sexta-feira, 15 de março de 2013

Sobre a responsabilidade de cada um...

Foto: Google Imagens

Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá.

Desde que descobri aconselhamento, um poderoso instrumento para lidar com situações difíceis em aleitamento materno, descobri a importância de auxiliar as mulheres a fazer o que elas quisessem como forma de alimentar seus bebês. Confiar na capacidade e no poder de escolha de cada um. Dar informações relevantes, mas compreender que a decisão final não é minha. Simples e difícil assim!

Meu trabalho como pediatra mudou bastante desde então, sendo aconselhamento uma ferramenta constante neste trabalho. Não se trata de dar conselhos. Tem muito mais a ver com aprender a ouvir.

Criar condições num diálogo para que o outro possa falar abertamente, sem meu julgamento prévio. Dar condições para que o outro tenha direito de se expressar. E ter sabedoria para poder ouvir sem preconceito.

O interessante é que desde então, frequentemente escuto pessoas falando no consultório que eu não respondo nada. Não é exatamente isto que eu esperava ouvir. Afinal não me cabe tomar a decisão, mas eu poderia dar informações para que ela seja tomada. Será que então não consegui cumprir meu objetivo?

Por outro lado penso que no modelo medico clássico uma pessoa vira um paciente, e esta deveria sair com uma receita da consulta. Será que então ando frustrando a expectativa de pessoas que buscam a receita?

Nestes tempos em que se discutem tanto as intervenções médicas desnecessárias fico aflito em perceber que por não ser intervencionista, passo por omisso.

Aonde para a discussão sobre intervencionismo?

Parece-me que na dificuldade de assumir a responsabilidade de fazer escolhas. Ter opção! Ter voz!

Quando consigo entender o motivo da consulta, posso dar informações úteis e auxiliar na decisão do casal sobre as necessidades de seu filho. Não devo permanecer mudo ou não responder a questões feitas, mas não sou o dono da verdade. Devo dar informação suficiente para a tomada de decisão.

E então voltamos a falar de liberdade de escolha e de responsabilidade de escolha. Será que no fundo o que se espera de um medico é uma resposta objetiva e clara do tipo faça isto que é o correto. Está aqui tua receita mágica e infalível.

Bom, sei lá, para mim anda difícil ser este médico. Ainda acredito que o meu papel é ouvir e dividir a responsabilidade sobre uma decisão.

A mágica na consulta baseada em aconselhamento é a oportunidade da troca de conhecimento. Desconstruir o papel do dono da verdade, da informação. Considerar o outro capaz, dono de um conhecimento válido e importante. Estabelecer um diálogo. Ainda acredito neste caminho.