quarta-feira, 16 de março de 2016

Papel de pai

Vamos direto ao ponto:  se uma pessoa nunca estará plenamente preparada para ser mãe, também não está para ser pai.

Não é difícil achar um homem que só se depara com uma fralda depois do momento que tem filhos. Muitos sequer tiveram um bebe no colo alguma vez na vida. Um recém nascido parece um ser de outra galáxia para a maioria.

Esse cenário é mais raro de encontrar no caso das mulheres, cuja socialização para a maternidade acontece desde cedo. A cultura em torno do ser mãe coloca homens e mulheres que escolhem ter filhos, muitas vezes, em lugar de desigualdade. Que não é boa para nenhum dos dois. 

Ainda que essa seja uma área que necessite de muito debate - acerca das liberdades de escolha da mulher e toda a opressão que a socialização pode oferecer para as mulheres principalmente - olhamos hoje para o homem. O papel do pai na construção das novas famílias. O significado que este homem dará a sua nova condição de pai.

Inclusive como uma forma de propor o inevitável confronto: quantos pais conhecemos que literalmente passaram a vida sem nunca ter sido o cuidador principal de seus próprios filhos?  Alguns até que não participaram dos cuidados e da educação de seus filhos.

É evidente que para uma fatia - ainda tímida, mas expressiva - da paternidade, esse lugar de afastamento dos cuidados básicos, provisão de recursos financeiros  e último recurso na hora da "disciplina" não serve mais.

Pai não é mais ajudante de mãe.
Mas há um papel para ele definido? 
Ele sabe que papel pode ocupar ?

A nova geração de homens que tem filhos está procurando espaços de participação ativa, reflexão e empoderamento. Saber que não esta sozinho e que outros homens estão nesta mesma situação já e tranquilizador. Alguns homens sentem-se muito solitários ao se tornarem pais e não tem onde compartilhar suas angústias. 

No último fim de semana nos reunimos com  pais - para abrir esse debate. 




Por iniciativa dos queridos Rodrigo Bueno e Victor Farat (autores do livro Bebegrafia) realizamos um encontro com a presença de mais de 30 pais.




Como uma forma de mediar o debate, formaram-se grupos de discussão a respeito das nossas heranças, nossos medos e nossos desafios e alegrias.


Vocês acreditam que o grupo sobre alegrias não se formou no início? 
Evidenciou de imediato o quão importantes são as outras questões. 


Falou-se das historias de cada um como filhos. Do desafio de romper com modelos. Das dúvidas em se tornar um homem doméstico. Das dificuldades de administrar isso tudo em parceria com sua mulher. De como lidar com o choro sem ter peito. De uma infinidade de situações difíceis que passamos a viver a partir do nascimento de um filho.


Não era nosso objetivo definir o que é paternidade, mas perceber que o grande desafio está dentro de cada um, em seus múltiplos contextos. 

Ficou claro para mim que passamos por um turbilhão de emoções que expõe as magoas que cada um traz da sua história pessoal de ser filho. E que poder reconhecer estas mágoas nos aproxima de curá-las. De perdoar .

O perdão é a porta por onde deve-se passar para que cada um possa ser o pai que quer ser.

Sem esteriótipos. Sem modelos.
Podendo apenas ser pai. 

Faremos outros encontros para os pais aqui com o mesmo propósito. Um espaço de trocas e de reconhecimento mútuo da difícil e deliciosa tarefa de crescer como homens com filhos.