sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Relato de amamentação: Elisa, mãe do Dudu (hoje com 1 ano e 5 meses)

Foto: Julia Moreira

"Só posso falar da amamentação através da minha experiência, que aconteceu neste momento a minha vida, com este filho. Assim, posso dizer que tem sido uma experiência maravilhosa e um tanto desafiadora. Não encontrei, como muitas, grandes dificuldades no aleitamento. Foram, no entanto, necessários grandes esforços de adaptação para acompanhar as transformações. Transformações, na verdade, de vida, que vêm com a maternidade. Amamentação, aliás, no início se confunde muito com a própria maternagem.

Perceber que meu filho não era mais parte de mim mesma, que não habitava mais meu corpo por dentro, mas ainda dependia completamente dele pelo lado de fora foi um desses aprendizados. Despedir-me da imagem que eu tinha, de um bebê que mamaria e dormiria em seu cantinho foi um dos primeiros. Entender que o cantinho dele era eu, era meu peito, foi na verdade um alívio. Sinto que foi quando aceitei que a vida mudou, e quando pude permitir que essa mudança tomasse conta do meu ser.

Logo senti que mamar não era só leite, era o jeito que eu tinha de dar amor que era melhor recebido pelo meu filho. Naquele momento a necessidade dele era de aconchego, de ser acolhido do lado de fora como estava lá dentro, até que estivesse preparado pra mais que isso. Fui perdendo meus preconceitos, me revendo. Percebi que essa fase de amamentação é como um parênteses no resto da vida normal. Sabem as fases do desenvolvimento, tão faladas na psicanálise? Então, é como se fosse uma outra fase, que só conhece quem passou por ela. Coisa meio estranha mesmo, o foco muda, se você deixar.

O peito, meu peito, deixou de ser tão privado. As lindas lingeries da lua de mel deram lugar a esquisitos sutiãs com janelinhas para amamentar. E a doação era quase total. Cansava? Sim, às vezes era cansativo, mas encontrava onde recarregar as energias – num banho quentinho, num abraço gostoso (nos raros momentos de braços livres, meus e do meu marido).

Toda a plenitude da gravidez foi dando lugar a um lindo relacionamento que se construía.

E os aprendizados do pós parto também foram ficando ultrapassados e a vida demandava novos ajustes. Fui percebendo que eu já não era tudo na vida do meu filho, e tive que aceitar que em poucos meses meu peito já não era mais tudo o que ele queria pôr na boca – como assim, eu aqui disponível e você prefere esse brinquedo?? Resisti bravamente a mamadeiras e chupetas, porque os entendia como substitutos impostos e desnecessários, já que eu tinha deixado minhas outras atividades para cuidar do meu filho. Mas agora era ele que queria ir pro mundo. Tudo bem, vamos lá então.

Assim tem sido, cada avanço de uma vez. O peito ainda está disponível, mas cada vez menos solicitado. Já não dorme sempre mamando, nem sempre pede para mamar quando precisa de consolo.

Respeitar seu tempo foi fundamental, e isso só foi possível ao olhar para ele. Olhar no fundo e para ele, ele mesmo. Procurando me segurar, pra conseguir ver quem era cada um de nós.

Sua primeira palavra, aos 9 meses, foi “mama”. Mamãe ou mamar? Não sei, nem sei se tinha muita diferença na época. Hoje, com quase 1 ano e meio tem, e muita. Mamar é importante, mas tem tantas outras coisas neste universo de mãe e bebê! Hoje se alguém me pergunta até quando vou amamentar, digo que não sei. Tanto faz se é a mãe, a melhor amiga ou uma desconhecida na rua (sim, nas raras vezes em que ele ainda pede pra mamar em público, acontece de alguém vir fazer perguntas íntimas como essa!), a resposta é a mesma: não sei, não sei mesmo.

Estamos caminhando para que a amamentação deixe de ser uma necessidade, deixe de ser uma realidade. Procurando sentir nosso tempo. O meu, o dele, não sei se esses tempos vão coincidir. Mas sei que esse tempo é nosso, de nós dois, não maior nem menor do que o estabelecido por quem quer que seja. Considero que sou uma pessoa saudável, de bom senso, que saberia pedir ajuda se estivesse difícil. Como também sei que não teria conseguido sem o apoio de todo um círculo – marido, família, profissionais, mães-colegas. Amamentação envolve sim o resto do mundo – mas o lugar deles é do lado de fora da dupla, deixando apenas que ela exista e flua, sem intromissões sem convite.

Ah, e sobre as lingeries, sim, elas foram resgatadas do fundo de uma gaveta por meses esquecidas, e agora coexistem com os sutiãs de janelinha. Porque em mim também coexiste o ser mãe e o ser mulher, de uma forma integrada."