sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mãe adotiva também pode dar o peito

Conheça mulheres que amamentaram sem nunca ter engravidado
 
Cristina Marinho Martins celebrou o primeiro encontro com o filho com uma olhada bem no fundo dos olhos daquele bebê. Ninou Thiago, desabotoou a blusa e ofereceu seu peito como alimento e prova de amor. Ali, diz ela, selava um pacto de cumplicidade mútua.
Getty Images -
Amamentar é uma possibilidade mesmo para mães adotivas, dizem os médicos
João Pedro foi outro protegido pela vacina natural que sai do seio materno – arma poderosa contra as doenças da infância – no instante em que conheceu a mãe Tatiane Fernandes. A mamada de boas-vindas foi rápida, mas intensa. Representou o vínculo da nova família que nascia.
Cristina e Tatiane são exemplos de mulheres que desfrutaram o gosto da maternidade por meio da amamentação com a particularidade – que para elas é só um detalhe – de nunca terem gerado uma criança. Thiago e João Pedro, hoje com 5 e 2 anos, viraram garotões saudáveis com leite materno sem nunca terem mamado em quem os deu à luz.
 
Os quatro não são exceções da medicina e nem representam um fenômeno raro. Os médicos descobriram que as mães adotivas podem, sim, amamentar da forma tradicional. A constatação dos especialistas começa a ganhar os lares de famílias adotivas e se transformar numa recomendação de saúde para as mães que estão dispostas a adotar.
 
“Antigamente a chamada amamentação adotiva era uma possibilidade cheia de mistérios, não se sabia como trabalhar, existia medo e receio”, afirma Marcus Renato de Carvalho, professor de pediatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor em amamentação pela International Board Certified Lactation Consultants. “Hoje em dia é um método aprovado, os profissionais de saúde já dominam a técnica e divulgam essa possibilidade. Todos os meses recebo dezenas de mães adotivas querendo amamentar seus filhos tradicionalmente. Muitas conseguem.”
 
Empenho à luz do sol
 
A possibilidade de ter leite natural mesmo sem passar pela bomba hormonal trazida pela gestação começa, primeiro, com vontade e disposição de realizar o ato. Empenho é a palavra de ordem, inclusive para as mulheres que geraram os bebês, já que uma pesquisa da Fiocruz divulgada no início do ano mostrou que 44% delas falham na amamentação.
 
“É claro que muitos fatores são influentes na amamentação adotiva. Quanto mais nova é a criança, maior é a chance do aleitamento ser possível. Alguns medicamentos estimulam a produção do hormônio do leite, a prolactina. As massagens e o estímulo com bombas e equipamentos também ajudam a induzir o aleitamento”, pontua Carvalho.
 
Tatiane fez tudo o que o médico indicou e também tomou sol nos bicos do peito, técnica que funciona para preparar a mama - já que a aréola não é preparada pela pigmentação trazida pela gravidez.
 
"Mas nada foi tão estimulante quanto enxergar as transformações resultantes da insistência de oferecer o peito à boca do João Pedro", conta.
 
O nenê sugava o alimento – que primeiro saia ralinho e depois ficou mais espesso – dormia um sono gostoso e crescia a cada dia. Ao mesmo tempo, ela esquecia das mamas doloridas, suportava o cansaço das noites mal dormidas e experimentava a sensação plena de ser mãe em cada mamada.
 
“Soube aos 14 anos que não poderia gerar uma criança por um problema no sistema reprodutivo. Mas nunca duvidei que seria mãe.” A amamentação deixava a convicção de Tatiane explícita a qualquer um que fazia uma visita ao recém-chegado João Pedro.
 
As vantagens
 
As mães Cristina e Tatiane tiveram algumas vantagens que contribuíram para o êxito da amamentação dos filhos não gerados em seus ventres. Elas não engravidaram, mas tiveram um tempo para se preparar para a chegada de seus bebês. “No meu caso”, explica Cristina Martins, “sabia que não poderia engravidar. Minha irmã fez a inseminação artificial com o sêmen do meu marido. Acompanhei de perto a gestação e durante todo o processo estimulei as mamas. Quando o Thiago nasceu, eu já tinha leite”, conta.
 
Já o filho de Tatiane foi gerado por fertilização in vitro no ventre da avó materna. “Durante a espera do João Pedro, eu até engordei junto! Só não tive enjôo, mas o resto senti na pele”, conta ela, que refere à gestação da mãe, na época com 42 anos, como “a nossa gravidez”.
 
Recomendação universal
 
Mesmo que não conheçam a mãe biológica dos filhos do coração, todas as mães adotivas podem tentar amamentar, recomenda a pesquisadora do Instituto de Saúde de São Paulo e uma das principais referências em amamentação do País, Marina Ferreira Réa.
 
“Não dá para atestar que todas terão sucesso. Se o bebê chega com mais de quatro meses, por exemplo, o processo é ainda mais lento, mas não impossível", informa, incentivando a persistência. “É sempre bom lembrar que o leite materno de uma mulher que engravidou tem a mesma qualidade do leite produzido por uma mulher que estimulou a amamentação. Os dois tipos são essenciais para criança, completos e uma forma bem eficiente de criar vínculo entre mãe e filho.”
 
Fórmula mágica
 
Tatiane diz que tentaria amamentar João Pedro todos os dias, mesmo que o leite não saísse. “Já iria valer só pelos momentos que tivemos juntos, aquela hora só nossa, tão importante para a nossa relação.” Cristina é adepta da mesma teoria e o especialista da UFRJ Marcus Renato Carvalho não tem só as evidências científicas para aplaudir a persistência de todas as mães adotivas que vão ao seu consultório querendo alimentar seus filhos. "É uma experiência pessoal", arremata.
 
Após o término da entrevista, Carvalho confidenciou ao Delas que é a prova viva da possibilidade do aleitamento materno adotivo. Aos 11 anos de idade, Carvalho descobriu que era adotado "sem drama”, afirma. Ao saber a origem da sua história um outro capítulo foi revelado: sua mãe adotiva, durante as longas noites embaladas pelo choro interminável daquele garoto rejeitado pela mãe biológica, ofereceu o peito como tentativa de alento. Marcus Renato Carvalho mamou.
 
O médico que hoje ajuda mães "do coração" a amamentar seus filhos, autor de vários livros sobre o tema e pesquisas na área, é um exemplo de que a amamentação por mães que nunca engravidaram é um sonho possível. Ele descobriu isso lá nos anos 50, época em que nem mesmo a medicina, sua devoção futura, tinha se convencido desta possibilidade.
 
Os passos do aleitamento da mãe adotiva
 
- Se vai adotar uma criança e deseja amamentá-la tradicionalmente, informe isso ao seu médico

- O processo é lento e requer empenho. Faça massagens nos seios, tome sol com eles descobertos (fora dos horários de sol intenso) e também se informe sobre os aparelhos que fazem o bombeamento das mamas com foco na estimulação.
 
- Com orientação médica, há a possibilidade de usar medicações que estimulem a produção de prolactina, hormônio do leite materno
 
- Nos bancos de leite, são mais de 150 espalhados pelo País, os profissionais são habilitados a dar informações sobre isso.
 
- Ao iniciar a amamentação, é possível que o bebê precise de complemento na alimentação. Uma técnica é usar uma sonda bem fininha. Coloque uma ponta das sondas no copo e a outra próxima ao bico do seu seio. O nenê ao mesmo tempo que suga o peito, recebe o leite do copinho. Com o tempo e estímulo, ele vai passar a beber menos do copo e mais do peito.
 
Fonte: Portal do IG

 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Amamentar...

Arquivo: Lauriza e Alexandre

Nosso filho Alexandre teve restrição de crescimento e nasceu com 2.550 kg no dia 16 de novembro de 2011. Logo procuramos um pediatra para acompanhá-lo e encontramos um homeopata bastante recomendado, até famoso na mídia, que me ensinou a amamentar com hora marcada, 10 minutos em cada peito.

Mesmo pesquisando muito sobre amamentação, não entendi o que realmente era correto, mas como confiei nesse médico, segui sua orientação e amamentei dessa forma. Coloquei um despertador e a cada 2 horas Alexandre mamava. Era difícil e desgastante, parecia fugir do natural, que seria amamentar quando ele pedisse. Senti que ele sugava devagar, muitas vezes dormia antes de completar os 10 minutos, mas achei que era normal, não tinha experiência nenhuma.

Voltamos ao mesmo pediatra após 7 dias e descobrimos que nosso filho engordou apenas 30 gramas, o normal seria engordar esses 30 gramas em 1 dia. A primeira coisa que o médico fez, antes mesmo de saber se a amamentação estava correta, foi receitar plasil para mim e um leite artificial na mamadeira para nosso bebe.

Achei um absurdo e fiquei muito preocupada, pensei não ter leite suficiente e busquei todas as 'possibilidades' para aumentar a sua produção, desde tomar água de coco até comer rapadura e todas as dicas que vemos por ai. 

Sempre fomos totalmente contra alimentos artificiais, principalmente dos leites em pó feitos de gordura vegetal hidrogenada, 100% artificiais. Não queria que nosso filho apenas engordasse, queria que se desenvolvesse de forma saudável e jamais usasse uma mamadeira, já tinha me informado sobre isso e sabia o quanto seria prejudicial.

Antes de estar convencida de questionar o tratamento urgente desse médico, meu marido já decidiu que não seguiríamos a prescrição. Todo esse desespero o bebê sentia, não dormíamos a noite, passávamos o dia pensando e muito perdidos. Não confiamos no tratamento, mas nosso bebê continuava pequeno, abaixo da linha mais baixa das curvas de crescimento, com todos os riscos assustadores e simplesmente não tínhamos alternativa. Continuamos pesquisando e para nossa salvação encontramos o blog do Dr. Cacá.

Explicamos nosso caso e ele nos atendeu já no dia seguinte e apesar de ser um encaixe, o Cacá e a Andréa nos acolheram por várias horas, com tranquilidade e atenção, sem pressa e com real interesse de nos entender.

De repente tudo fez sentido, antes éramos nós contra a opinião médica e de todos ao nosso redor. A partir de então, era um médico nos dando a segurança que tanto precisávamos para fazermos o que nós, como pais, sentíamos ser o certo. 

O Dr. Cacá, diferente do outro pediatra, segurou nosso filho com atenção, conversando, olhando nos olhos e nos convenceu pela primeira vez que nosso filho era normal. A Andrea acompanhou a amamentação com tanto carinho e atenção, me deixando tão segura, tranquila e em paz, que o Alexandre mamou como nunca.

Saímos de lá em paz e confiantes.

Alexandre mamava quando e quanto queria, livre demanda, naturalmente.

Passou a dormir na nossa cama, sentia mais segurança, dormia melhor e consequentemente mamava muito mais. Comecei a usar o Sling, só deixava ele de fralda dentro da minha blusa, pele a pele, assim ficamos mais ligados um ao outro. Participamos do grupo de amamentação com a Andrea e aprendemos muito trocando experiências com outros pais. Segui todas as suas dicas e 1 mês depois voltamos para pesar o Alexandre que engordou 800g!
 
São tantas coisas que temos a agradecer ao Cacá e à Andrea, que nem conseguiríamos escrever aqui. Antes o nosso sofrimento era enorme, eu amamentava tensa, não conseguia me alimentar bem, era só medo e angustia. Nunca esqueço quando o Cacá percebeu meu desespero e disse que também é prazeroso ser mãe.  Desde que me tornei mãe, eu não sabia o que isso realmente significava até esse momento. Senti-me segura pela primeira vez com meu filho. Sabia que tudo daria certo. Foi muito importante ter alguém que me transmitisse essa segurança e tranquilidade. 
 
Alguém que atendeu nosso filho e não mais um bebê que estava abaixo das curvas. O peso de nosso filho ainda estava abaixo da curvatura, mas aumentava gradativamente, porém nunca mais sentimos a mesma insegurança. Entendemos que essa era a curva dele. Alexandre era muito agitado, se mexia bastante, tentava se arrastar, virava no berço desde os primeiros dias no hospital. Queimava muita caloria e até hoje, mesmo comendo de tudo, além da amamentação, com 1 ano de idade é assim. Se mexe o tempo todo, inclusive quando mama, pula, engatinha por todo lado, na piscina e na banheira bate pernas e braços o tempo todo. É acima de tudo, uma criança alegre, corada, vivaz, inteligente e podemos dizer com toda certeza, um bebê saudável e feliz. 
 
A natureza é perfeita, somos o resultado evolutivo que deu certo, mas às vezes precisamos que alguém nos olhe nos olhos e nos diga o óbvio para podermos seguir com segurança e tranquilidade.
 
Se alguém estiver passando por uma situação parecida e precisar conversar, pode entrar em contato conosco.
 
 
Lau e Paulo



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os normais e os malucos beleza

Foto: matéria

Há alguns dias, postei um texto aqui com o título auto-explicativo de "Hiperativa é o cacete! Meu nome é Zé Pequeno", onde contei um "causo" desses que vivo que me causam indignação. Aconselho que você leia, vai se divertir um bocado com a desgraça alheia. Naquele texto, eu digo que estava lendo muita coisa sobre medicalização para um seminário e que pensava numa postagem sobre isso.
 
Então esse texto aqui é justamente sobre isso, sobre a medicallização da vida. Questão que é, sem dúvida alguma, um dos temas que mais me interessam atualmente e que está diretamente relacionado à questão de respeito ao parto e nascimento e, também, à questão da saúde mental, as duas áreas que me fascinam.

Partindo do começo: o que é medicalização? 
Medicalização não é apenas esse péssimo hábito atual de usar medicamento para tudo e contra todos. Isso é medicamentalização, que também está inserido no contexto da medicalização, mas não somente.
 
Em termos muito simples, medicalização é tratar aquilo que é absolutamente normal na vida de um indivíduo como um problema de saúde e, consequentemente, como assunto de domínio médico.
 
Há uma quantidade imensa de exemplos que podem ser trazidos à tona.
Se uma pessoa está triste, diz-se que está com depressão. Se está alegre, está maníaca. Se varia entre os dois estados, está bipolar. Se tem vergonha de falar em público, tem fobia social. Se comeu muito, está com compulsão alimentar. Se está sem fome, virou anoréxico. Lavou 3 vezes a mão, então tem TOC. Isso apenas pra citar alguns poucos exemplos. 

O grave da questão da medicalização é que comportamentos rotineiros considerados indesejados passaram a ser classificados como problemas médicos. E, assim, tornaram-se passíveis de controle por meio de medicação. E, o que é pior, os indivíduos passaram a ser "normalizados", ou seja, comparados com uma pretensa "normalidade" que deveria existir.

O que é o normal? Normal seria aquilo que está na média, em termos de frequência numérica.

Mas quem disse que o que é frequente é normal? Cai-se, portanto, na questão discutida na postagem anterior, "
Quando o comum não é normal", em que falo sobre a violência obstétrica. Nem sempre aquilo que é comum pode ser considerado normal...

E, assim, vivemos em um mundo onde as pessoas buscam, freneticamente, ser normais, um estado fictício e ilusório. Milhares de pessoas no mundo buscando a normalidade... que nem sequer existe.
 
Com a medicalização tão comum das vidas, o modo de vida das pessoas foi apropriado pela ciência médica, que passou a interferir na construção dos conceitos, nas "regras" de higiene, nos costumes, nos comportamentos. E à medida em que a ciência médica se apropria da vida e dos corpos dos indivíduos, dizendo o que é o certo e o errado e orientando o indivíduo ao que ele DEVE fazer, diminui-se a autonomia da pessoa com relação ao seu próprio corpo, a aliena, desvaloriza e condena seu próprio estilo de vida e seus valores. As experiências humanas passam a ser vistas como problemas. Todo mundo deve se comportar da mesma maneira, em série.


Parei pra pensar nos aspectos da nossa vida atual que sofrem influência medicalizante direta. E tomei um grande susto. Não há mais aspectos isentos disso. Consegui fazer uma lista, que começa antes mesmo da vida começar, e que termina com o fim dela. E é essa lista que quero apresentar aqui, chamando a todos para a leitura e reflexão sobre cada um desses itens. Nós vivemos, hoje:

a medicalização da concepção (com pessoas comprando kits de previsão da ovulação; monitoramento da temperatura corporal com termômetros cada vez mais sensíveis; paranóia dos check ups, das vitaminas, de diversos fármacos; gente dizendo para consultar um ginecologista que te possa orientar sobre as melhores posições sexuais para engravidar; um arsenal de procedimentos que tornam a vida tensa, sem graça, sem charme, mecânica e paranóica - o que é totalmente paradoxal para quem está tentando engravidar, que precisa estar tranquilo e relaxado)

a medicalização da gestação (tenha um ou dois obstetras de confiança, tome vitaminas, reforce a quantidade de hormônios, faça inúmeras ultrassonografias, consulte um nutricionista, marque um psiquiatra, use antiácidos, antiespasmódicos, antieméticos, procure com antecedência um pediatra, marque sua cesárea, cuidado com diabetes, hipertensão, pré-eclâmpsia - uma enxurrada de orientações que geram na gestante a falsa sensação de que o que ela está vivendo não é natural, não é normal e, sim, é arriscado, é uma quase-doença, digamos assim...)

a medicalização do parto e puerpério (lugar de parto é no hospital, ou seja, o parto deixou de ser algo natural para ser algo arriscado; ao invés de se pensar no parto como sendo vida, se pensa, antes, no parto como algo que pode levar à morte; os procedimentos envolvidos no parto remetem, todos, a uma concepção medicalizada; a ocitocina de praxe - o famoso "sorinho"; a anestesia de rotina; a episiotomia de rotina; a presença de diferentes tipos de médicos; a noção equivocada de que quem faz o parto é o médico, como se o parto fosse algo extra-mulher, que ela não teria capacidade para fazer sozinha; entre tantos outros aspectos)

da amamentação (amamentação também deixou de ser algo natural; muitas mulheres têm saído das maternidades com a prescrição de NAN ou outros leites artificiais sem ao menos serem orientadas a amamentar; amamentação virou caso médico, com médicos dizendo quando se deve desmamar uma criança ou quais os melhores horários para se amamentar, decisões que dizem respeito somente à mãe e à criança e sobre as quais nenhum médico tem direito ou conhecimento de causa para opinar, uma vez que cada dupla mãe-filho é absolutamente singular)

da alimentação (consulte um nutricionista, marque uma consulta com seu nutrólogo e outros especialistas, tome vitaminas para complementar; os transtornos alimentares, o muito ou pouco apetite e os estimulantes ou inibidores)

da educação (como se todas as pessoas fossem dotadas das mesmas habilidades de aprendizagem, quem apresenta diferenças é rapidamente classificado como portador de algum transtorno, que vai desde o tão pop transtorno de hiperatividade e déficit de atenção até a dislexia, passando por ínúmeras dificuldades de aprendizagem, nunca considerando as diferenças individuais naturais)

dos afetos (vide exemplos que mencionei no início do texto, quando tristeza é depressão, alegria é mania e a alternância é bipolar; o amor agora pode ser patológico; o vínculo pode ser interpretado como sendo causado apenas por um hormônio; tristeza não pode haver; alegria demais é patológica)

das personalidades (não existem mais "pessoas diferentes", existem "distúrbios de personalidade"; os fóbicos sociais, os impulsivos, os hiperativos, os apáticos, os maníacos)

da beleza (a ninguém mais se permite estar fora do peso, ou o surgimento de algumas rugas; procedimentos invasivos são feitos; seringas são usadas, agulhas são inseridas, toxinas injetadas, e se torna praticamente questão de saúde não querer seguir a onda esmagadora em busca da beleza)

da sociabilidade (não se pode mais ser tímido, há que se medicar para facilitar as relações sociais; não se pode ser muito extrovertido, essa pessoa será rapidamente taxada de bipolar, esquizo ou maníaca; ser mais ou menos sociável deixou de ser uma característica de personalidade, se tornou problema médico)

do trabalho (LER's - lesões por esforços repetitivos -, síndromes, como a de Bornout, depressões; quem trabalha pouco está deprimido; quem trabalha muito é workaholic; nada mais é normal também no âmbito da relações de trabalho e tudo virou caso de perícia médica)

das funções vegetativas (se você sua demais, precisa de uma cirurgia corretiva; se sente muita sede, está com alterações orgânicas; se vai ao banheiro dia sim, dia não, sofre de constipação, independentemente de suas características orgânicas individuais, entre outros inúmeros exemplos; quem não se comporta como livro-texto, está doente ou com alguma alteração metabólica)

da longevidade (é praticamente considerado crime hoje o fato de você se permitir envelhecer naturalmente; as pessoas estão sempre em busca da pílula da imortalidade; inúmeros medicamentos; a obrigatoriedade da atividade física como lei para viver mais; tudo para prolongar a sua vida, ainda que não se pense tanto assim em sua qualidade)


Para quem é mãe, existe ainda a questão da medicalização da maternidade, mas sobre isso quero falar especificamente em outro momento, embora eu cite um exemplo logo abaixo.
A questão é: ao aceitar essa medicalização, nos tornamos ordinários. Ordinários no sentido de comum, habitual, vulgar, frequente, que não ultrapassa o nível comum. E, creia, não é bom ser assim...


Minha filha Clara, que tem hoje 1 ano e 4 meses, voltou a andar sozinha na semana passada. Ela, que aprendeu a andar há mais de 2 meses, havia parado quando nos mudamos de casa e voltado a engatinhar. Talvez por ter estranhado a mudança, preferiu segurar a onda e observar o ambiente um pouquinho mais. Agora, ela ganhou o mundo! Passa o dia indo de lá pra cá e de cá pra lá. Mas até isso acontecer, tive que vencer toda essa força que nos leva a ver tudo como problema, ignorando que todos "temos nosso próprio tempo", como dizia aquela música, e tentando "normalizar" todo mundo.


Muitas pessoas me pressionaram, sugerindo sutilmente que talvez fosse bom levá-la ao médico para ver se havia realmente "algum problema" com ela, já que "o normal" é que as crianças comecem a andar antes desse tempo. E eu, que sou bem resolvida quanto a essas coisas, caí na armadilha: peguei-me inúmeros dias questionando e levantando a possibilidade de que algo estivesse errado, a ponto de chegar a marcar um médico (sim, minha culpa, minha máxima culpa). Felizmente, um dia caí em mim, recuperei a sanidade, vi o ridículo da situação, cancelei o médico, mandei tudo e todos às favas e deixei minha filha e sua vontade ou não de caminhar em paz. Se ela quisesse começar a caminhar só com 2 anos, assim seria, e eu ia curtir mais um tempão o bundão dela engatinhando pela casa como uma bonequinha de corda.


Chegou ao cúmulo da seguinte situação. Num final de tarde, eu a levei para tomar um banhinho de mar aqui pertinho de casa. Peguei na mãozinha dela e ela foi caminhando comigo até a água. Nisso, chegou uma outra mãe com sua filhinha de 11 meses, toda caminhante. E disparou contra nós:

- Nossa, mas com 1 ano e 4 meses ela ainda não anda sozinha?! Mas tá muito tarde. Será que ela está com algum problema?

- Não, companheira, não está com problema não. É o tempo dela. Cada bebê reage de uma maneira aos estímulos.
- Ah não, tem alguma coisa errada aí.

Respirei fundo e calei-me.

Nisso, Clara, feliz por estar na água, começa a dizer: Mamãe, mamãe, mamãe.

E a pitaqueira:

- Nossa! Ela já fala?

- Sim, ela já fala algumas coisinhas.

- Ai, mas não é cedo demais?!

Aí deu pra mim.

- Querida, que livro você anda lendo?

- Ah, nenhum, eu não gosto de ler.

- Não gosta?! Será que você não gosta mesmo ou está com algum problema? Eu, se fosse você, procurava uma orientação, vai que você está com dislexia, né?

E ela, assustada:

- Ai, será?!

- Não. Claro que não. Você apenas prefere fazer outras coisas a ler. Cada um é de um jeito, cada um tem seu tempo, não dá pra gente generalizar.

- Ah... entendi. É, deixa a sua filha, logo ela vai caminhar. Capaz que você leve ela no médico e ele arrume mesmo um problema. Que bom que ela ainda passeia de mão dada com você, a minha não quer mais, só quer andar sozinha...


Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual...

... eu sigo assim, meio maluco beleza.

Eu prefiro ser livre a ser normal.



Fonte: http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2011/12/os-normais-e-os-malucos-beleza.html

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mães sozinhas

Foto: google / imagens
Tradução do texto de LAURA GUTMAN para o Português de Natalia Salvo
 
Somos muitas no mundo, as mães que criamos sozinhas nossos filhos, ou seja, sem conviver com mais ninguém além da criança. A maioria de nós a princípio não desejou esta situação, e frequentemente a assumimos sem saber muito bem como nos arranjaríamos. Pode ser que tenhamos engravidado estando em uma relação ocasional e, mesmo assim, sentimos que por algum motivo misterioso, esse ser tinha sido gerado e estávamos em condições de abrigá-lo, nutri-lo e levar adiante a gravidez e o parto. Ou de repente pode ter acontecido que a gravidez tenha sido planejada dentro de um relacionamento estável, mas o projeto de continuar juntos não seguiu adiante e portanto, assumimos continuar com a gravidez apesar da perda do homem amado, a dor ou o desamparo. Em muitas outras ocasiões, quem sabe sejam as mais frequentes ocorrem uma separação ou um divórcio com os filhos já nascidos. Pode acontecer do pai abandonar definitivamente a cria, por diversos motivos, e as mães não só assumam a criação, mas também a sobrevivência dos filhos, no sentido econômico da questão. A maioria das mulheres, ainda em situação de risco, de falta de dinheiro ou de maturidade emocional, ou mesmo na solidão, permanece com seus filhos.
 
Para abandonar uma criança, o desespero, o fato de nos sentir à beira de um abismo, a solidão extrema e o medo inundaram nossas vidas. Em compensação, se temos o mínimo de consciência de nossas capacidades de nutri-lo, se temos confiança em nós mesmas e principalmente, se recebemos de alguma forma apoio e acolhimento, permaneceremos com nosso filhos ainda que seja em condições muito desfavoráveis.
 
A solidão é, quiçá, o pior panorama para criar uma criança. No entanto, mais além de todas as dificuldades reais e muito concretas, ser uma “mãe sozinha” tem sim, algumas vantagens. A principal vantagem é que sabemos que estamos sozinhas. E os outros também sabem disso. O fato de que a solidão seja palpável e visível, nos permite pedir ajuda a quem estiver ao nosso redor com relativa facilidade. Este fato, que aparenta ser uma obviedade, não é quando estamos vivendo com alguém. Às vezes, o sentimento de solidão é imenso estando dentro de um casamento, mas nesses casos não é fácil reconhecê-lo, nem muito menos que o nosso entorno nos entenda como alguém sozinho e necessitado de receber companhia e apoio.
 
Quando criamos nossos filhos sozinhas, e além disso, quando trabalhamos porque somos as únicas provedoras do dinheiro, não temos outra opção a não ser contar com os outros. Algumas mulheres recebemos apoio de nossas famílias, onde o apoio se constitui naturalmente: podem ser nossas mães ou nossos pais que estejam presentes, que ofereçam ajuda econômica ou inclusive, na sua função de avós, cuidem diretamente das crianças. Às vezes tem uma irmã que atua como um apoio, um grupo de amigas solidarias, ou uma rede laboral que equilibra a solidão e a resolução de problemas domésticos. Há circunstâncias onde não temos condições de pagar uma ajuda doméstica ou um berçário muitas horas por dia. Ou existe uma madrinha da criança que se compromete uma vez por semana a cuidar dele. O chefe no trabalho se torna especialmente solidário porque sabe que somos uma “mãe sozinha”. Nossas amigas se organizam os finais de semana, nos convidam a reuniões e preparam as comemorações de aniversário de nossos filhos. Longe disso ser uma situação ideal, mas resgatemos o fato de que a “solidão” é clara para todos, principalmente para nós mesmas. E dada esta clareza, podemos atuar logo na sequência.
 
Quase todas as pessoas se tornam solidárias com uma mãe sozinha que cria seus filhos, porque todos podemos imaginar o enorme esforço que isso demanda, além dos obstáculos que tem na vida cotidiana uma mãe que precisa cumprir a diversidade de papeis, e para que as crianças estejam bem cuidadas e bem atendidas. Essa solidariedade coletiva, é possivelmente, uma das principais vantagens. E se essa é a nossa realidade, vale a pena considerá-la.
 
Há também outras vantagens menores: quando o bebê é pequeno, as mães podem ter – se forem emocionalmente capazes – toda a disponibilidade afetiva para a criança. Isso porque não haverá demanda por parte do companheiro, de atenção para ele: nem de cuidados, nem ter que ouvi-lo, nem requerimentos domésticos. Ou seja, se formos capazes de nos fundir nas demandas e necessidades do outro, será completamente em benefício da criança pequena, em vez de nos dividir entre os pedidos de uns e outros. Este também não é um ponto menos importante – ainda que não estejamos acostumadas a falar abertamente sobre as ambivalências na hora de atender nosso companheiro – quando ele reclama atenção e carinho, enquanto o pequeno bebê aguarda sua vez. Este “esgotamento” que sentimos quando desejamos satisfazer as necessidades alheias, costuma ser frequente quando estamos acompanhadas, e muito mais leve quando nos ocupamos ”somente” do bebê.
 
Outro fato que se dá muito mais naturalmente quando estamos sozinhas, é o se deixar fluir no contato corporal com a criança, principalmente à noite. Quando o cansaço nos aflige, quando somente queremos dormir e não temos mais forças, quando a criança chora pedindo contato e carinhos… e então não há ninguém para nos dizer o que é certo fazer, e o quê não se deve fazer. Não há ninguém para opinar a favor ou contra, ninguém para dar conselhos, ninguém para ajudar – mas ao mesmo tempo, ninguém para colocar-se no meio disso tudo. Simplesmente deitamos na cama com a criança em nossos braços, tentando dormir o quanto antes. Isso com a criança agarrada em nosso corpo e sem incomodar ninguém.
 
Parece uma obviedade, mas não é. A maioria de nós, mães que vivem acompanhadas e querem tentar dormir de noite, trazem seus filhos para a cama e se deparam frequentemente com a negação do companheiro, seja por se sentir prejudicado, ou por medo, por incômodo ou por sentir que não é parte desse vínculo. No entanto, as mães sozinhas – em circunstâncias semelhantes – podem decidir unilateralmente a melhor maneira de atravessar as noites, que – isso todas nós sabemos – podem constituir a parte mais dura da criação de nossos filhos.
 
É lógico que estar sozinha na criação e na vida cotidiana não é maravilhoso. Todos precisamos de uma companhia, interação e diálogo. Ainda mais se estamos criando filhos pequenos. Por isso, se temos alguém, nos veremos na obrigação de imaginar outros tipos de apoio e ajudas, para que nossa experiência maternal seja o mais feliz possível, e para que as crianças recebam o amor e o acolhimento que merecem.
 
Pessoalmente, acredito que a melhor opção quando não há um companheiro ou alguém que dê apoio, é a rede de mulheres. Tenho certeza que fomos criados como espécie de mamíferos para viver em comunidade, e que ao longo da história constituímos tribos ou aldeias para compartilhar a vida. Hoje em dia os centros urbanos se converteram no pior sistema para criar as crianças, já que as mães estão cada vez mais sozinhas e isoladas, portanto as crianças têm poucas pessoas às quais recorrer em seus rituais cotidianos.
 
Precisamos reinventar um esquema antigo, mas com parâmetros modernos, sempre que haja um conjunto de mulheres criando filhos. Não importa quantas, já que uma só mãe não consegue criar uma criança. Mas cinco mães juntas podem criar cem crianças. O segredo está no conjunto, na solidariedade, na companhia e no apoio mútuo.
Nenhuma mulher deveria passar os dias sozinha, com uma criança nos braços. A maternidade é fácil quando estamos acompanhadas. Não julgadas, nem criticadas, nem aconselhadas. Simplesmente junto de outras pessoas, e na medida do possível, junto de outras mulheres que estejam experimentando o mesmo momento vital. Quando as mulheres estão trocando conversas, brincadeiras, choros ou lembranças com outras mães, resulta muito mais leve permanecer com nossos filhos.
No entanto, se estamos sozinhas, acreditamos que não somos capazes, e supomos que deveríamos deixar as crianças aos cuidados de outras pessoas para poder “ocupar-nos de nós mesmas”. Frequentemente não percebemos que o problema está na solidão de permanecer junto à criança. Não em nossa incapacidade de amá-los. Por isso, insisto: é responsabilidade das mulheres reconhecer que precisamos voltar a nos reunir, que se funcionamos coletivamente e dentro de círculos femininos, a maternidade pode resultar em algo muito mais suave e doce. E que uma “mãe sozinha” é aquela que não é compreendida, apoiada, nem incentivada, ainda que ela conviva com muitas pessoas. E “mãe acompanhada” pode ser uma mulher que não tenha alguém a seu lado, mas que, no entanto, conte com o aval de sua comunidade.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O impacto do amor

Arquivo: Vivi e o Ravi
Crianças que recebem mais carinho podem se desenvolver melhor

Por Marcelo Theobald

A forma como o bebê é tratado pela mãe nos seus primeiros anos de vida poderá determinar se seu cérebro terá um bom funcionamento. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) comparou os cérebros de duas crianças de três anos de idade: de um lado, bem tratada por seus familiares, principalmente pela mãe; e de outro, negligenciada. O resultado da pesquisa mostrou que no caso da mãe que deu amor, carinho e se comportou como totalmente responsável pelo bebê, o cérebro dele cresceu plenamente. Enquanto que no caso oposto, quando a criança sofreu abuso ou foi maltratada, o cérebro mostrou-se menor e com pontos mais escuros, indicando que é menos desenvolvido.

— O desenvolvimento do circuito cerebral depende potencialmente de uma interação positiva entre a mãe e o bebê — apontou o professor do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da UCLA, Allan Schore, ao jornal britânico “The Telegraph”.

De acordo Schore, isto ocorre porque 80% das células cerebrais se desenvolvem na faixa dos 2 anos de idade, e se o processo de formação de conexões (sinapses) for prejudicado ou não for estimulado, o déficit poderá ser permanente. Ele ressalta que o bebê maltratado poderá ter sua inteligência afetada. Além disso, poderá crescer com menos empatia para com outras pessoas, mais propensão a ser viciado em drogas e a se envolver em crimes violentos. Ele ainda terá mais chances de ficar desempregado com frequência e de ter problemas de saúde e mentais. Esta descoberta, segundo o pesquisador, poderia ser um dos fatores a explicar, por exemplo, por que algumas gerações de famílias tendem a enfrentar um ciclo difícil de quebrar de falta de escolaridade, desemprego persistente, pobreza, vícios como o de álcool e drogas, assim como o envolvimento em crimes.

Maior risco de ansiedade e depressão

Em janeiro deste ano, a Escola de Medicina da Universidade de Washington publicou o primeiro estudo mostrando mudanças na anatomia cerebral no caso de crianças que tinham sido negligenciadas por seus pais. A pesquisa, publicada no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences” (Pnas), apontou que crianças que foram bem cuidadas por suas mães nos primeiros anos de vida tinham o hipocampo do cérebro maior. Essa estrutura é fundamental para o aprendizado, a memória e a resposta ao estresse. Neste estudo, os pesquisadores analisaram as imagens dos cérebros de 92 crianças, revelando que aquelas que tinham recebido afeto e sido bem alimentadas tinham o hipocampo 10% maior que as crianças cujas mães tinham sido negligentes.

Chefe da psiquiatria infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro, Fábio Barbirato lembra que desde o século XVII estudos vêm tentando relacionar o desenvolvimento cerebral com o carinho dos pais. Ele lembra que já em 1621 o médico americano Richard Button apontou que crianças negligenciadas tinham mais propensão a sofrer de depressão e ansiedade. Barbirato diz que os trabalhos ainda são inconclusivos, mas que este é um conhecimento já intuitivo da comunidade científica.

— Nada foi de fato comprovado, porque os estudos são ainda pouco amplos, foram feitos com um número reduzido de pacientes. Mesmo assim, na prática clínica, isto já é verificado. E em palestras já costumamos ressaltar para as mães a importância de cuidar bem de seus filhos — explicou Barbirato. — A nossa preocupação é, por exemplo, com as mães usuárias de crack ou com as crianças que perderam os pais.

Segundo o psiquiatra, a criança que não for bem tratada poderá, no futuro, apresentar, além de depressão e ansiedade, dificuldade de aprendizado e de relacionamento com outras pessoas. Barbirato explica que até os 5 anos o córtex pré-frontal ainda não está totalmente formado. E a falta de estímulos, como o carinho, pode prejudicar este crescimento.

— Até esta idade, estão se formando muitas sinapses no córtex pré-frontal. E seu desenvolvimento precisa de estímulos, que vêm do afeto — afirmou.

Fonte: http://oglobo.globo.com/saude/o-impacto-do-amor-

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Como acalmar um bebê choroso?

por Soluções para noites sem choro.

Uma vez que causas fisiológicas da cólica, como alergia ao leite ou obstrução intestinal são raras, os médicos muitas vezes sugerem mudanças comportamentais para ajudar os pais a lidarem com o choro excessivo do bebê. Os pediatras costumam sugerir alterar os horários das mamadas, embalar o bebê e mudar de posição. Eles sugerem distrair o bebê com sons ou imagens - passear de carro ou ligar uma música. E pesquisas mostram que algumas técnicas funcionam melhor que outras. Mais interessante é notar que alguns bebês acalmam-se mais facilmente que outros.

A prática mais recomendada é sugar, seja o seio, a mamadeira ou a chupeta. E mesmo assim pesquisas mostram que a gratificação oral ou o estômago cheio não são fatores decisivos.

Uma série de estudos com macacos feitos por Harry Harlow mostrou que, tendo escolha, um bebê macaco infeliz escolhe o conforto de uma boneca coberta por tecido macio a uma boneca de metal que fornece leite e a chance de sugar.



O que parece funcionar melhor é o contato humano. Peter Wolff, há muito tempo, demonstrou que pegar um bebê no colo funciona melhor que qualquer outra coisa para acalmar o choro.

Em outro estudo, os pesquisadores Bell e Ainsworth mostraram com uma amostra de 26 bebês que a resposta rápida e consistente da mãe ao choro está associada com uma diminuição na duração do choro do bebê.

Hunziker e Ronald Barr fizeram um teste com bebês que eram segurados no colo por tempos diferentes para ver se isso tinha ou não influência no tempo de choro. Eles recrutaram um grupo de pais e de bebês e pediram que metade carregasse o bebê no colo pelo menos por 3 horas por dia, fora o tempo das mamadas. Os outros foram orientados a não segurar os bebês por mais tempo do que o de costume. Quando os bebês tinham 12 semanas de vida, as mães trouxeram as informações que anotaram nos seus "diários de choro". Os pesquisadores notaram que as mães-controle carregaram os bebês em média 2.7 horas por dia e as mães do teste que seguraram os filhos em média 4.4 horas por dia, um aumento de somente 1,7 horas diárias. Os diários de choro mostram que durante o período de pico de choro (8 semanas de vida), os bebês dos dois grupos choraram com a mesma freqüência, mas aqueles que ficaram no colo por mais tempo choraram 43% menos na duração de cada episódio de choro. A freqüência do choro era a mesma, mas a duração caiu quase pela metade.

Interessante notar que, quando o mesmo procedimento foi tentado com bebês já rotulados como tendo "cólica", não fucionou tão bem. Os bebês não choraram menos. Talvez ser segurado no colo por mais tempo tenha mais efeito quando ocorre desde o nascimento.

Embora o tipo de leite e o total de leite administrado não pareçam afetar dramaticamente o choro do bebê, o tempo da mamada e a forma como a mamada é feita parecem ser de extrema importância para contornar o choro.

Comparando membros da La Leche League, que consiste de mulheres devotadas à amamentação em demanda com um grupo de mães que seguem um esquema tradicional americano de amamentar por horários estabelecidos (com horas entre uma mamada e outra), Barr e seus colegas exploraram a possibilidade de que o tempo entre as mamadas pode ter um efeito no choro.

Observando os dois grupos em casa e através dos diários do choro (escritos pelas mães), Barr e Elias descobriram que os bebês mais quietos eram aqueles alimentados em curtos intervalos e cujas mães respondiam prontamente ao seu choro. Muito interessante é que efetiva é a combinação entre mamada e resposta e não somente mamada. Todos os bebês das mães que davam de mamar em intervalos curtos mas eram lentas ao responder ao choro choravam muito. Em outras palavras, não é só a disponibilidade constante do leite que faz um bebê feliz, mas uma mãe que está engajada e responde prontamente ao chamado dele.

O que os bebês mais precisam, ou o que parece diminuir seu choro, é um pacote de cuidados que coloque seu mundo em ordem. E alguns bebês parecem chorar mais alto que os outros quando seu mundo está fora de ordem."

Tradução de Flávia O. Mandic

Do livro: Our Babies, Ourselves. De Meredith F. Small

 
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