sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O PAI quer PARTICIPAR: você deixa!?


Por: Dr. Marcus Renato de Carvalho + Revista Pais & Filhos, Fevereiro de 2013. Marcus Renato de Carvalho, Pediatra, Pai da Clara e Sophie. Perguntas de Cleiton Campos, pai de João. 

1 – O que o pai pode fazer já durante a gravidez para dar início ao processo de formação dos laços com seu filho? 

Acompanhar a gestação, participar das consultas de pré-natal, das decisões, e uma dica fundamental: ver e ouvir o seu bebê intra útero em uma consulta de ultrassonografia. 

2 - O pós-parto costuma ser um período também difícil para o pai encontrar o seu lugar. Nesse período o papel do homem se resume a dar suporte a esta entidade “mãe-bebê”? 

Realmente é um período que o pai fica mais no banco de reserva do que dentro de campo J. O homem pode até sofre “depressão pós-parto”, porque se sente excluído e perdeu o seio materno, a mulher... 

Contudo, ele pode se sentir útil, apoiando a mulher, cuidando do bebê, incentivando a amamentação, realizando tarefas domésticas... 

A depressão pós-parto masculina é pouco conhecida até entre os profissionais da área, mas isso não significa que seja rara. Do início da primeira gestação da mulher até o bebê completar um ano, um a cada dez homens tem a doença. 

O dado é de uma revisão de 43 estudos, com 28 mil participantes, que acaba de ser publicada no "Jama", periódico da Associação Médica Americana. Outros estudos apontam que, entre as mulheres, a taxa de depressão é de 15% a 20%. 

A metanálise revela também que o período entre o terceiro e o sexto mês de vida do bebê é o mais crítico para os homens. Nessa fase, 25% deles sofrem de depressão. 

Por outro lado, os três primeiros meses após o nascimento são os menos problemáticos, quando apenas 7,7% dos pais desenvolvem depressão. 

"Nesses meses, a vida é muito corrida. O homem só começa a se dar conta do que está acontecendo depois do terceiro, quarto mês", acredita a psicóloga Fátima Bortoletti, que atende casais durante o pré-natal e o pós-parto no setor de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

Na opinião dela, a taxa pode ser ainda mais alta - nos EUA, por exemplo, chega a 14%. 

Vários fatores que coincidem nesse período podem funcionar como gatilho da depressão masculina, segundo o psiquiatra Joel Rennó Júnior, coordenador do Pró-Mulher do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. 

"Muitos homens sentem-se inseguros em relação aos cuidados com o bebê e à disponibilidade de tempo necessária para ter uma participação ativa na criação do filho. Alguns não conseguem entender as mudanças da mulher em relação à sexualidade e à forma como vê seu corpo na gravidez", afirma. 

A situação econômica, frente às novas necessidades familiares, também os preocupa. Por fim, sentimentos de rejeição e exclusão são comuns entre os pais novatos. 

Como resultado, uma parcela dos homens compete com o bebê pela atenção da mulher, outra ignora o filho e há os que tentam afastar a mãe dos cuidados com a criança ou que buscam relações extraconjugais. 

Correlação 

A pesquisa reforça ainda a existência de correlação entre depressão masculina e feminina. "A mulher precisa da proteção do pai do bebê. Se ele passa a maior parte do tempo fora, a desproteção vem acompanhada do sentimento de abandono, que desencadeia a depressão feminina", diz Bortoletti. 

Como o trio familiar funciona de modo integrado, o desequilíbrio afeta todos. 

"A depressão masculina prejudica automaticamente a mãe, e o bebê é uma esponja emocional. Se seu parceiro está deprimido, ela fica insegura, irritada e passa isso para a criança, que pode ter problemas de aleitamento e dar mais trabalho", completa. 

3 - Qual importância do homem durante o aleitamento? 

Vários estudos comprovam que o pai quando orientado sobre a importância da amamentação, apoia mais a mulher e ela amamenta melhor e de forma mais prolongada. 

4 – Tenho a impressão de que o assunto “formação de vínculo paterno” é uma preocupação muitas vezes da própria mãe e que o pai lida com essa questão de maneira mais instintiva. Procede? Ou o pai também está cada vez mais preocupado com o assunto? 

Creio que algumas mães se preocupam se seus companheiros irão “adotar” seus próprios filhos... É importante lembrar que este vínculo pai-filho começa na gestação, se fortalece com a participação do pai no parto e se concretiza na maternidade, com os primeiros cuidados, com o colo paterno “sem leite” J também necessário para o recém-nascido. 

Cada vez mais vejo pais interessados, participativos de grupos de preparação para o parto e primeiros cuidados, muito necessários hoje em dia. 

Pesquisas científicas comprovam que recém pais estão banhados com mais prolactina (mais amor, menos libido) e menos testosterona (menos apetite sexual e menos atitudes agressivas). 

Ser pai torna os homens mais femininos 

Estudo revela que a paternidade reduz significativamente os níveis de testosterona 

Ser pai desperta o lado mais feminino dos homens. Um estudo da «National Academy of Cience» revela que a paternidade reduz significativamente os níveis de testosterona, o principal hormônio masculino.
Dizem os investigadores que com o nascimento de um filho os homens tornam-se menos agressivos e mais sensíveis. Tudo isto seria mais verdade se o livro dos homens fosse escrito apenas com o código genético. Falta a cultura, a educação e a sociedade. 

5 – De que modo as mães costumam atrapalhar a formação do vínculo paterno (digo, sem ter a intenção)? 

As mulheres no período puerperal se comportam como verdadeiras “leoas” na proteção de sua cria, impedindo a atuação dos homens... Muitas vezes esta atuação é inconsciente: “ele não sabe pegar o bebê no colo”; “ele não troca a fralda direito”; “ele é desajeitado”... Nunca os homens irão atuar da mesma forma que as mulheres, é mesmo outro jeito, mas não deve ser desqualificado... Há também um preconceito de gênero, um machismo ainda na sociedade... 

6 – E o que elas podem fazer para ajudar na formação desse vínculo? 

Convocando o homem para dar colo, levar ao pediatra, às vacinas... E mesmo que a fralda fique “torta”, elogiá-lo, encorajá-lo... 

7 – O que é essa figura do “novo pai” que tenho lido a respeito? Dá pra dizer que o homem de hoje não se contenta mais apenas com o papel de mero provedor material? 

Os homens estão se descobrindo como novos pais, presentes, cuidadores, exercendo a “paternagem” – um modo próprio, físico-corporal de lidar com o bebê... 

Desde 2003 realizo uma “Campanha de Valorização do Cuidado Paterno” para mostrar para a sociedade o valor da presença e participação do homem na criação dos filhos. O contato do pai com o filho é benéfico para a criança, para a mulher e para o próprio homem – ser pai faz bem à saúde. 

8 - Qual seria o tempo ideal da licença paternidade? Quais os efeitos na relação pai-bebê causados por um tempo tão curto de licença? 

Poderíamos avançar para 15 dias imediatamente e em curto prazo passar para 30 dias. Há vários projetos de lei no Congresso Nacional. 

Cinco dias é um tempo muito curto para cumprir tarefas burocráticas e tomar providências domiciliares, trabalhistas... que roubam o tempo do contato com o recém-nascido. 

Seguridade aprova ampliação de licença-paternidade para 30 dias

A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou, nesta quarta-feira (10 de dezembro de 2009), o PL 4.028/08, da deputada Rita Camata (PMDB/ES), que amplia para 30 dias o período de licença-paternidade para trabalhadores de empresas participantes do Programa Empresa Cidadã (Lei 11.770/08). 

A licença-paternidade representou enorme avanço na Constituição, que nos termos do artigo 7º, inciso XIX, c/c artigo 10, parágrafo 1º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias determinou que o prazo da licença fosse de cinco dias. Pela proposta, os pais terão direito ao benefício quando suas mulheres trabalharem em empresas que não façam parte do programa. 

O texto determina que a licença prolongada do homem comece imediatamente após o término da licença-maternidade e deverá ser requerida no primeiro mês após o parto. 

Para o relator, deputado Eduardo Barbosa (PSDB/MG), "nada é mais razoável que garantir a devida compensação aos pais pertencentes a empresas participantes do Empresa Cidadã para que contribuam mais diretamente na criação dos filhos". 

Supersimples

O texto aprovado também estende a possibilidade de adesão ao programa a empresas tributadas com base no lucro presumido e àquelas optantes pelo Simples Nacional (Lei Complementar 123/06). 

Nesse caso, permite-se a dedução do salário do empregado durante o período excedente de licença-maternidade ou paternidade apenas do Imposto de Renda e da Cofins. 

Eduardo Barbosa lembra que o texto original da Lei 11.770/08 previa a inclusão dessas empresas, mas essa parte foi vetada pelo Executivo. 

O deputado ressalta que as micro e pequenas empresas correspondem a cerca de 90% do total de empresas do País. Com sua inclusão no Empresa Cidadã, portanto, "número significativamente maior de trabalhadores será beneficiado", destaca. 

Tramitação: A proposta segue para análise conclusiva das comissões de Trabalho; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. 

Publicado no www.aleitamento.com em: 1/3/2011 

9 – O papel do pai tem a ver com “empurrar o filho pro mundo”. É possível afirmar que, para reforçar os laços com o filho, é necessário romper um pouco dos laços da própria mãe, cuja tendência é sempre manter a cria “o mais próximo possível do útero”? 

Há uma citação Maia (pré Colombianos) que retrata estes dois movimentos – o materno que é de deixa-lo no colo e o paterno que é de “mostrar o mundo”, afastá-lo do colo materno... 

No bebê está o futuro do mundo. A mãe precisa abraçá-lo forte para que ele saiba que o mundo é dele. O pai precisa levá-lo até o monte mais alto, para que ele veja como é o seu mundo.