

Confira alguns trechos desse excelente artigo, baseado em evidências científicas, que trata de dúvidas muito recorrentes, como a interferência negativa sobre a amamentação, a alteração do tônus muscular da musculatura bucal, possíveis deformações esqueléticas faciais, a inexistência de bicos comerciais que sejam comparáveis ao bico do peito, a falácia de que chupeta é menos prejudicial que o dedo, a ligação entre a chupeta e a síndrome do respirador bucal, entre outros tópicos tão importantes quanto.
  
A oferta da chupeta se difundiu amplamente na sociedade contemporânea. Trouxe consigo conveniência e comodidade, “simplificando” a tarefa dos adultos em acalmar o bebê. Muitos não sabem ao certo se devem ou não oferecê-la. Desinformação, falta de tempo, busca por facilidades imediatas, desconexão com os próprios instintos da espécie e tantos outros motivos popularizaram o seu uso e fizeram com que formas naturais e gentis de lidar com o choro e as demandas do bebê fossem deixadas de lado. Assim, a necessidade básica de sucção no peito não é plenamente suprida, muito menos as necessidades psico-afetivas do bebê, como um ser humano complexo em formação. O motivo do choro que está sendo silenciado fica sem resposta. A chupeta acaba sendo uma solução mágica e instantânea, que se arrasta pela infância afora e, disfarçada de outras formas, chega até a vida adulta. Por isso, não se iluda! A chupeta não é inocente como parece. Efeitos colaterais advindos do seu uso existem, e aumentam em quantidade e gravidade ao longo do desenvolvimento infantil.

Interfere negativamente sobre a amamentação.

Estudos mostram que crianças que desmamam precocemente usam chupeta com maior freqüência do que aquelas que são amamentadas por um período maior. A confusão de bicos descrita na literatura acontece porque a musculatura é trabalhada de forma completamente diferente durante a sucção do peito e da chupeta. A sucção de um bico artificial leva à perda da tonicidade e alteração da postura muscular (dos lábios e língua, principalmente), fazendo com que o bebê não consiga manter corretamente a pega do peito. Além disso, existem evidências de que chupar chupeta diminui a produção de leite, pois o bebê solicita menos o peito, causa ferimentos na mãe devido à pega errada, o que acaba interferindo até mesmo no seu ganho de peso. Não oferecer bicos artificiais e chupetas a crianças amamentadas é um dos Dez passos para o Sucesso do Aleitamento Materno recomendado pela Organização Mundial de Saúde, UNICEF e Ministério da Saúde.

Prejudica a correta maturação funcional do sistema estomatognático.

Atrapalha na fala, mastigação, deglutição e respiração da criança. Podem surgir deficiências de dicção, presença de sibilo/ceceio na fala, voz rouca e/ou anasalada. A mastigação perde sua característica normal bilateral e alternada, tendendo a vertical ou unilateral, afetando diretamente as articulações têmporo-mandibulares e o desenvolvimento das estruturas envolvidas. Desenvolve-se potencialmente uma deglutição atípica, com interposição de língua e participação da musculatura peri-oral. O padrão respiratório se altera de nasal para bucal ou misto. Assim, existe um consenso na literatura científica de que hábitos de sucção não-nutritivos são potencialmente nocivos para a saúde da criança e que, por isso, devem ser desestimulados ou removidos o mais cedo possível no intuito de minimizar os danos.

Altera a postura e tonicidade dos músculos da boca: o lábio superior fica encurtado, o lábio inferior fica flácido e evertido (virado para fora), ocorre a perda do selamento labial passivo (sem esforço), a pele do queixo pode ficar enrugada (refletindo o esforço do músculo mentalis para auxiliar no vedamento labial), as bochechas ficam hiper/hipotonificadas e caídas (de acordo com a forma que a criança adapta a sucção) e a língua perde a tonicidade, ficando numa posição baixa e retruída dentro da cavidade bucal, alterando toda a fisiologia.

Causa deformações esqueléticas na boca e na face: Os ossos da face crescem de forma desarmônica, com alterações e rotações dos planos de crescimento. As arcadas e os ossos nasais sofrem atresias (estreitamento) e desvios (desvio de septo) prejudicando também as funções de deglutição, mastigação, fala e respiração e se tornando um obstáculo mecânico à cura de uma série de patologias (especialmente, as “ites” = rinite, sinusite, amigdalite, bronquite, otite, adenóides hipertróficas, etc...). A mandíbula mantém a posição retruída do nascimento, isto é, o queixo não cresce, prejudicando a estética e a fisiologia.

Provoca maloclusão dentária.

Mordidas abertas, mordidas cruzadas, maloclusão de Classe II, overjet acentuado e outras alterações nos dentes são associadas ao uso de bicos artificiais. Crianças com hábitos de sucção não-nutritiva apresentam 12 vezes mais chance de desenvolver problemas oclusais do que crianças sem hábito. Mais de 70% das crianças que possuem hábitos de sucção não-nutritiva apresentam algum tipo de maloclusão.

Os bicos ortodônticos prejudicam mais no aspecto funcional do que os convencionais:

Não existem evidências que comprovem substancialmente a existência de vantagens reais nos bicos anatômicos ou ortodônticos. Embora sejam potencialmente menos nocivos em relação às alterações dentárias, chupetas ortodônticas mantêm o dorso ainda mais elevado e a ponta da língua ainda mais baixa e mais posteriorizada do que o bico comum. Produzem mais movimentos incorretos com a língua, a deglutição é deflagrada mais tardiamente e existe um maior esforço e pressão negativa formada durante a sucção.

Representa uma das causas da Síndrome do Respirador Bucal:

Quando a criança respira pela boca pode ter o seu desenvolvimento comprometido pelas inúmeras consequências que isso acarreta ao organismo como um todo. O ar inspirado pela boca não sofre o processo de filtragem, aquecimento e umedecimento fisiológicos, deixando o sistema respiratório mais vulnerável a doenças em geral. A respiração bucal ainda acarreta uma gama de alterações físicas (patologias respiratórias, problemas nutricionais e de crescimento, alterações fonoaudiológicas, do sono [ronco, apnéia, pesadelos, terror noturno, enurese noturna/xixi na cama, bruxismo] maloclusão e problemas orto-ortopédicos, posturais, comportamentais e emocionais (problemas de aprendizado, distúrbios de ansiedade, impulsividade, fobias, agitação, cansaço e hiperatividade, baixa auto-estima).

“Chupetar” peito não existe!

O termo “chupetar” deveria se referir exclusivamente à chupeta, onde o bebê realiza uma sucção não-nutritiva simplória. Dizer que o bebê está fazendo o peito de chupeta (“chupetando”), quando na verdade ele está mamando constitui um erro semântico; já que mamar constitui um ato complexo que envolve, não apenas extrair o leite, mas também sugar, estar em contato íntimo com a mãe, e sentir todas as sensações orgânicas e psico-afetivas envolvidas, com suas respectivas repercussões. Como poderia o bebê fazer o peito de chupeta se este tipo de artifício não é natural para ele e não lhe proporciona toda essa riqueza de estímulos? Bicios artificiais, muito pelo contrário, representam um estímulo de sucção patológica. O que sua memória instintiva, seu impulso pela sobrevivência reclama e pede é o peito da mãe, fisiológico, e não a chupeta. Tanto é que a maioria das crianças só aceita a chupeta após muita insistência dos adultos. Argumenta-se que alguns bebês teriam uma necessidade maior de sucção e que, após satisfazerem sua fome, ficariam no peito apenas “chupetando”, sugando, mesmo sem leite. O que acontece é que existem fases do desenvolvimento (saltos e picos de crescimento) onde a demanda aumenta repentinamente e o peito necessita receber mais estímulo para ajustar a produção. Todo bebê esperto sabe muito bem que mamar faz a produção de leite aumentar. Além disso, ele está ao mesmo tempo satisfazendo sua necessidade neural de sucção. Você já deve ter ouvido aquela famosa frase: “a natureza é sábia!”, não é mesmo? Pois é.

Considerações sobre a toxicidade e segurança da chupeta:

Durante o processamento da borracha natural e a criação da sintética, várias substâncias são adicionadas ao látex com o intuito de conferir maior elasticidade. Em contato com a saliva, esses produtos se volatilizam, trazendo riscos à saúde; além da possibilidade de existirem crianças alérgicas ao látex. Como qualquer outro objeto levado à boca, a chupeta pode servir de veículo para infecções diversas (otite, candidíase, cáries, etc). Outros riscos potenciais são o de acidentes, obstrução das vias aéreas e estrangulamento por cordas amarradas na chupeta.

A chupeta e o refluxo gastro-esofágico:

O uso da chupeta foi aventado como método capaz de reduzir o refluxo gastro-esofágico. No entanto, revisão sistemática não encontrou evidência de que ela melhore o tempo total e/ou diminua o número de episódios de refluxo.

A necessidade de sucção do bebê deve ser suprida no peito:

Crianças que nunca mamaram no peito ou que tiveram aleitamento misto antes dos três meses de idade têm aproximadamente sete vezes mais chance de desenvolver hábitos de sucção não-nutritivos do que crianças amamentadas por mais tempo8. Desde a vida intra-uterina o bebê apresenta um impulso neural de sucção. Ele começa satisfazendo esse impulso com o próprio dedo e ao mesmo tempo vai desenvolvendo a função da sucção, crítica para sua sobrevivência após o nascimento durante a amamentação. Se o bebê for amamentado e não houver interferências negativas, o próprio desenvolvimento e amadurecimento neuro-funcional se encarregará de fazer com que a necessidade neural de sucção se esgote espontaneamente em torno do final da fase oral. Portanto, nada substitui o ato de mamar no peito, pelo aporte nutricional e imunológico do leite materno, pela troca de afetividade entre mãe e filho e pelo mecanismo de sucção exclusiva que este propicia para um perfeito desenvolvimento. A amamentação é primária na prevenção em saúde e no funcionamento pleno das potencialidades vitais da criança, refletindo diretamente sobre a sua qualidade de vida. A amamentação deve ser realizada de forma exclusiva até os 6 meses e continuada até os 2 anos de idade ou mais! A decisão de introduzir ou não chupeta é da família. Mas cabe aos profissionais oferecerem aos pais subsídios para que tomem uma decisão consciente e informada a esse respeito.

Autoria: Andréia Stankiewicz, mãe de Luiza, 3 anos e Pedro, 1 ano; cirurgiã-dentista especialista em odontopediatria e ortopedia funcional dos maxilares, membro do Núcleo de Estudos em Ortopedia dos Maxilares e Respiração Bucal (NEOM-RB).

Revisão final: Antonio Fagnani Filho, cirurgião-dentista ortopedista funcional dos maxilares, ortodontista e homeopata, professor de pós-graduação, membro do Núcleo de Estudos em Ortopedia dos Maxilares e Respiração Bucal (NEOM-RB) e da Associação Brasileira Do Sono.

Confira o artigo na íntegra: http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2012/09/chupeta-o-que-toda-mae-e-pai-deveria.html