terça-feira, 24 de setembro de 2013

Por quê bebês novinhos “confundem o dia com a noite”







Hoje vamos falar sobre como os ciclos de luz e escuridão afetam o sono dos bebês em idades variadas. Entender como estes ciclos afetam o padrão de sono dos bebês vai ajudar vocês a entenderem outro motivo pelo qual recém-nascidos acordam tanto durante a noite (Peirano 2003) 

Nos adultos, o tempo de dormir e despertar é regulado por dois relógios internos: um que responde ao ciclo de luz e escuridão e outro que é baseado na necessidade de sono que se constrói durante o tempo acordado. O relógio que responde ao ciclo de luz e escuridão é localizado no cérebro e usa hormônios para regular a atividade e o sono a cada período de 24 horas. Esse sistema é chamado de ritmo circadiano. Os ritmos circadianos não estão funcionando nos recém-nascidos e essa é uma coisa boa porque eles precisam acordar tanto de dia quanto de noite para serem alimentados e cuidados e assim crescerem bem e permanecerem saudáveis. 

Quando o ritmo circadiano se desenvolve: “meu bebê troca o dia pela noite!” 

Você deve ter ouvido (ou vivido!) sobre os padrões de sono erráticos dos recém-nascidos. Parece que eles “trocam” o dia pela noite. É verdade! O padrão de sono de um bebê novinho não segue o ciclo de luz e escuridão (desperto durante o dia e adormecido à noite) como os adultos. O padrão de sono dos bebês não começa a seguir esse ciclo antes de umas 6 semanas de vida e ele só se estabelece completamente entre as 12 e 16 semanas de vida. Isso não significa que você deve esperar que eles durmam a noite toda quando tiver 16 semanas. Isso significa que você vai começar a ver um padrão mais claro de estar desperto durante o dia e ciclos mais longos de sono durante a noite quando ele tiver entre 12 e 16 semanas de vida. (Peirano 2003, Heraghty 2008) 

Apesar de não haver como apressar esse processo, existem algumas coisas que podem influenciar o quão rápido o bebê desenvolve o ritmo circadiano após as primeiras 6 semanas. O tipo de alimentação (leite materno ou artificial), a luz do ambiente (luzes acesas na casa durante a noite) e o sexo do bebê podem influenciar esse desenvolvimento. Um estudo constatou que bebês amamentados, primeiros filhos e meninas desenvolvem o ritmo circadiano antes de outros bebês (mas ainda havia um leque amplo de 8 a 16 semanas). (Mirmiran 2003) 

Como trabalhar com o ritmo natural do seu bebê 

Aqui estão algumas dicas para você trabalhar com (em vez de contra) o ritmo natural do bebê

1. Mantenha o cômodo onde seu bebê dorme escuro à noite. Quando o seu bebê acorda à noite, mantenha as luzes baixas ao cuidar de suas necessidades, como fome ou trocas de fralda. 

2. Exponha o seu bebê à luz natural durante o dia. 

3. Siga uma rotina regular de hora de dormir que envolva desacelerar o ritmo à noite, incluindo diminuição de luz e de ruído. 

As primeiras 6 semanas do bebê são especialmente desafiadoras: aprender sobre o padrão de dormir e acordar dos bebês pode ajudar a entender porque ele não segue um horário regular. Você vai precisar de ajuda durante esas semanas quando você estiver com déficit de sono e ainda assim precisar cuidar de outras tarefas. O seu bebê vai acabar aprendendo que a noite é para dormir. 


Tradução de Bel Kock Allaman 



Saiba mais:










quinta-feira, 13 de junho de 2013

Que pressa é essa?

Imagem: Google 

Por Rosely Sayão - Publicado em 11/06/2013 - Folha de São Paulo

Tenho recebido muitas mensagens de mães e de pais com dúvidas sobre qual é a melhor época para começar a tirar as fraldas dos filhos e como dar o primeiro passo. Vamos conversar a esse respeito, já que essa parece ser uma questão aflitiva para quem tem filho pequeno.

Uma mãe me escreveu dizendo que ela gostaria de esperar a filha dar sinais de que está pronta, mas a escola a chamou para informar que eles já vão começar a tirar a fralda e a instruíram sobre o que ela deve fazer em casa.

Uma leitora, cujo primeiro filho tem agora dois anos, conta que não aguenta mais ouvir tanta gente perguntar quando ela vai tirar a fralda do garoto. Por outro lado, uma avó confidencia que acha os métodos atuais para ensinar a criança a ir ao banheiro inadequados. São boas as questões, não? Então vamos a elas.

O que eu li, nas linhas e nas entrelinhas das mensagens desses pais, é que eles se sentem pressionados. Fiz até uma comparação entre eles e quem tem filhos em época de entrar em faculdade. Parece, caro leitor, que são os pais que estão em prova nesse momento. Vamos manter a calma porque, nos dois casos, trata-se da vida dos filhos e de situações que eles devem resolver --com a nossa ajuda, claro!

Não há tempo certo nem para começar nem para terminar esse processo; não há método mais ou menos adequado; não há receita. E sabe por quê? Porque não se trata apenas de controlar alguns músculos do corpo para conter o xixi ou o cocô; trata-se também de desenvolvimento pessoal, disponibilidade para o crescimento, tipo de relacionamento com a mãe e muito mais.

A criança costuma dar sinais claros de que ela quer aprender a usar o banheiro. Os pais não precisam se preocupar tanto. O que não podemos é antecipar o processo. Recentemente eu assisti a uma reportagem em que pais colocavam o filho de meses para fazer xixi fora das fraldas. Será que essa criança irá debutar --me perdoe usar esse conceito antigo-- aos cinco anos? Que pressa é essa? Vamos respeitar o desenvolvimento de nossas crianças!

Bem, mas quando a criança costuma dar esses sinais? Quando já controla melhor os músculos de seu corpo, o que podemos observar, por exemplo, quando ela consegue correr ou subir alguns degraus de escada. Além disso, quando ela se interessa pelo uso do banheiro.

Talvez esse seja o melhor indicativo para iniciar o processo com a criança. Quando ela pergunta do uso do banheiro, pede para ir, quer ficar por lá mais tempo, por exemplo. Quanto mais natural for o processo, melhor para a criança.

Os pais não devem atrapalhar. Para isso, precisam munir-se de calma e paciência. A criança nem sempre vai acertar, e, mesmo depois de os pais acharem que ela já aprendeu, ela vai querer usar o banheiro quando tiver vontade, não quando os pais quiserem. E mais: ganhar prêmios por fazer a coisa que os pais julgam certa confunde a criança.

Esse é um momento importante, quando a criança conquista mais independência em relação ao seu corpo e adere de modo ativo ao estilo de vida adulto e de sua família.

Quando a criança se nega a largar a fralda, embora nada em seu organismo a atrapalhe, é interessante refletir sobre quais motivos ela tem para recusar o estilo de vida que ela observa em casa e na escola.


Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".




segunda-feira, 10 de junho de 2013

"Nós supervalorizamos a independência"

Crianças precisam de toque e atenção
Em tradução livre por Mamatraca

A prática americana do "deixa chorar" pode levar à mais medos e lágrimas quando as crianças atingem a fase adulta, de acordo com dois pesquisadores da Harvard Medical School.
Ao invés de deixar seus bebês pequenos chorando, os pais deveriam mantê-los próximos, consolar suas lágrimas e levá-los junto para suas camas, onde podem se sentir seguros, dizem Michael L. Commons e Patrice M. Miller, pesquisadores do departamento de Psiquiatria. 
A dupla examinou modelos de criação de filhos nos Estados Unidos e em outras culturas e diz que a amplamente divulgada prática Americana de colocar bebês para dormir em camas separadas, ou quartos separados dos pais, e não responder prontamente aos seu choro pode levar a incidentes de stress pós traumático e síndrome do pânico quando essas crianças atingem a idade adulta.
O stress precoce resultante da separação causa mudanças no esquema cerebral dos bebês pequenos que faz com que os futuros adultos se tornem mais suscetíveis à stress, dizem Commons e Miller.
"Pais precisam reconhecer que deixar os bebês chorando sem necessidade pode causar danos permanentes," diz Commons. "Altera o sistema nervoso, causando uma sensibilidade maior à futuros traumas."
O trabalho desses pesquisadores é único porque tem uma abordagem multi disciplinar, examinando as funções cerebrais, aprendizado emocional em bebês pequenos e diferenças culturais, de acordo com Charles R. Figley, diretor do instituto de Traumatologia na Flórida State University, e editor do "The Journal of Traumatology".
"É muito incomum, mas extremamente importante encontrar esse tipo de relatório multidisciplinar e interdisciplinar que que aborda as diferenças interculturais na resposta emocional das crianças, e suas habilidades para lidar com stress, incluindo stress pós-traumático." diz Figley
Figley diz que o trabalho dos pesquisadores de Harvard ilumina um caminho para estudos futuros, e pode ter implicações para um leque de práticas: desde os esforços parentais para estimular o desenvolvimento intelectual em bebês pequenos até a circuncisão.
Commons é palestrante e pesquisador do Medical School's Department's Of Psychiatry desde 1987 e membro do Department's Program in Psychiatry and the Law.
Miller é uma pesquisadora associada do mesmo programa desde 1994 e professora assistente de psicologia na Salem State College desde 1993. Mestra e Doutora em desenvolvimento humano pela Graduate School of Education.
O casal diz que as práticas americanas de cuidado com crianças são influenciadas pelo medo de que elas se tornem dependentes. Mas insistem que os pais estão no caminho errado: contato físico e conforto farão crianças mais seguras e mais aptas a desenvolverem relacionamentos adultos quando elas finalmente estiverem por conta própria.
"Nós super valorizamos a independência de forma que há efeitos colaterais muito negativos," diz Miller.
Ambos ganharam atenção em Fevereiro, quando apresentaram suas ideas no encontro anual da American Assiciation for the Advancement of Science's, na Philadelphia.
Commons e Miller, usando dados que Miller compilou, contrastou o modo americano de cuidado de infantes com outras culturas, em especial os Gusii do Kenya. Mães Gusii dormem com seus bebês e respondem prontamente ao seu choro. Mães Gusii ficaram contrariadas com o tempo que levava à mães americanas para atenderem ao choro de seus bebês, quando assistiram à videos expostos pelos pesquisadores.
O jeito que somos criados desde o nascimento dá cores à nossa sociedade. Americanos em geral não gostam de ser tocados, e orgulham-se de sua independência à ponto de isolamento, mesmo quando passam por momentos de stress ou dificuldade.
Apesar do senso comum de que bebês deveriam aprender a permanecer sozinhos, Miller diz que muitos pais "roubam," mantendo o bebê no mesmo quarto que eles, pelo menos no início. Depois disso, à partir do momento que aprendem a se locomover é natural que os próprios bebês procurem por si só os pais para segurança.
Pais e mães não deveriam se preocupar com esse comportamento como sendo algo negativo, ou ter medo de tratar bebês como bebês, dizem os pesquisadores. Pais precisam se sentir livres para dormir com seus filhos, carregá-los no colo, mantê-los por perto, e oferecer conforto imediato ao seu choro.
"Há outras formas de crescer e ser independente sem ter que passar por esse tipo de trauma." diz Commons. "Meu conselho é manter as crianças seguras, para que aprendam a escolher os riscos que querem correr quando crescerem."
Além de medo da dependência, a dupla confirma que outros fatores ajudaram a formar esse modelo de criação, incluindo o medo de que crianças em criação apegada interferem na vida sexual dos pais, e o medo dos médicos de que pais poderiam por exemplo sufocar seus filhos durante a prática de cama compartilhada. Em adição à isso, o crescente  progresso financeiro das famílias ajudou a criar casas com mais cômodos, com finalidade exclusiva de separar as crianças dos pais.
O resultado, dizem Commons e Miller, é uma nação que não gosta de cuidar pelas próprias crianças, uma nação violenta marcada por relacionamentos frouxos e distantes.
"Eu acho que há uma resistência real nessa cultura do cuidado à criança,"diz Commons. "Mas punição e abandono nunca foram formas de criar pessoas cuidadosas e independentes."




quinta-feira, 6 de junho de 2013

Bebês dormem em caixa de papelão na Finlândia

Bebês de todas as classes sociais dormem em caixas de papelão na Finalândia
Há 75 anos, todas as mulheres grávidas na Finlândia recebem um kit de maternidade do governo. O kit inclui uma caixa com roupas, lençóis e brinquedos, e a ideia é que a própria caixa seja usada como cama durante os primeiros meses de vida do bebê.

Muitos acreditam que o kit ajudou a Finlândia a alcançar uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil do mundo.

É uma tradição com origem na década de 1930, e desenvolvida para dar a todas as crianças na Finlândia um começo de vida igual, independente da classe social.

O kit de maternidade é um presente do governo, e está disponível para todas as gestantes.

Ele contém macacões, um saco de dormir, roupas de inverno, produtos de banho para o bebê, assim como fraldas, roupas de cama e um pequeno colchão.

Com o colchão no fundo, a caixa torna-se a primeira cama do bebê. Muitas crianças, de todas as classes sociais, têm seus primeiros cochilos dentro da segurança das quatro paredes da caixa de papelão.

Acompanhamento pré-natal para todos

As mães podem escolher entre receber a caixa, ou uma ajuda financeira, que atualmente é de 140 euros (390 reais), mas 95% optam pela caixa, pois vale muito mais.

A tradição começou em 1938, mas inicialmente o sistema só estava disponível para as famílias de baixa renda. Mas isso mudou em 1949.

"A nova lei diz que para receber o kit ou o dinheiro, as gestantes têm que visitar um médico ou uma clínica pré-natal municipal antes do quarto mês de gestação," disse Heidi Liesivesi, que trabalha no Kela, o Instituto de Seguro Social da Finlândia.

Na década de 1930, a Finlândia era um país pobre e a mortalidade infantil era alta - 65 em 1.000 bebês morriam. Mas os números melhoraram rapidamente nas décadas que se seguiram.

Mika Gissler, professora do Instituto Nacional para Saúde e Bem-Estar em Helsinque, acredita que o kit de maternidade e os cuidados pré-natal para todas as mulheres introduzido na década de 1940, um sistema de seguro de saúde nacional, e um sistema central da rede hospitalar na década de 1960 foram fundamentais para reverter essa situação.

As mães mais felizes do mundo

Aos 75 anos de idade, o kit é agora uma parte estabelecida do rito finlandês de passagem para a maternidade, unindo gerações de mulheres.

"É fácil saber em que ano os bebês nasceram, porque as roupas do kit mudam um pouco a cada ano. É bom comparar e pensar: 'Ah, aquele menino nasceu no mesmo ano que o meu'", diz Titta Vayrynen, de 35 anos, mãe de dois filhos pequenos.

Para algumas famílias, o conteúdo da caixa seria inviável se não fosse gratuito.

"Um relatório publicado recentemente dizia que as mães finlandeses são os mais felizes do mundo, e na hora eu pensei na caixa. Somos muito bem cuidados pelo governo, mesmo agora, que alguns serviços públicos sofreram pequenos cortes", diz ela.

O conteúdo da caixa mudou muito ao longo dos anos, refletindo a mudança dos tempos.

Símbolo de igualdade

"Os bebês costumavam dormir na mesma cama que os pais, e foi recomendado que esse costume acabasse", disse Panu Pulma, professor de História Finlandesa e Nórdica da Universidade de Helsinque. "Incluir a caixa no kit serviu como um incentivo para os pais colocarem os bebês para dormir separados deles."

Em um certo momento, mamadeiras e chupetas foram removidos para incentivar o aleitamento materno.

"Um dos principais objetivos de todo o sistema era fazer com que as mulheres amamentassem mais", diz Pulma,"e funcionou".

Ele também acha que incluir livros infantis teve um efeito positivo, encorajando as crianças a segurar os livros, e, um dia, lê-los.

Pulma acredita que a caixa é um símbolo. Um símbolo da ideia de igualdade, e da importância das crianças.



quarta-feira, 5 de junho de 2013

O não fazer pode ser tão técnico como o fazer!

Foto: arquivo
Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, pediatra e neonatologista.

Foi mágico em São José dos Campos/SP, um Simpósio de Humanização de Parto e Nascimento.

Pude falar pela primeira vez que a escolha informada de não pingar colírio, de não aspirar bebês e de não dar vitamina k injetável pode ser tão técnica quanto o de fazer. Quem inventou que humanização dos cuidados do bebê é isso?

Socorro! Tem tanta coisa maior.
Será que às pessoas não percebem que a sagração maior está em facilitar a construção de uma família?
Mas vamos lá!
Continuo na luta...

Minha paixão pelos bebês me deu um novo olhar sobre o nascimento. Entendo cada vez mais quantas sensações e emoções surgem para um bebê após o parto e como suas mães podem ficar envolvidas com este início de vida de seus filhos. Mulheres assustadas com suas emoções no pós-parto poderiam ouvir e aprender que o caminho para a construção de vínculo entre os dois pode passar por uma conexão mágica que ira permitir sentir o que seu bebe sente para compreender e ajudar melhor.as vezes nao sao emocoes tao prazerosas
portanto acho que quando surgem emocoes intensas no pos parto surge um forte vinculo entre os dois que merece ser celebrado, quando nao é combatido.
nasce uma mae, nasce um bebe, consagra-se o amor
isso nao é lindo?
irá permitir que seu bebê sinta para compreender e ajudar melhor. Às vezes não são emoções tão prazerosas portanto, acho que quando surgem emoções intensas no pós-parto surge um forte vínculo entre os dois que merece ser celebrado, quando não é combatido.

Nasce uma mãe, nasce um bebê!
Consagra-se o amor! Não é lindo?

terça-feira, 28 de maio de 2013

Bebês fazem leitura labial durante o processo de aprendizado da fala

As primeiras palavras do bebê podem não ser totalmente articuladas, mas são capazes de fazer qualquer pai e mãe chorar. E não é à toa, a fala é um complexo processo e envolve uma importante interação entre você e seu filho.
Um estudo realizado no Florida Atlantic University, nos Estados Unidos, por exemplo, acaba de revelar que para aprender a falar, a criança faz (imagine!) a leitura labial dos seus interlocutores. Isso significa, que seu filho não só escuta, como também presta muita atenção nos movimentos dos seus lábios quando você conversa com ele - algo que talvez você já tenha percebido.

Segundo a pesquisa, esse processo se inicia aos 6 meses de idade, quando a atenção do bebê deixa de estar voltada para os olhos e passa a ser dirigida à boca dos pais. Os cientistas chegaram a essa conclusão com a análise de 180 crianças expostas a gravações de vídeos, nos quais uma mulher dizia frases tanto na língua materna das crianças (no caso, o inglês), como em um idioma estrangeiro (no caso, o espanhol).
Nas falas em inglês, as reações dos bebes revelaram que aos 4 meses de idade, a atenção das crianças é focada nos olhos, aos 6, ela é dividida entre a boca e o olhar, já dos 8 aos 10 meses, a boca se torna o principal foco. Aos 12, a atenção volta novamente aos olhos.
Mas nas gravações em espanhol, todos os bebês se concentraram na boca durante a exibição das imagens. O que isso significa? Para os pesquisadores, esse resultado demonstra que as crianças precisam de informações extras quando ainda não reconhecem o significado dos sons, por isso, a importância da leitura labial no desenvolvimento da linguagem.

Ao ler os lábios, as crianças fazem um resgate na memória dos sons que já ouviram e que têm sentido para ela”,explica a fonoaudióloga Adriana Souza Martins.

Mais um motivo, destaca a especialista, para você buscar a interação com o bebê a fim de incentivar o aprendizado da linguagem, de forma que ele entenda que ao falar, pode satisfazer desejos e outras necessidades. “Ler ou contar histórias, cantar, brincar e conversar são ótimos meios de interação”, sugere Adriana. “Durante essas atividades, mostre os objetos, as cores, pessoas e seus respectivos nomes.” Assim, com o estímulo dos pais, logo ele vai perceber que, além de apontar os objetos, há maneiras mais fáceis de conseguir o que quer!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Programação Cultural

Clique na imagem para ampliar
Cia Pés Pequenos 
da Cooperativa Paulista de Teatro 
apresenta:

O Jardim de Caicara

Teatro para a primeira infância 3 meses à 3 anos


Teatro Distrital João Caetano
18 de maio a 02 de junho
sábados e domingos - 11h


Endereço: 
Rua Borges Lagoa, 650 - Vila Mariana - São Paulo - SP
(11) 5573-3774 / 5549-1744


Reservas somente por email:


Cia Pés Pequenos: (11) 3297-0456 / (11) 99616-7275

A alergia alimentar do João – meu relato

Marcella, Adriano e o João.

Depois que o João nasceu, nosso pediatra disse: “Bebês são muito perebentos, tá? Não se preocupem e nem queiram resolver isso, eles precisam se acostumar ao meio aéreo depois de tanto tempo mergulhados”. Logo vimos o João ficar perebento. E pela aparência, eram as famosas brotoejas. Mas depois veio um ressecamento na pele do rosto. Continuamos tranquilos, achando que aquilo não era nada. Éramos tão sossegados que nos esquecemos de marcar consulta de um mês pra ele. E na de dois meses descobrimos que havia algo errado. 

Cacá olhou pra ele e disse: “Isso está com cara de alergia alimentar”. Hein? Nunca tínhamos ouvido falar nisso. Ele só mamava no peito, muito e sempre, eu jorrava leite, e leite materno não é a coisa mais maravilhosa do mundo pra um bebê? Sim, é. Mas alguma coisa que eu comia e era repassada ao João por meio dele causava esses ressecamentos. E uma dor de barriga que eu já havia classificado como cólica de bebê, coisa normal, e medicado com luftal. Numa ligação, antes dessa consulta, já havíamos perguntado o que fazer e ele sugeriu que eu parasse de ingerir leite e derivados por uns dias. Na ocasião eu parei, por 4 dias, mas pra mim era tão difícil ficar sem meu café com leite de manhã, que isso eu tomava, achando que não faria diferença. 

Na consulta de dois meses, o pediatra nos disse, então, que eu precisava fazer testes com a minha alimentação, excluindo algumas coisas e depois retomando. Que tavez fosse bom começar com leite e derivados ou com algum alimento que eu ingerisse todos os dias, mas também tentar o gluten, os ovos, as castanhas e outros. Explicou que não adiantava eu cortar por apenas 4 dias, nem ingerir em pequenas quantidades. Que algumas alergias não são dose-dependentes, ou seja, são deflagradas mesmo com um pouquinho só do alérgeno. 

Lá fomos nós pra casa, meio assustados, achando tudo aquilo meio estranho. Nunca tínhamos ouvido falar daquilo. Mas comecei com os testes, pelo mamão – única coisa que eu comia todos os dias. Nada aconteceu. João continuava chorando, nervoso, sem conseguir dormir, com a pele super seca. Passei pro leite. Nada (ufa, era meu maior medo a essa altura, eu amo leite e queijos). Farinha branca. Ele pareceu melhorar um pouco. Gluten. Pronto, sentimos uma melhora considerável. Na consulta dos três meses, fomos animados, achando que o problema estava resolvido. Se foi um mês desafiador para pais recém-chegados ao mundo, vocês podem imaginar, então, pra um bebê também recém-chegado, cheio de coceiras (sendo que só descobrimos que coçava depois, quando ele já conseguia levar os bracinhos pra cabeça e pro rosto), dor de barriga, cansaço (porque não conseguia dormir). Eu o levava comigo para todo lugar, no sling, amamentava em livre demanda (como faço até hoje), tentando acalmá-lo. Mas eu também precisava de calma. Estava perplexa com tudo aquilo. E se já era chato escutar na rua as perguntas de gente que nem me conhecia (do tipo: “Nossa, o que ele tem no rosto????”), imaginem passar o dia tentando explicar pras pessoas queridas – visitas, parentes, amigos – o que o João tinha e porque eu não podia comer isso e aquilo. Que não, não tinha nenhum remédio pra ele tomar. Que não, não era melhor dar leite de fórmula. Que não, não existia nenhum exame de sangue definitivo que resolveria a situação. Que não, não era melhor consultar outro pediatra. Que não, aquilo não era normal de bebê recém-nascido e logo ia passar. Eu tinha vontade de chorar a cada pergunta e comentário, e me segurava. Ao menos no começo, eu ainda me segurava. Mas chegou uma hora em que parei de me segurar, porque não dei mais conta. 

Mesmo depois de identificarmos o gluten e de eu retirá-lo completamente da minha alimentação, o João piorou novamente. O ressecamento chegou a ponto de tomar as perninhas e bracinhos, além do rosto e da cabeça. Ele era todo vermelho. Não parava de berrar. E num dia assim, de crise, liguei pro Cacá e disse que precisava de um antialérgico urgente praquele momento. Ele me passou Polaramine e uma pomada pra ressecamentos mais sérios. Fui comprar na hora, enquanto pensava que aquilo era reação ao shoyu: eu havia comido nos três dias anteriores. 

Depois de alguns dias, o João melhorou um pouco, mas não sarou. Mesmo sem shoyu. Se antes chegou a dormir três horas seguidas à noite (nunca foi de dormir de dia nesse início), não ficava mais dez minutos de olhinhos fechados. Nem no berço, nem na nossa cama, nem no colo. Só duas coisas o acalmavam um pouco: o peito e um pandeiro que até hoje fica no quarto dele, apesar de não ser exatamente um brinquedo. Detalhe: Polaramine dá muito sono. Cortamos e percebemos que talvez o João estivesse reagindo ao próprio remédio. Seguimos com a medicação antroposófica que também já estávamos administrando e pareceu que ele melhorou um pouco. 

Cacá nos indicou uma médica antroposófica que fazia um exame no cabelo do alérgico e identificava alimentos que estivessem “em excesso” no organismo. E claro, como se tratava de antroposofia, ela dava atenção a questões emocionais de nós três. Pesquisei um pouco a respeito antes de marcar a consulta, que no começo achamos cara – e pensávamos que ainda poderíamos fazer mais testes de alimentação. Ouvi umas duas opiniões a respeito do exame e da médica e decidimos esperar mais um pouco. Mas as coisas só pioravam. Não conseguíamos curtir, porque estávamos sempre com sono, tristes, nervosos. Ouvíamos o João berrar mesmo quando ele estava quieto. Não aguentávamos mais falar do assunto. Não queríamos mais encontrar as pessoas. Eu já começava a ter reações irracionais, como sentir raiva do meu marido por ele ter histórico de alergia – porque eu não tinha, e muitas vezes essa tendência é hereditária. Mas fazia todo o esforço do mundo pra arejar minha cabeça, ia ao Cine Materna com ele, usava e abusava do apoio incondicional da minha mãe (mas até ela duvidava do diagnóstico do João, e ficava quieta na maior parte do tempo porque via como eu ficava arrasada de ter que falar no assunto). 

Marcamos a consulta com a dra. Regina. Saímos de lá com a certeza de que valia muito mais do que ela cobrou. Conversamos muito, falamos de tudo, fomos muito acolhidos. Fizemos o exame e saí de lá com uma lista enorme de restrições alimentares. Carne vermelha, feijões, uva, pêssego, leite e derivados, industrializados e muuuito mais. Apesar da tristeza, eu me sentia firme para tentar cortar tudo aquilo e, depois, voltar aos poucos com alguns itens. Confiei no tratamento, porque ela realmente parecia saber do que estava falando. E sabia. Mas nós sabíamos muito também, e mais, porque éramos os pais dele. E àquela altura não tínhamos essa consciência ainda. 

No mesmo dia liguei pro Cacá pra contar da consulta. E concluí que não valia a pena ficar sem leite e derivados. Eu já tinha certeza de que não era esse o alérgeno e, se pudesse ao menos mantê-lo na lista, sofreria um pouco menos. Ainda assim, eu aprendi a fazer leite de amêndoas e tomávamos, Adriano e eu, com gosto. 

Nos primeiros dias, apesar de já sofrer com as restrições (e de ter que falar pra minha mãe o tempo todo: “não mãe, não posso comer isso”), resolvi aprender com aquilo. Mudar nossos hábitos alimentares, experimentar coisas novas, acrescentar ao nosso cardápio semanal coisas que não consumíamos sempre. Troquei os feijões por lentilha (que eu adoro mas só comia no Ano Novo), o pão por tapioca, os industrializados por frescos. Minha diversão era buscar opções em mercados especializados, tentar adaptar receitas. A fome ainda era grande, por causa da amamentação. Então eu tinha muito que inventar. E minha mãe foi incrível: fez muitas receitas adaptadas para me agradar. Lembro do dia em que ela conseguiu fazer um bolo de chocolate com calda e tudo. Não tinha açúcar, industrializados, glúten (e acho que nem leite). Comi três pedaços, feliz da vida. O Adriano comia o que eu podia comer. Dizia sempre: “Estamos juntos nisso, Má. Vamos lá, vamos jamais era muita coisa de uma vez só. Passou uma semana e o João não melhorou nada. Eu, que já não podia nem ter vida social – porque tinha fome o tempo todo e só podia comer em casa, além de não querer mais falar do assunto com ninguém -, também não podia cozinhar o que mais gostava. Tomar um vinho. E nem assim via meu filho bem. Ninguém dormia. Se não fosse pelas minhas amigas Laura, Natália e Tatiana, que vieram em casa cozinhar pra mim um menu delicioso que eu podia comer – e pela Bianca, que me chamava pra ir na casa dela e fazia um almoço tão gostoso também, dentro da minha dieta – eu não teria tido nada de vida social nessa fase, mesmo. Cheguei a ir numa festinha infantil na qual a única coisa que eu podia consumir era água. 

Liguei pra médica e ela se surpreendeu por ele não ter melhorado nem um pouquinho. Sugeriu mais um medicamento antroposófico (ele já estava tomando vários e nós também). Não me lembro se eu dei, mas acho que não. 

Numa quarta-feira, hora do almoço, estava sozinha com o João. Acho que ele tinha uns três meses e meio, quatro (me perdi completamente nessa conta). Coloquei ele no carrinho para esquentar minha comida e ele começou a berrar. Eu comecei a sentir raiva dele. Ignorei o choro. Continuei esquentando a comida. Comi, com raiva, rápido, sem nem sentir o gosto. Ele berrando. Mandei uma mensagem pro Adriano: “Chega, pra mim não dá mais”. Ele ligou desesperado e disse que estava indo pra casa. Assim que ele entrou, eu saí da cozinha e fui pro quarto. João berrando. Eu estava meio que em um transe. Deitei e cochilei. O Adriano pegou o João e depois entrou no quarto perguntando se podíamos ir no Cacá. Ele tinha ligado lá. Eu não queria nem responder. Por mim, tanto fazia. Naquela hora, senti vontade de morrer. Juro. Era como se eu estivesse amarrada e sem previsão de ser solta. Como se o meu maior sonho, o da maternidade, tivesse se tornado um pesadelo horrível, no qual eu já tinha dificuldades de amar meu filho. Não queria mais acolhê-lo, queria apenas ser acolhida – em algum lugar bem distante dele. Não queria mais amamentá-lo. Não queria mais nada. 

Fui levada pro Cacá. Não tocava no João. Na sala de espera, me joguei no sofá segurando o choro. Assim que ele apareceu, me disse: “Essa é a Fernanda. Vocês podiam conversar”. Era a mãe do Tomás, que também sofria de alergia. Ali trocamos algumas ideias e contatos. Depois nos encontramos e descobri que aquilo era o mais importante para nós: trocar experiências. 

Na consulta, eu não falava. Até que, depois de alguma pergunta do Cacá, eu disse que não ligava pra mais nada. Ele me olhou sério e falou que era melhor eu buscar terapia. Que aquele discurso era depressivo e que eu precisava me cuidar. Falou pra eu parar com a dieta, devagar, reinserindo os alimentos aos poucos na minha rotina e observando as reações do João. Mas o glúten eu não retomaria. E nos mandou pra praia. 

Adriano ligou pro irmão dele, João Claudio, que nos emprestou a casa. Até hoje acho que ele nem imagina o quanto aquilo foi importante pra nós! Foram 4 ou 5 dias de alívio. O João seguia sem dormir (àquela altura só havia um jeito de dormirmos um pouco: nos revezando a madrugada toda, cada hora um com o João no braço), mas eu comi um brigadeiro. Olhamos o mar, ficamos em silêncio, falamos um monte, nos lembramos o quanto nos amávamos. O quanto desejamos aquele bebê, o quanto estávamos aprendendo com aquilo tudo. Tínhamos certeza da nossa força. Sabíamos que não tínhamos recebido aquilo tudo à toa. Era, certamente, porque dávamos conta de suportar. E pensávamos: tem tanta coisa pior… 

Infelizmente, a volta pra São Paulo era necessária. O Adriano, que tem sua empresa própria, já não trabalhava direito havia meses. E precisava estar presente. Estávamos bem melhores, mas o primeiro dia em São Paulo já foi mais difícil de novo. 

Mas era muita coisa de uma vez só. Passou uma semana e o João não melhorou nada. Eu, que já não podia nem ter vida social – porque tinha fome o tempo todo e só podia comer em casa, além de não querer mais falar do assunto com ninguém -, também não podia cozinhar o que mais gostava. Tomar um vinho. E nem assim via meu filho bem. Ninguém dormia. Se não fosse pelas minhas amigas Laura, Natália e Tatiana, que vieram em casa cozinhar pra mim um menu delicioso que eu podia comer – e pela Bianca, que me chamava pra ir na casa dela e fazia um almoço tão gostoso também, dentro da minha dieta – eu não teria tido nada de vida social nessa fase, mesmo. Cheguei a ir numa festinha infantil na qual a única coisa que eu podia consumir era água. 

Liguei pra médica e ela se surpreendeu por ele não ter melhorado nem um pouquinho. Sugeriu mais um medicamento antroposófico (ele já estava tomando vários e nós também). Não me lembro se eu dei, mas acho que não. 

Numa quarta-feira, hora do almoço, estava sozinha com o João. Acho que ele tinha uns três meses e meio, quatro (me perdi completamente nessa conta). Coloquei ele no carrinho para esquentar minha comida e ele começou a berrar. Eu comecei a sentir raiva dele. Ignorei o choro. Continuei esquentando a comida. Comi, com raiva, rápido, sem nem sentir o gosto. Ele berrando. Mandei uma mensagem pro Adriano: “Chega, pra mim não dá mais”. Ele ligou desesperado e disse que estava indo pra casa. Assim que ele entrou, eu saí da cozinha e fui pro quarto. João berrando. Eu estava meio que em um transe. Deitei e cochilei. O Adriano pegou o João e depois entrou no quarto perguntando se podíamos ir no Cacá. Ele tinha ligado lá. Eu não queria nem responder. Por mim, tanto fazia. Naquela hora, senti vontade de morrer. Juro. Era como se eu estivesse amarrada e sem previsão de ser solta. Como se o meu maior sonho, o da maternidade, tivesse se tornado um pesadelo horrível, no qual eu já tinha dificuldades de amar meu filho. Não queria mais acolhê-lo, queria apenas ser acolhida – em algum lugar bem distante dele. Não queria mais amamentá-lo. Não queria mais nada. 

Fui levada pro Cacá. Não tocava no João. Na sala de espera, me joguei no sofá segurando o choro. Assim que ele apareceu, me disse: “Essa é a Fernanda. Vocês podiam conversar”. Era a mãe do Tomás, que também sofria de alergia. Ali trocamos algumas ideias e contatos. Depois nos encontramos e descobri que aquilo era o mais importante para nós: trocar experiências. 

Na consulta, eu não falava. Até que, depois de alguma pergunta do Cacá, eu disse que não ligava pra mais nada. Ele me olhou sério e falou que era melhor eu buscar terapia. Que aquele discurso era depressivo e que eu precisava me cuidar. Falou pra eu parar com a dieta, devagar, reinserindo os alimentos aos poucos na minha rotina e observando as reações do João. Mas o glúten eu não retomaria. E nos mandou pra praia. 

Adriano ligou pro irmão dele, João Claudio, que nos emprestou a casa. Até hoje acho que ele nem imagina o quanto aquilo foi importante pra nós! Foram 4 ou 5 dias de alívio. O João seguia sem dormir (àquela altura só havia um jeito de dormirmos um pouco: nos revezando a madrugada toda, cada hora um com o João no braço), mas eu comi um brigadeiro. Olhamos o mar, ficamos em silêncio, falamos um monte, nos lembramos o quanto nos amávamos. O quanto desejamos aquele bebê, o quanto estávamos aprendendo com aquilo tudo. Tínhamos certeza da nossa força. Sabíamos que não tínhamos recebido aquilo tudo à toa. Era, certamente, porque dávamos conta de suportar. E pensávamos: tem tanta coisa pior… 

Infelizmente, a volta pra São Paulo era necessária. O Adriano, que tem sua empresa própria, já não trabalhava direito havia meses. E precisava estar presente. Estávamos bem melhores, mas o primeiro dia em São Paulo já foi mais difícil de novo. 

Algumas passagens da história estão bem confusas na minha cabeça. Não me lembro exatamente quando fomos a uma terapeuta específica fazer nossa constelação familiar – um método que muito nos impressionou e que nos fez tratar de questões essenciais que certamente muito tinham a ver com a alergia do João. Também não me lembro quando ele começou a melhorar, nem quando me dei conta de que o glutamato monossódico, que está presente no shoyu e causava alergia no João, estava presente em vários outros temperos prontos que, por mais que não entrassem em minha casa, eram usados em restaurantes e bares onde, a certa altura da dieta, eu já podia comer. E claro, na casa das pessoas. Também não me lembro quando exatamente decidimos que eu não ia mais amamentar e que tentaríamos dar um leite específico para alérgicos – decisão imediatamente revista quando o pediatra disse: “Mas se não sabemos nem identificar tudo o que causa alergia nele, vamos trocar o seu leite por um cheio de química?”. Por mais estranho que pareça, mesmo no meio daquele furação, eu senti um certo alívio por não ter essa saída. Na real, eu queria muito continuar amamentando. 

O que sei é que, quando o João fez seis meses, muita coisa mudou. Ele já estava bem melhor e era hora de começar a introdução alimentar. Isso tudo era motivo pra muita alegria: eu havia conseguido chegar aos 6 meses de amamentação exclusiva e feito o melhor pro meu filho e pra mim, com isso; por conta disso, já começaria uma fase em que eu poderia ter mais tempo pra mim, porque ele logo não precisaria mais mamar tanto assim; seria um prazer enorme oferecer comida pra ele, vê-lo experimentar os legumes; eu contaria, a partir de então, com a ajuda da Marly, que o Adriano contratou para cuidar do João de segunda a sexta. 

Terapia começada, esquema montado, vida nova. Ainda não dormíamos, mas criamos coragem para tentar fazer o João dormir no berço de novo – e não só porque não aguentávamos mais dividir o espaço com aquele bebezão (que, com tudo isso, nunca teve problemas de ganho de peso), mas porque eu sofria de dores terríveis nas costas e percebemos que, com o peito por perto, ele nem sequer queria cochilar. Não foi imediato, mas logo ele se acostumou novamente a dormir no berço e o sono durava bem mais do que quando estava entre nós. 

João demorou muito para dormir uma noite inteira. E mesmo quando isso aconteceu, foram apenas 5 seguidas: foi só viajarmos no Natal e no Reveillon que ele voltou ao ritmo anterior. Vimos que, ao contrário do que havíamos planejado (nota mental: não dá pra planejar o comportamento de um outro ser, gente rs), o João só dormia com silêncio absoluto, escurinho, peito e no quartinho dele. Ok, filho. Faremos assim então, pra você aprender a dormir. 

Ele aprendeu (mas ainda acorda, uma ou duas vezes, dependendo da fase). Hoje, ainda não temos coragem de levá-lo pra viajar. Mas logo tentaremos. A introdução alimentar foi um sucesso e ele é um comilão. Reagiu à banana, ao ovo e a leite e derivados – coisas que, se eu consumo, não causam nada a ele pelo meu leite. Um mistério? Sim. Alergia é assim mesmo, e sinceramente, não queremos nem saber porque. No começo, fizemos como na preparação para o parto: lemos de tudo, conversamos com muita gente, pesquisamos pra valer. Com o tempo, percebemos que precisávamos relaxar, também. Que não existem respostas prontas pra tudo na vida. E a libertação: que não precisamos dessas respostas todas. A situação, hoje, já está sob controle. Então, se ele reage a algo, simplesmente não damos mais. Daqui a um tempo testamos novamente. E pronto. 

Eu já como gluten. João não reage mais, mas percebi que eu fico bem melhor sem. O plano é fazer “desintoxicações” quando eu sentir necessidade, porque cortar da vida já é um passo mais difícil que não quero dar agora. Nossos hábitos alimentares, que já eram bons, melhoraram muito. Sou a louca do rótulos, olho tudo o que tem em um produto antes de comprá-lo. E aprendemos um monte com isso. Somos mais leves (eu emagreci um monte, inclusive) e sinto um orgulho imenso quando vejo meu guerreirinho comendo o pratão de abobrinha, bifum, batata, peixe, lentilhas, couve, cenoura e tudo o mais que colocarmos. Ele come muito bem. 

Não demos vacinas até hoje, decisão super tranquila, e só o tratamos com homeopatia (mas até aqui foi só um resfriado e umas febrinhas de dente). Não posso nem imaginar o que poderia ter acontecido com o João se ele tivesse sido vacinado nas primeiras horas de vida, como acontece com a grande maioria dos bebês. E defendo, também por isso, a vacinação a partir dos 6 meses de idade (é o tempo que temos para conhecer melhor nossos bebês e entender do que eles precisam nesse começo de vida). 

São muitas as lições que tivemos até aqui. O João já tem um ano e parece que vivemos dez. Somos pais muito mais seguros. Tenho a sensação de ser inabalável. E a certeza de que as melhores pessoas para entenderem do que o João precisa somos nós. Mas de que, pra chegarmos nisso, precisamos ter em nosso caminho o apoio do melhor pediatra desse mundo (sim, ele é, temos certeza ), que nunca nos deu uma resposta pronta. Agradeço muito a ele por isso. 

E as conexões e conclusões que fazemos sobre tudo o que passamos são constantes. Tenho certeza de que, ouvindo os relatos de mais pais, isso acontecerá mais e mais vezes. Que riqueza ser mãe de um bebê alérgico. Não achei que um dia fosse dizer isso. 

Marcella 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Imagem: Google

Existe uma tribo na África, onde a data de nascimento de uma criança é contado não a partir de quando eles nasceram, nem a partir de quando elas são concebidas, mas desde o dia em que a criança era um pensamento na mente de sua mãe. E quando uma mulher decide que ela vai ter um filho, ela sai e senta-se debaixo de uma árvore, sozinha, e ela escuta até que ela possa ouvir a música da criança que quer vir. E depois que ela ouviu a música desta criança, ela volta para o homem que será o pai da criança, e ensina a ele. E então, quando eles fazem amor para conceber fisicamente a criança, eles cantam a canção da criança, o tempo todo, como uma maneira de convidá-la.

E então, quando a mãe está grávida, a mãe ensina a música que da criança para as parteiras e as mulheres mais velhas da aldeia, para que quando a criança nascer, as velhas e as pessoas ao redor dela cantarão a canção da criança para recebê-lo. E então, quando a criança cresce, os outros moradores conhecem a canção da criança. Se a criança cai, ou dói seu joelho, alguém pega e canta sua canção para ele. Ou talvez a criança faz algo maravilhoso, ou passa pelos ritos de puberdade, então, como uma forma de homenagear essa pessoa, as pessoas da aldeia cantam sua canção. 

Na tribo Africana há outra ocasião na qual os aldeões cantam para a criança. Se em algum momento durante a sua vida, a pessoa comete um crime ou ato social aberrante, o indivíduo é chamado ao centro da vila e as pessoas da comunidade forma um círculo ao seu redor. Em seguida, eles cantam sua canção para ele. 

A tribo reconhece que a correção para o comportamento anti-social não é a punição, que é o amor ea lembrança de identidade. Quando você reconhece a sua própria música, você não tem nenhum desejo ou necessidade de fazer qualquer coisa que possa ferir o outro. 

E vai este caminho através de sua vida. No casamento, as músicas são cantadas, juntas. E, finalmente, quando a criança está deitada na cama, agora ancião, pronto para morrer, todos os moradores conhecem sua canção, e cantam pela última vez, a música para essa pessoa. 

Você pode não ter crescido em uma tribo Africana que canta sua canção para você nas transições cruciais da vida, mas a vida é sempre lembrá-lo quando você está em sintonia com você e quando você não está. Quando você se sentir bem, o que você está fazendo jogos sua canção, e quando você se sente horrível, isso não acontece. No fim, todos nós reconheceremos as nossas canções e cantaremos bem. Você pode sentir um pouco ansioso no momento, mas todos os grandes cantores também tem. Basta continuar a cantar, e você vai encontrar o seu caminho de casa.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Hoje um dia cheio de tantas emoções...

Imagem: Google 
Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista. 

Hoje um dia cheio de tantas emoções... 

Volto ao encontro com mulheres empenhadas e empoderadas numa maternidade cheia de surpresas que levam a um questionamento saudável. Há, contudo, o perigo quando abrimos o coração de entrar qualquer coisa. Tipo coisa ruim, que não deveria fazer parte. As inúmeras verdades sobre quem deveria ser este bebê, seu bebê, e quem deveria ser esta mãe, sua mãe. E para variar o apego, o aconchego como o grande vilão. É como se cada mulher amorosa escondesse dentro de si uma vila implacável e egoísta que merece castigo e punição. O que será que elas não estão vendo? E vem a balança poderosa desmascarar a verdade. 

Não viu que não engordou o bastante? 

Não ver que este colo agora pode virar uma cascata de incapacidades depois? 

Eu sei qual será seu destino... 

E assim se desconstrói uma família, uma mãe e uma criança que teima em ser fora da média.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Maternidade...

Foto/Espaço Nascente: Sylma e o seu  filho o "Cacá"

Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista.

Sempre desconfiando das datas com mais cara de shopping que de coração, hoje pensando na minha mãe e na de todos, pensando no trabalho que da ajudar a construir um indivíduo capaz de dizer adeus e ganhar o mundo. 

Trabalho que da se dar tanto para não ser mais necessária. Receber a gratidão de ser capaz de ser livre e viver pelas próprias pernas. Coisa esquisita essa de ser necessária para se tornar desnecessária. 

Para poder se tornar uma lembrança forte, amorosa, um exemplo de amor coisa engraçada essa de ser mãe. 

E ainda assim o maior exemplo do que é o verdadeiro amor. 

Então, que todos possam nesses dias ter a lembrança do que é ser generosa e pensar com carinho em todas as boas memorias que possam ter dessa que foi sua maior inspiração um dia. 

Minha mãe! 
Sua mãe! 

Beijos e parabéns a todas as mães.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sobre os nascimentos!

Foto: Simone Novato

Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista.

Tem sido intenso estes dias com nascimento de vários bebês com a força da lua e um sol de touro. Que sejam bem vindas essas novas vidas. Tomara que eu tenha podido trazer conforto na sua chegada, trazendo respeito e amor nas minhas poucas e necessárias intervenções. Espero que essas mulheres encontrem o caminho do coração para construir um vínculo forte e íntimo com seus bebês. Que a Andrea e eu possamos auxiliar na construção de um aleitamento pleno de prazer e troca entre estes que estão se conhecendo sem fantasmas e novas intervenções.
Que a natureza humana se expresse suave e ao mesmo tempo intensa e imensamente.

Muita alegria por tantos nascimentos!

Hoje, pleno “sabadão” estou aqui no batente. Recebi a visita de pais que tentam construir uma família regida pelo principio do amor e respeito. Como às vezes fica difícil saber como expressa-los. Ainda pensando em aleitamento materno, principalmente no começo, encontrar um lugar de prazer e conforto pode ser tarefa bem difícil. Repenso a importância e ajudar e apoiar as decisões desta família e não... Construir mitos, idolatrias, que só servem para desestabilizar. Como uma balança ou uma fala inadequada podem destruir uma relação em construção. O poder de destruir a formação do vinculo familiar parece ser maior que o de construir.

Não pode dar colo!
Não pode dormir junto!
Esta criança tá passando fome!
Ele chora demais! Tem algo errado!
E ai se constrói uma mãe insegura, incapaz, um pai distanciado, incapaz e uma criança defeituosa e incapaz.
Deus nos livre disto, já anda tão difícil conseguir ser feliz!
São tantos NÃOS!

Hoje reencontrei três recém-chegados há poucos dias. Nasce um bebê causando o nascimento de um novo mundo. Nasce uma família, com mãe, pai, avós, tios e tantos mais. Que impressionante é à força do nascimento! E renasço, eu como pediatra, como ser humano, como alguém que faz uma reflexão sobre a grandiosidade da vida.

Obrigado, a cada bebê que me trouxe isto. Que me trouxe aqui, muito obrigado!

Eu luto por um parto onde a mulher é protagonista do seu caminho. Suas escolhas são conscientes e as intervenções são as mínimas necessárias e pedidas. O pós-parto dessa mulher deve seguir esse mesmo caminho. Dentre essas escolhas: a amamentação, se assim escolhida, deve acontecer com as mínimas intervenções e apetrechos. Onde a balança não é o condutor dessa relação.

Nestes últimos dias tenho pensando por que essas mulheres não aceitam intervenções no seu parto, mas tem uma amamentação tão cheia de intervenções, tão cheia de apetrechos. O que vocês acham sobre isso?