terça-feira, 28 de maio de 2013

Bebês fazem leitura labial durante o processo de aprendizado da fala

As primeiras palavras do bebê podem não ser totalmente articuladas, mas são capazes de fazer qualquer pai e mãe chorar. E não é à toa, a fala é um complexo processo e envolve uma importante interação entre você e seu filho.
Um estudo realizado no Florida Atlantic University, nos Estados Unidos, por exemplo, acaba de revelar que para aprender a falar, a criança faz (imagine!) a leitura labial dos seus interlocutores. Isso significa, que seu filho não só escuta, como também presta muita atenção nos movimentos dos seus lábios quando você conversa com ele - algo que talvez você já tenha percebido.

Segundo a pesquisa, esse processo se inicia aos 6 meses de idade, quando a atenção do bebê deixa de estar voltada para os olhos e passa a ser dirigida à boca dos pais. Os cientistas chegaram a essa conclusão com a análise de 180 crianças expostas a gravações de vídeos, nos quais uma mulher dizia frases tanto na língua materna das crianças (no caso, o inglês), como em um idioma estrangeiro (no caso, o espanhol).
Nas falas em inglês, as reações dos bebes revelaram que aos 4 meses de idade, a atenção das crianças é focada nos olhos, aos 6, ela é dividida entre a boca e o olhar, já dos 8 aos 10 meses, a boca se torna o principal foco. Aos 12, a atenção volta novamente aos olhos.
Mas nas gravações em espanhol, todos os bebês se concentraram na boca durante a exibição das imagens. O que isso significa? Para os pesquisadores, esse resultado demonstra que as crianças precisam de informações extras quando ainda não reconhecem o significado dos sons, por isso, a importância da leitura labial no desenvolvimento da linguagem.

Ao ler os lábios, as crianças fazem um resgate na memória dos sons que já ouviram e que têm sentido para ela”,explica a fonoaudióloga Adriana Souza Martins.

Mais um motivo, destaca a especialista, para você buscar a interação com o bebê a fim de incentivar o aprendizado da linguagem, de forma que ele entenda que ao falar, pode satisfazer desejos e outras necessidades. “Ler ou contar histórias, cantar, brincar e conversar são ótimos meios de interação”, sugere Adriana. “Durante essas atividades, mostre os objetos, as cores, pessoas e seus respectivos nomes.” Assim, com o estímulo dos pais, logo ele vai perceber que, além de apontar os objetos, há maneiras mais fáceis de conseguir o que quer!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Programação Cultural

Clique na imagem para ampliar
Cia Pés Pequenos 
da Cooperativa Paulista de Teatro 
apresenta:

O Jardim de Caicara

Teatro para a primeira infância 3 meses à 3 anos


Teatro Distrital João Caetano
18 de maio a 02 de junho
sábados e domingos - 11h


Endereço: 
Rua Borges Lagoa, 650 - Vila Mariana - São Paulo - SP
(11) 5573-3774 / 5549-1744


Reservas somente por email:


Cia Pés Pequenos: (11) 3297-0456 / (11) 99616-7275

A alergia alimentar do João – meu relato

Marcella, Adriano e o João.

Depois que o João nasceu, nosso pediatra disse: “Bebês são muito perebentos, tá? Não se preocupem e nem queiram resolver isso, eles precisam se acostumar ao meio aéreo depois de tanto tempo mergulhados”. Logo vimos o João ficar perebento. E pela aparência, eram as famosas brotoejas. Mas depois veio um ressecamento na pele do rosto. Continuamos tranquilos, achando que aquilo não era nada. Éramos tão sossegados que nos esquecemos de marcar consulta de um mês pra ele. E na de dois meses descobrimos que havia algo errado. 

Cacá olhou pra ele e disse: “Isso está com cara de alergia alimentar”. Hein? Nunca tínhamos ouvido falar nisso. Ele só mamava no peito, muito e sempre, eu jorrava leite, e leite materno não é a coisa mais maravilhosa do mundo pra um bebê? Sim, é. Mas alguma coisa que eu comia e era repassada ao João por meio dele causava esses ressecamentos. E uma dor de barriga que eu já havia classificado como cólica de bebê, coisa normal, e medicado com luftal. Numa ligação, antes dessa consulta, já havíamos perguntado o que fazer e ele sugeriu que eu parasse de ingerir leite e derivados por uns dias. Na ocasião eu parei, por 4 dias, mas pra mim era tão difícil ficar sem meu café com leite de manhã, que isso eu tomava, achando que não faria diferença. 

Na consulta de dois meses, o pediatra nos disse, então, que eu precisava fazer testes com a minha alimentação, excluindo algumas coisas e depois retomando. Que tavez fosse bom começar com leite e derivados ou com algum alimento que eu ingerisse todos os dias, mas também tentar o gluten, os ovos, as castanhas e outros. Explicou que não adiantava eu cortar por apenas 4 dias, nem ingerir em pequenas quantidades. Que algumas alergias não são dose-dependentes, ou seja, são deflagradas mesmo com um pouquinho só do alérgeno. 

Lá fomos nós pra casa, meio assustados, achando tudo aquilo meio estranho. Nunca tínhamos ouvido falar daquilo. Mas comecei com os testes, pelo mamão – única coisa que eu comia todos os dias. Nada aconteceu. João continuava chorando, nervoso, sem conseguir dormir, com a pele super seca. Passei pro leite. Nada (ufa, era meu maior medo a essa altura, eu amo leite e queijos). Farinha branca. Ele pareceu melhorar um pouco. Gluten. Pronto, sentimos uma melhora considerável. Na consulta dos três meses, fomos animados, achando que o problema estava resolvido. Se foi um mês desafiador para pais recém-chegados ao mundo, vocês podem imaginar, então, pra um bebê também recém-chegado, cheio de coceiras (sendo que só descobrimos que coçava depois, quando ele já conseguia levar os bracinhos pra cabeça e pro rosto), dor de barriga, cansaço (porque não conseguia dormir). Eu o levava comigo para todo lugar, no sling, amamentava em livre demanda (como faço até hoje), tentando acalmá-lo. Mas eu também precisava de calma. Estava perplexa com tudo aquilo. E se já era chato escutar na rua as perguntas de gente que nem me conhecia (do tipo: “Nossa, o que ele tem no rosto????”), imaginem passar o dia tentando explicar pras pessoas queridas – visitas, parentes, amigos – o que o João tinha e porque eu não podia comer isso e aquilo. Que não, não tinha nenhum remédio pra ele tomar. Que não, não era melhor dar leite de fórmula. Que não, não existia nenhum exame de sangue definitivo que resolveria a situação. Que não, não era melhor consultar outro pediatra. Que não, aquilo não era normal de bebê recém-nascido e logo ia passar. Eu tinha vontade de chorar a cada pergunta e comentário, e me segurava. Ao menos no começo, eu ainda me segurava. Mas chegou uma hora em que parei de me segurar, porque não dei mais conta. 

Mesmo depois de identificarmos o gluten e de eu retirá-lo completamente da minha alimentação, o João piorou novamente. O ressecamento chegou a ponto de tomar as perninhas e bracinhos, além do rosto e da cabeça. Ele era todo vermelho. Não parava de berrar. E num dia assim, de crise, liguei pro Cacá e disse que precisava de um antialérgico urgente praquele momento. Ele me passou Polaramine e uma pomada pra ressecamentos mais sérios. Fui comprar na hora, enquanto pensava que aquilo era reação ao shoyu: eu havia comido nos três dias anteriores. 

Depois de alguns dias, o João melhorou um pouco, mas não sarou. Mesmo sem shoyu. Se antes chegou a dormir três horas seguidas à noite (nunca foi de dormir de dia nesse início), não ficava mais dez minutos de olhinhos fechados. Nem no berço, nem na nossa cama, nem no colo. Só duas coisas o acalmavam um pouco: o peito e um pandeiro que até hoje fica no quarto dele, apesar de não ser exatamente um brinquedo. Detalhe: Polaramine dá muito sono. Cortamos e percebemos que talvez o João estivesse reagindo ao próprio remédio. Seguimos com a medicação antroposófica que também já estávamos administrando e pareceu que ele melhorou um pouco. 

Cacá nos indicou uma médica antroposófica que fazia um exame no cabelo do alérgico e identificava alimentos que estivessem “em excesso” no organismo. E claro, como se tratava de antroposofia, ela dava atenção a questões emocionais de nós três. Pesquisei um pouco a respeito antes de marcar a consulta, que no começo achamos cara – e pensávamos que ainda poderíamos fazer mais testes de alimentação. Ouvi umas duas opiniões a respeito do exame e da médica e decidimos esperar mais um pouco. Mas as coisas só pioravam. Não conseguíamos curtir, porque estávamos sempre com sono, tristes, nervosos. Ouvíamos o João berrar mesmo quando ele estava quieto. Não aguentávamos mais falar do assunto. Não queríamos mais encontrar as pessoas. Eu já começava a ter reações irracionais, como sentir raiva do meu marido por ele ter histórico de alergia – porque eu não tinha, e muitas vezes essa tendência é hereditária. Mas fazia todo o esforço do mundo pra arejar minha cabeça, ia ao Cine Materna com ele, usava e abusava do apoio incondicional da minha mãe (mas até ela duvidava do diagnóstico do João, e ficava quieta na maior parte do tempo porque via como eu ficava arrasada de ter que falar no assunto). 

Marcamos a consulta com a dra. Regina. Saímos de lá com a certeza de que valia muito mais do que ela cobrou. Conversamos muito, falamos de tudo, fomos muito acolhidos. Fizemos o exame e saí de lá com uma lista enorme de restrições alimentares. Carne vermelha, feijões, uva, pêssego, leite e derivados, industrializados e muuuito mais. Apesar da tristeza, eu me sentia firme para tentar cortar tudo aquilo e, depois, voltar aos poucos com alguns itens. Confiei no tratamento, porque ela realmente parecia saber do que estava falando. E sabia. Mas nós sabíamos muito também, e mais, porque éramos os pais dele. E àquela altura não tínhamos essa consciência ainda. 

No mesmo dia liguei pro Cacá pra contar da consulta. E concluí que não valia a pena ficar sem leite e derivados. Eu já tinha certeza de que não era esse o alérgeno e, se pudesse ao menos mantê-lo na lista, sofreria um pouco menos. Ainda assim, eu aprendi a fazer leite de amêndoas e tomávamos, Adriano e eu, com gosto. 

Nos primeiros dias, apesar de já sofrer com as restrições (e de ter que falar pra minha mãe o tempo todo: “não mãe, não posso comer isso”), resolvi aprender com aquilo. Mudar nossos hábitos alimentares, experimentar coisas novas, acrescentar ao nosso cardápio semanal coisas que não consumíamos sempre. Troquei os feijões por lentilha (que eu adoro mas só comia no Ano Novo), o pão por tapioca, os industrializados por frescos. Minha diversão era buscar opções em mercados especializados, tentar adaptar receitas. A fome ainda era grande, por causa da amamentação. Então eu tinha muito que inventar. E minha mãe foi incrível: fez muitas receitas adaptadas para me agradar. Lembro do dia em que ela conseguiu fazer um bolo de chocolate com calda e tudo. Não tinha açúcar, industrializados, glúten (e acho que nem leite). Comi três pedaços, feliz da vida. O Adriano comia o que eu podia comer. Dizia sempre: “Estamos juntos nisso, Má. Vamos lá, vamos jamais era muita coisa de uma vez só. Passou uma semana e o João não melhorou nada. Eu, que já não podia nem ter vida social – porque tinha fome o tempo todo e só podia comer em casa, além de não querer mais falar do assunto com ninguém -, também não podia cozinhar o que mais gostava. Tomar um vinho. E nem assim via meu filho bem. Ninguém dormia. Se não fosse pelas minhas amigas Laura, Natália e Tatiana, que vieram em casa cozinhar pra mim um menu delicioso que eu podia comer – e pela Bianca, que me chamava pra ir na casa dela e fazia um almoço tão gostoso também, dentro da minha dieta – eu não teria tido nada de vida social nessa fase, mesmo. Cheguei a ir numa festinha infantil na qual a única coisa que eu podia consumir era água. 

Liguei pra médica e ela se surpreendeu por ele não ter melhorado nem um pouquinho. Sugeriu mais um medicamento antroposófico (ele já estava tomando vários e nós também). Não me lembro se eu dei, mas acho que não. 

Numa quarta-feira, hora do almoço, estava sozinha com o João. Acho que ele tinha uns três meses e meio, quatro (me perdi completamente nessa conta). Coloquei ele no carrinho para esquentar minha comida e ele começou a berrar. Eu comecei a sentir raiva dele. Ignorei o choro. Continuei esquentando a comida. Comi, com raiva, rápido, sem nem sentir o gosto. Ele berrando. Mandei uma mensagem pro Adriano: “Chega, pra mim não dá mais”. Ele ligou desesperado e disse que estava indo pra casa. Assim que ele entrou, eu saí da cozinha e fui pro quarto. João berrando. Eu estava meio que em um transe. Deitei e cochilei. O Adriano pegou o João e depois entrou no quarto perguntando se podíamos ir no Cacá. Ele tinha ligado lá. Eu não queria nem responder. Por mim, tanto fazia. Naquela hora, senti vontade de morrer. Juro. Era como se eu estivesse amarrada e sem previsão de ser solta. Como se o meu maior sonho, o da maternidade, tivesse se tornado um pesadelo horrível, no qual eu já tinha dificuldades de amar meu filho. Não queria mais acolhê-lo, queria apenas ser acolhida – em algum lugar bem distante dele. Não queria mais amamentá-lo. Não queria mais nada. 

Fui levada pro Cacá. Não tocava no João. Na sala de espera, me joguei no sofá segurando o choro. Assim que ele apareceu, me disse: “Essa é a Fernanda. Vocês podiam conversar”. Era a mãe do Tomás, que também sofria de alergia. Ali trocamos algumas ideias e contatos. Depois nos encontramos e descobri que aquilo era o mais importante para nós: trocar experiências. 

Na consulta, eu não falava. Até que, depois de alguma pergunta do Cacá, eu disse que não ligava pra mais nada. Ele me olhou sério e falou que era melhor eu buscar terapia. Que aquele discurso era depressivo e que eu precisava me cuidar. Falou pra eu parar com a dieta, devagar, reinserindo os alimentos aos poucos na minha rotina e observando as reações do João. Mas o glúten eu não retomaria. E nos mandou pra praia. 

Adriano ligou pro irmão dele, João Claudio, que nos emprestou a casa. Até hoje acho que ele nem imagina o quanto aquilo foi importante pra nós! Foram 4 ou 5 dias de alívio. O João seguia sem dormir (àquela altura só havia um jeito de dormirmos um pouco: nos revezando a madrugada toda, cada hora um com o João no braço), mas eu comi um brigadeiro. Olhamos o mar, ficamos em silêncio, falamos um monte, nos lembramos o quanto nos amávamos. O quanto desejamos aquele bebê, o quanto estávamos aprendendo com aquilo tudo. Tínhamos certeza da nossa força. Sabíamos que não tínhamos recebido aquilo tudo à toa. Era, certamente, porque dávamos conta de suportar. E pensávamos: tem tanta coisa pior… 

Infelizmente, a volta pra São Paulo era necessária. O Adriano, que tem sua empresa própria, já não trabalhava direito havia meses. E precisava estar presente. Estávamos bem melhores, mas o primeiro dia em São Paulo já foi mais difícil de novo. 

Mas era muita coisa de uma vez só. Passou uma semana e o João não melhorou nada. Eu, que já não podia nem ter vida social – porque tinha fome o tempo todo e só podia comer em casa, além de não querer mais falar do assunto com ninguém -, também não podia cozinhar o que mais gostava. Tomar um vinho. E nem assim via meu filho bem. Ninguém dormia. Se não fosse pelas minhas amigas Laura, Natália e Tatiana, que vieram em casa cozinhar pra mim um menu delicioso que eu podia comer – e pela Bianca, que me chamava pra ir na casa dela e fazia um almoço tão gostoso também, dentro da minha dieta – eu não teria tido nada de vida social nessa fase, mesmo. Cheguei a ir numa festinha infantil na qual a única coisa que eu podia consumir era água. 

Liguei pra médica e ela se surpreendeu por ele não ter melhorado nem um pouquinho. Sugeriu mais um medicamento antroposófico (ele já estava tomando vários e nós também). Não me lembro se eu dei, mas acho que não. 

Numa quarta-feira, hora do almoço, estava sozinha com o João. Acho que ele tinha uns três meses e meio, quatro (me perdi completamente nessa conta). Coloquei ele no carrinho para esquentar minha comida e ele começou a berrar. Eu comecei a sentir raiva dele. Ignorei o choro. Continuei esquentando a comida. Comi, com raiva, rápido, sem nem sentir o gosto. Ele berrando. Mandei uma mensagem pro Adriano: “Chega, pra mim não dá mais”. Ele ligou desesperado e disse que estava indo pra casa. Assim que ele entrou, eu saí da cozinha e fui pro quarto. João berrando. Eu estava meio que em um transe. Deitei e cochilei. O Adriano pegou o João e depois entrou no quarto perguntando se podíamos ir no Cacá. Ele tinha ligado lá. Eu não queria nem responder. Por mim, tanto fazia. Naquela hora, senti vontade de morrer. Juro. Era como se eu estivesse amarrada e sem previsão de ser solta. Como se o meu maior sonho, o da maternidade, tivesse se tornado um pesadelo horrível, no qual eu já tinha dificuldades de amar meu filho. Não queria mais acolhê-lo, queria apenas ser acolhida – em algum lugar bem distante dele. Não queria mais amamentá-lo. Não queria mais nada. 

Fui levada pro Cacá. Não tocava no João. Na sala de espera, me joguei no sofá segurando o choro. Assim que ele apareceu, me disse: “Essa é a Fernanda. Vocês podiam conversar”. Era a mãe do Tomás, que também sofria de alergia. Ali trocamos algumas ideias e contatos. Depois nos encontramos e descobri que aquilo era o mais importante para nós: trocar experiências. 

Na consulta, eu não falava. Até que, depois de alguma pergunta do Cacá, eu disse que não ligava pra mais nada. Ele me olhou sério e falou que era melhor eu buscar terapia. Que aquele discurso era depressivo e que eu precisava me cuidar. Falou pra eu parar com a dieta, devagar, reinserindo os alimentos aos poucos na minha rotina e observando as reações do João. Mas o glúten eu não retomaria. E nos mandou pra praia. 

Adriano ligou pro irmão dele, João Claudio, que nos emprestou a casa. Até hoje acho que ele nem imagina o quanto aquilo foi importante pra nós! Foram 4 ou 5 dias de alívio. O João seguia sem dormir (àquela altura só havia um jeito de dormirmos um pouco: nos revezando a madrugada toda, cada hora um com o João no braço), mas eu comi um brigadeiro. Olhamos o mar, ficamos em silêncio, falamos um monte, nos lembramos o quanto nos amávamos. O quanto desejamos aquele bebê, o quanto estávamos aprendendo com aquilo tudo. Tínhamos certeza da nossa força. Sabíamos que não tínhamos recebido aquilo tudo à toa. Era, certamente, porque dávamos conta de suportar. E pensávamos: tem tanta coisa pior… 

Infelizmente, a volta pra São Paulo era necessária. O Adriano, que tem sua empresa própria, já não trabalhava direito havia meses. E precisava estar presente. Estávamos bem melhores, mas o primeiro dia em São Paulo já foi mais difícil de novo. 

Algumas passagens da história estão bem confusas na minha cabeça. Não me lembro exatamente quando fomos a uma terapeuta específica fazer nossa constelação familiar – um método que muito nos impressionou e que nos fez tratar de questões essenciais que certamente muito tinham a ver com a alergia do João. Também não me lembro quando ele começou a melhorar, nem quando me dei conta de que o glutamato monossódico, que está presente no shoyu e causava alergia no João, estava presente em vários outros temperos prontos que, por mais que não entrassem em minha casa, eram usados em restaurantes e bares onde, a certa altura da dieta, eu já podia comer. E claro, na casa das pessoas. Também não me lembro quando exatamente decidimos que eu não ia mais amamentar e que tentaríamos dar um leite específico para alérgicos – decisão imediatamente revista quando o pediatra disse: “Mas se não sabemos nem identificar tudo o que causa alergia nele, vamos trocar o seu leite por um cheio de química?”. Por mais estranho que pareça, mesmo no meio daquele furação, eu senti um certo alívio por não ter essa saída. Na real, eu queria muito continuar amamentando. 

O que sei é que, quando o João fez seis meses, muita coisa mudou. Ele já estava bem melhor e era hora de começar a introdução alimentar. Isso tudo era motivo pra muita alegria: eu havia conseguido chegar aos 6 meses de amamentação exclusiva e feito o melhor pro meu filho e pra mim, com isso; por conta disso, já começaria uma fase em que eu poderia ter mais tempo pra mim, porque ele logo não precisaria mais mamar tanto assim; seria um prazer enorme oferecer comida pra ele, vê-lo experimentar os legumes; eu contaria, a partir de então, com a ajuda da Marly, que o Adriano contratou para cuidar do João de segunda a sexta. 

Terapia começada, esquema montado, vida nova. Ainda não dormíamos, mas criamos coragem para tentar fazer o João dormir no berço de novo – e não só porque não aguentávamos mais dividir o espaço com aquele bebezão (que, com tudo isso, nunca teve problemas de ganho de peso), mas porque eu sofria de dores terríveis nas costas e percebemos que, com o peito por perto, ele nem sequer queria cochilar. Não foi imediato, mas logo ele se acostumou novamente a dormir no berço e o sono durava bem mais do que quando estava entre nós. 

João demorou muito para dormir uma noite inteira. E mesmo quando isso aconteceu, foram apenas 5 seguidas: foi só viajarmos no Natal e no Reveillon que ele voltou ao ritmo anterior. Vimos que, ao contrário do que havíamos planejado (nota mental: não dá pra planejar o comportamento de um outro ser, gente rs), o João só dormia com silêncio absoluto, escurinho, peito e no quartinho dele. Ok, filho. Faremos assim então, pra você aprender a dormir. 

Ele aprendeu (mas ainda acorda, uma ou duas vezes, dependendo da fase). Hoje, ainda não temos coragem de levá-lo pra viajar. Mas logo tentaremos. A introdução alimentar foi um sucesso e ele é um comilão. Reagiu à banana, ao ovo e a leite e derivados – coisas que, se eu consumo, não causam nada a ele pelo meu leite. Um mistério? Sim. Alergia é assim mesmo, e sinceramente, não queremos nem saber porque. No começo, fizemos como na preparação para o parto: lemos de tudo, conversamos com muita gente, pesquisamos pra valer. Com o tempo, percebemos que precisávamos relaxar, também. Que não existem respostas prontas pra tudo na vida. E a libertação: que não precisamos dessas respostas todas. A situação, hoje, já está sob controle. Então, se ele reage a algo, simplesmente não damos mais. Daqui a um tempo testamos novamente. E pronto. 

Eu já como gluten. João não reage mais, mas percebi que eu fico bem melhor sem. O plano é fazer “desintoxicações” quando eu sentir necessidade, porque cortar da vida já é um passo mais difícil que não quero dar agora. Nossos hábitos alimentares, que já eram bons, melhoraram muito. Sou a louca do rótulos, olho tudo o que tem em um produto antes de comprá-lo. E aprendemos um monte com isso. Somos mais leves (eu emagreci um monte, inclusive) e sinto um orgulho imenso quando vejo meu guerreirinho comendo o pratão de abobrinha, bifum, batata, peixe, lentilhas, couve, cenoura e tudo o mais que colocarmos. Ele come muito bem. 

Não demos vacinas até hoje, decisão super tranquila, e só o tratamos com homeopatia (mas até aqui foi só um resfriado e umas febrinhas de dente). Não posso nem imaginar o que poderia ter acontecido com o João se ele tivesse sido vacinado nas primeiras horas de vida, como acontece com a grande maioria dos bebês. E defendo, também por isso, a vacinação a partir dos 6 meses de idade (é o tempo que temos para conhecer melhor nossos bebês e entender do que eles precisam nesse começo de vida). 

São muitas as lições que tivemos até aqui. O João já tem um ano e parece que vivemos dez. Somos pais muito mais seguros. Tenho a sensação de ser inabalável. E a certeza de que as melhores pessoas para entenderem do que o João precisa somos nós. Mas de que, pra chegarmos nisso, precisamos ter em nosso caminho o apoio do melhor pediatra desse mundo (sim, ele é, temos certeza ), que nunca nos deu uma resposta pronta. Agradeço muito a ele por isso. 

E as conexões e conclusões que fazemos sobre tudo o que passamos são constantes. Tenho certeza de que, ouvindo os relatos de mais pais, isso acontecerá mais e mais vezes. Que riqueza ser mãe de um bebê alérgico. Não achei que um dia fosse dizer isso. 

Marcella 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Imagem: Google

Existe uma tribo na África, onde a data de nascimento de uma criança é contado não a partir de quando eles nasceram, nem a partir de quando elas são concebidas, mas desde o dia em que a criança era um pensamento na mente de sua mãe. E quando uma mulher decide que ela vai ter um filho, ela sai e senta-se debaixo de uma árvore, sozinha, e ela escuta até que ela possa ouvir a música da criança que quer vir. E depois que ela ouviu a música desta criança, ela volta para o homem que será o pai da criança, e ensina a ele. E então, quando eles fazem amor para conceber fisicamente a criança, eles cantam a canção da criança, o tempo todo, como uma maneira de convidá-la.

E então, quando a mãe está grávida, a mãe ensina a música que da criança para as parteiras e as mulheres mais velhas da aldeia, para que quando a criança nascer, as velhas e as pessoas ao redor dela cantarão a canção da criança para recebê-lo. E então, quando a criança cresce, os outros moradores conhecem a canção da criança. Se a criança cai, ou dói seu joelho, alguém pega e canta sua canção para ele. Ou talvez a criança faz algo maravilhoso, ou passa pelos ritos de puberdade, então, como uma forma de homenagear essa pessoa, as pessoas da aldeia cantam sua canção. 

Na tribo Africana há outra ocasião na qual os aldeões cantam para a criança. Se em algum momento durante a sua vida, a pessoa comete um crime ou ato social aberrante, o indivíduo é chamado ao centro da vila e as pessoas da comunidade forma um círculo ao seu redor. Em seguida, eles cantam sua canção para ele. 

A tribo reconhece que a correção para o comportamento anti-social não é a punição, que é o amor ea lembrança de identidade. Quando você reconhece a sua própria música, você não tem nenhum desejo ou necessidade de fazer qualquer coisa que possa ferir o outro. 

E vai este caminho através de sua vida. No casamento, as músicas são cantadas, juntas. E, finalmente, quando a criança está deitada na cama, agora ancião, pronto para morrer, todos os moradores conhecem sua canção, e cantam pela última vez, a música para essa pessoa. 

Você pode não ter crescido em uma tribo Africana que canta sua canção para você nas transições cruciais da vida, mas a vida é sempre lembrá-lo quando você está em sintonia com você e quando você não está. Quando você se sentir bem, o que você está fazendo jogos sua canção, e quando você se sente horrível, isso não acontece. No fim, todos nós reconheceremos as nossas canções e cantaremos bem. Você pode sentir um pouco ansioso no momento, mas todos os grandes cantores também tem. Basta continuar a cantar, e você vai encontrar o seu caminho de casa.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Hoje um dia cheio de tantas emoções...

Imagem: Google 
Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista. 

Hoje um dia cheio de tantas emoções... 

Volto ao encontro com mulheres empenhadas e empoderadas numa maternidade cheia de surpresas que levam a um questionamento saudável. Há, contudo, o perigo quando abrimos o coração de entrar qualquer coisa. Tipo coisa ruim, que não deveria fazer parte. As inúmeras verdades sobre quem deveria ser este bebê, seu bebê, e quem deveria ser esta mãe, sua mãe. E para variar o apego, o aconchego como o grande vilão. É como se cada mulher amorosa escondesse dentro de si uma vila implacável e egoísta que merece castigo e punição. O que será que elas não estão vendo? E vem a balança poderosa desmascarar a verdade. 

Não viu que não engordou o bastante? 

Não ver que este colo agora pode virar uma cascata de incapacidades depois? 

Eu sei qual será seu destino... 

E assim se desconstrói uma família, uma mãe e uma criança que teima em ser fora da média.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

Maternidade...

Foto/Espaço Nascente: Sylma e o seu  filho o "Cacá"

Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista.

Sempre desconfiando das datas com mais cara de shopping que de coração, hoje pensando na minha mãe e na de todos, pensando no trabalho que da ajudar a construir um indivíduo capaz de dizer adeus e ganhar o mundo. 

Trabalho que da se dar tanto para não ser mais necessária. Receber a gratidão de ser capaz de ser livre e viver pelas próprias pernas. Coisa esquisita essa de ser necessária para se tornar desnecessária. 

Para poder se tornar uma lembrança forte, amorosa, um exemplo de amor coisa engraçada essa de ser mãe. 

E ainda assim o maior exemplo do que é o verdadeiro amor. 

Então, que todos possam nesses dias ter a lembrança do que é ser generosa e pensar com carinho em todas as boas memorias que possam ter dessa que foi sua maior inspiração um dia. 

Minha mãe! 
Sua mãe! 

Beijos e parabéns a todas as mães.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Sobre os nascimentos!

Foto: Simone Novato

Por Carlos Eduardo Corrêa, o Cacá, Pediatra e Neonatologista.

Tem sido intenso estes dias com nascimento de vários bebês com a força da lua e um sol de touro. Que sejam bem vindas essas novas vidas. Tomara que eu tenha podido trazer conforto na sua chegada, trazendo respeito e amor nas minhas poucas e necessárias intervenções. Espero que essas mulheres encontrem o caminho do coração para construir um vínculo forte e íntimo com seus bebês. Que a Andrea e eu possamos auxiliar na construção de um aleitamento pleno de prazer e troca entre estes que estão se conhecendo sem fantasmas e novas intervenções.
Que a natureza humana se expresse suave e ao mesmo tempo intensa e imensamente.

Muita alegria por tantos nascimentos!

Hoje, pleno “sabadão” estou aqui no batente. Recebi a visita de pais que tentam construir uma família regida pelo principio do amor e respeito. Como às vezes fica difícil saber como expressa-los. Ainda pensando em aleitamento materno, principalmente no começo, encontrar um lugar de prazer e conforto pode ser tarefa bem difícil. Repenso a importância e ajudar e apoiar as decisões desta família e não... Construir mitos, idolatrias, que só servem para desestabilizar. Como uma balança ou uma fala inadequada podem destruir uma relação em construção. O poder de destruir a formação do vinculo familiar parece ser maior que o de construir.

Não pode dar colo!
Não pode dormir junto!
Esta criança tá passando fome!
Ele chora demais! Tem algo errado!
E ai se constrói uma mãe insegura, incapaz, um pai distanciado, incapaz e uma criança defeituosa e incapaz.
Deus nos livre disto, já anda tão difícil conseguir ser feliz!
São tantos NÃOS!

Hoje reencontrei três recém-chegados há poucos dias. Nasce um bebê causando o nascimento de um novo mundo. Nasce uma família, com mãe, pai, avós, tios e tantos mais. Que impressionante é à força do nascimento! E renasço, eu como pediatra, como ser humano, como alguém que faz uma reflexão sobre a grandiosidade da vida.

Obrigado, a cada bebê que me trouxe isto. Que me trouxe aqui, muito obrigado!

Eu luto por um parto onde a mulher é protagonista do seu caminho. Suas escolhas são conscientes e as intervenções são as mínimas necessárias e pedidas. O pós-parto dessa mulher deve seguir esse mesmo caminho. Dentre essas escolhas: a amamentação, se assim escolhida, deve acontecer com as mínimas intervenções e apetrechos. Onde a balança não é o condutor dessa relação.

Nestes últimos dias tenho pensando por que essas mulheres não aceitam intervenções no seu parto, mas tem uma amamentação tão cheia de intervenções, tão cheia de apetrechos. O que vocês acham sobre isso?