domingo, 10 de fevereiro de 2013

Introdução de alimentos: as cores do mundo

A mãe de um paciente teve a idéia de entrevistar-me na consulta que tiveram sobre as primeiras comidas do bebê. O resultado você confere aqui em um resumo das perguntas e respostas, um guia rápido para introdução alimentar.




O começo


A introdução de alimentos sólidos é recomendada para crianças com mais de seis meses. Até então, o melhor para o bebê é a amamentação exclusiva. Pode acontecer que a criança, antes dessa idade, comece a imitar, a movimentar a boca como se estivesse mastigando, e até pôr coisas na boca. Mas, por outro lado, é uma tendência mundial atrasar a amamentação exclusiva. Na Alemanha, por exemplo, querem prolongar até os oito ou nove meses de idade.

Durante o primeiro ano de vida (e tive pacientes que até um ano não comeram) as necessidades calóricas e protéicas dos micronutrientes, são principalmente do leite materno, e a introdução de alimentos é muito irregular, ao igual que a dentição. Podem aparecer os primeiros dentes com três ou quatro meses, ou pode acontecer depois do 1º ano. A mastigação e os dentes não caminham juntos, a mastigação pode acontecer sem os dentes ou com os dentes.

Gosto da idéia de introdução de alimentos de alguns lugares da África, onde as mulheres começam usando o dedo como colher, porque a criança mantém o contato físico com a mãe enquanto come.




Uma textura apropriada

Temos que pensar que estamos saindo de uma textura líquida, para uma pasta que deva ter uma consistência de purê. Estamos espessando a alimentação. Vejamos: o leite escorre pela boca, o bebê vai fazer um movimento de língua da musculatura do esôfago, para adentro. No começo, podem fazer um movimento com a língua, que coloque o alimento para fora, porque é o mesmo movimento que fazem ao mamar o peito.

Para bebês que tem maior dificuldade, é bom misturar o próprio leite materno para alcançar a consistência apropriada. Com abacate, com abóbora, pode ser usado tanto em frutas, como com raízes, tubérculos, batata doce, inhame e cenoura. Caso perceba que o bebê tem ânsia de vômito, é porque a consistência não está suficientemente pastosa para ele.

Evite usar processador ou liquidificador. Não é proibido usar, mas evite. Porque a idéia não é entrar com sopinhas e caldos tão ralos quanto leite, estamos pensando numa coisa mais espessa. O ideal seria amassar ou raspar, as vezes quando tem pedacinhos há criança que nauseia e vomita, por isso usamos a peneira que acaba sendo melhor do que o liquidificador. Porém se pensar numa textura de purê, se pensa mais numa pasta. Menos mingau e mais pasta.

Então a sugestão é: enquanto o bebê está tentando engolir, se faz uma pasta, e começa por uma fruta e/ou um tubérculo. Quando ele começar a reter essa pasta na boca e mastigar, com ou sem dente, começa a dar outra refeição e folha (verdura). E quando mastigar, quer dizer que está se preparando para uma consistência mais de pedaços, aí começa a deixar mais pedaços.

O primeiro indicador de que a criança está pronta para engolir é começar a sentar. É muito importante ela conseguir ficar nessa postura para conseguir engolir sem voltar. E também tira o excesso de força para cima do esôfago, porque o corpo se sustenta. Quanto melhor ele estiver sentando melhor será para ele comer.

Geralmente esse processo é entre o sexto e nono mês que acontece. A partir do nono mês, você está mais liberado para introduzir vários alimentos, os grãos, como o feijão, ervilha, lentilha, e para quem for dar, carne também.



Novos sabores

O ideal é que o bebê experimente o sabor de cada coisa, o cozimento pode ser todo junto na mesma panela, e é uma opção entrar com uma fonte de proteína que pode ser carne, frango, peixe ou ovo. Segundo a orientação do Ministério da Saúde, pode começar com uma fonte de proteína, uma fonte calórica e uma fonte de fibra.

Primeiro vai ensinar o bebê a engolir, com fruta e tubérculo. Uma vez que esteja engolindo, se começa a dar duas vezes comida para ele. Uma fruta, que pode ser de manhã ou no horário do almoço e uma refeição que pode ser no horário do almoço, ou no jantar. Depois pode introduzir proteína, carboidrato e fibra. Para bebês que mamam no peito, e as mães não comem carne, pode ser adiada essa introdução. E muita gente faz essa opção.

Se a opção for adiar a introdução de carne, tente variar o cardápio de vegetais. Pense no vegetal com varias partes, tem raíz, caule, folhas, flor, fruto, semente.Tente pensar em chegar nesse vegetal inteiro. No começo será impossível, melhor ir devagarzinho. Começar pelos tubérculos, evitar usar sal ou qualquer tempero no começo. Cozinhe, amasse e dê cada tubérculo separadamente. E pode entrar com folhas (verduras) refogadas também. Misturar tudo é algo que as vezes a gente faz. A questão é não criar um hábito só. Não fazer sempre sopa, ou fazer só cozido, ou fazer apenas misturado. Variar é legal.

Os temperos que gosto de indicar são: hortelã, sálvia, salsinha, cebolinha, cebola e alho estes últimos fazer separado pois tem alto grau de micronutrientes.

O leite materno assume o sabor e o cheiro da comida que a mãe está comendo, como forma de preparar o bebê para aquele alimento. Mulheres que comem muito cebola e alho, podem produzir leite com sabor de cebola e alho, que pode fazer com que o bebê prefira esse mesmo elemento. Se for uma alimentação sem carne, os temperos, as ervas, tem micronutrientes, o que sugiro é não encher tudo com sal, e o sal virar o tempero universal. A experiência do açúcar a criança terá pela introdução de frutas.

Os chás interferem muito na captação de micronutrientes, perto do horário de refeição não é bom. Dê preferência a os mais leves, sem cafeína e longe dos horários de refeição. Mas, é melhor usar apenas os terapêuticos se for o caso que o pediatra tenha indicado.


Os cereais

Não é obrigatório oferecer sobremesa mas, é uma oportunidade de oferecer fibra, fruta por exemplo, porque pode acontecer da criança ficar um pouco ressecada neste processo. Tem que oferecer muito liquido, e ter cuidado com alimentos que absorvam muito líquido, como os cereais por exemplo, porque se eles forem pouco hidratados, podem roubar água do próprio tubo digestivo e ocasionar uma constipação.

As linhas de tratamento diferem entre a Ayurvédica, Antroposófica, Homeopatia, e acredito que temos uma mistura étnica muito complexa, mas o cereal era antigamente, introduzido muito cedo. Não tem contra-indicação de se introduzir o cereal cedo, mas precisa hidratar muito bem ele. Por exemplo, se for aveia, usar leite materno para ela ficar bem inchada e não tomar líquidos do organismo.


Proteínas

Particularmente prefiro introduzir proteína animal mais tarde, depois de um ano, como o caso do iogurte. Se for usar leite, de preferência que seja leite materno. E para as mulheres que trabalham é legal, porque pode render muito mais. 50ml de leite materno, misturado com banana e aveia, rende muito mais que 50ml para o bebê tomar, por exemplo.



Água e sucos

Desde que o bebê esteja comendo, pode e deve ser oferecida água. Geralmente prefiro que se for fruta, seja oferecida inteira, e não em forma de suco. As frutas que forem difíceis de serem oferecidas na sua forma inteira ou amassada, como o tamarindo, graviola, podem ser oferecidas em forma de suco, sem adição de açúcares. Podem ser todas as frutas da estação.

A hidratação pelo aleitamento materno continua acontecendo, mas é bom oferecer água em diversas partes do dia.


Cardápio familiar

O que vai acontecer até o nono mês é que a criança cada vez mais, irá pedir a comida que os pais estão comendo, então as crianças com nove meses ou um ano, começam a comer a comida da família, a mãe amassa, dá de outra forma, mas a criança tenta entrar na refeição que a família está comendo.



Dentição

Quando é necessário consultar um dentista? A partir do segundo ano. Acho que de fato, limpeza de dentes, antes do segundo ano a mãe consegue fazer usando uma gaze, limpando o dente e vai tentar utilizar a escova depois do segundo ano. O uso de gaze é mais eficiente. Os dentistas dizem que é bom fazer escovação antes de sair dentes, acho que é uma loucura fazer antes da dentição. Se for para fazer alguma coisa, melhor brincar com o bebê usando o próprio dedo com uma gaze.



É bom lembrar

Não esquecer, nesta fase de introdução de alimentos, que estamos saindo de uma consistência líquida, e vamos espessando a comida, é interessante saber lidar, para que a criança entenda o que é o alimento, ela tem que brincar. A criança vai pegar a comida, vai brincar com a comida,muitas crianças botam na boca, cospem na mão, olham e botam na boca de novo, e tudo isso faz parte do processo, que não é um processo requintando, limpo como é apresentado as vezes.

Para as mulheres que trabalham, sugiro que dêem a refeição principal no horário que ela estiver em casa, porque se trata de um momento de troca, de carinhos, porque para a criança comer é uma brincadeira. Está vendo as cores nos alimentos, como vê as cores no mundo. Então é como se ela estivesse pondo parte do mundo para dentro. Se ela puder fazer isso de uma forma mais amorosa, é uma possibilidade dela desenvolver uma relação mais amorosa com o mundo e com ela mesmo.