terça-feira, 14 de junho de 2016

Todos os humanos são dignos de felicidade e amor

Hoje eu iria postar um artigo sobre introdução  alimentar como uma experiência  sensorial. É um artigo antigo, que se chama "As cores do mundo". Mas acabei mudando de ideia, diante dos últimos acontecimentos.


Estou estarrecido com o acontecido no último fim de semana: o genocídio (ou generocídio) ocorrido em Orlando. Mais chocante ainda observar a reação das pessoas. Há quem pense que as vítimas mereceram o castigo. Afinal eram gays e estavam fazendo "coisa errada". 



"Coisa errada" esta que mora no imaginário das "pessoas de bem" para quem é natural que uma criança de dez anos seja assassinada pela polícia. Porque roubava um carro? Porque alguém suspeitou que roubava um carro? Uma criança merecedora da pena capital sob justificativa de estar fazendo "coisa errada". 

Muito parecido com a reação quanto a outra barbárie: o estupro coletivo de uma adolescente que gerou a opinião de que a culpa é da mulher por se colocar numa situação vulnerável. Ignorando convenientemente que a vulnerabilidade nesses crimes é uma questão de gênero, raça e classe, e não uma escolha. Ser mulher não é uma escolha. Ser criança pobre não é uma escolha. Ser gay tampouco. 



Esse tipo de violência nos deixa perplexos, mas não é nenhuma novidade. Desde sempre, minorias são atacadas em seus direitos, muitas vezes, lhes custando a vida.

Me impressiona, a facilidade em aceitar esse tipo de violência contra crianças pobres, mulheres e homosexuais. A violência contra algumas minorias não parece tão absurda. 

Quando se trata das violências sofridas pela comunidade gay, o assunto fica ainda mais morno do que de costume. Menos relevante, atinge menos a compaixão das pessoas. Suponho, porque se trata sexualidade, como se fosse um assunto menos digno. Porque estar na boate gay era uma livre expressão de sexualidade. Ser quem somos, pode ser um crime passível de penalidade máxima. 




Fiquei refletindo sobre quem esses homens eram. E me deparei com o eco de um artigo que li. Era sobre a adoção de crianças mais velhas por casais homosexuais (eu insisto em  homosexuais porque homoafetivos acredito que todos possam ser, esta palavra tirou a sexualidade do cerne da questão). 

Crianças que em geral não são aceitas por "famílias tradicionais" por serem mais velhas, encontram acolhimento e amor em lares que estão dispostos a demonstrar que o mundo não está construído contra as diferenças. Mas à partir delas. Que, de fato, nós podemos nos amar de qualquer maneira. 


Ainda que sejam crianças mais velhas, que tenham passado muitos anos em instituições, que sejam acolhidas por casais que não se encaixam no esteriótipo "família comum", todos os humanos dessas histórias são dignos de felicidade e amor. 

Não receberam, as crianças, de suas famílias  biológicas o que lhes era de direito universal, social e, (porque não) divino. Escaparam dos tiros da polícia. Sobreviveram. Lutaram durante toda a vida, os pais, pelo reconhecimento de seu amor, validação de sua existência. Sobreviveram também, quem sabe, aos tiroteios nas boates. Para generosamente devolver aos filhos que escolheram - e ao coletivo - a lição da saída pelo afeto. Da cura pelo amor. Da possibilidade de mudar o mundo através do acolhimento, e não do julgamento. 

Os casais gays e suas crianças grandes  estão nos dando lições diárias sobre o amor. Como plantar amor. Como ser família. Como transmutar o ódio e abandono que receberam e devolver mais cores ao mundo.  




As cores do mundo a gente ensina para as crianças também. 

É um momento terrível de luto. Reflitamos em silêncio pelas pessoas que sobrevivem ao preconceito e as injúrias da vida, para sucumbirem nas mãos de homofóbicos e justiceiros armados, em nome de sua religião ou defesa de um tipo de moral que de moral nada carrega. Em nome de um Deus que incentiva o ódio. Um Deus que esta bem longe do que todos os livros sagrados tentam ensinar !