quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Paternidade ativa: o melhor presente de dia dos pais

Num momento que se discute as relações entre o masculino e o feminino como relação de poder. Mulheres e homens vivendo um conflito. Gente vivendo um conflito entre o masculino e o feminino.

Num momento em que vivemos uma olimpíada em que dois casos de tentativa de estupro vem à tona, numa cidade recém marcada por uma história de extrema violência contra a mulher. Somos todos vítimas. Vítimas da nossa sexualidade. 

Uma sexualidade que define o que temos que ser e o que fazer.
Neste momento vamos reviver o emblemático festejo de um dos papéis do masculino sagrado pouco reverenciado e pouco sacralizado. 

O Dia dos Pais !

O mercado de consumo se organiza pelas efemérides. As datas comemorativas representam muitas vantagens para o mercado de consumo, pois geram argumentos de venda à partir das relações humanas de afeto, ou manifestações expressivas da cultura.

A oportunidade de viver troca de afetos reais e não de presentes fica esquecida em meio a um grande estímulo ao consumo. É mais significativo demonstrar carinho dando um presente que dando um abraço. Um evento cultural como o carnaval que pertence a todos passa a ser controlado por alguns que visam lucrar com ele. Uma comemoração de algo a celebrar se transforma num clichê de shopping center.

Print da pesquisa de imagem do google

Reparem: saltamos de um dia especial para outro. Começa com "à volta às aulas" e depois o carnaval. Logo vem a páscoa, dia da mulher, dia das mães, dia dos namorados, festa junina e entram as férias (excelentes oportunidades para campanhas de viagem de avião). 

Dia das avós, dia dos amigos e  as caixas de e-mail nesse momento já estão lotadas de sugestão de que? Presentes para o dia dos pais. 

É surpreendente o quanto as relações humanas estão traduzidas por relações de consumo, e datas que seriam marcos de nossa resistência, registros de nossa história ou homenagens reais ao que amamos estejam esvaziadas de significado e substituídas por: Compre mais! Dê presentes! Demonstre seu amor dando um presente!

Chega a ser uma grande ironia - em um momento onde a paternidade necessite de espaço grande de discussão perante a sociedade - que presente seja sinônimo daquilo que mais nos faz falta:
presença. 

Ser presente e estar presente deveriam ser os temas a se discutir nesta celebração. Quanta falta faz a uma família a participação mais ativa de um pai! 

Mães, em seu dia, já articulam muito bem o que precisam, para além das quinquilharias mundanas das propagandas de televisão. Equidade social, igualdade salarial, licença maternidade adequada, apoio à amamentação, fim da violência obstétrica, para citar apenas algumas das causas levantadas todos os anos, quando se comemora o dia especial das mulheres que têm filhos.

E os homens que tem filhos ?
Do que precisam os pais? Certamente não de mais camisas e gravatas, ou máquinas especiais de fazer café com cápsulas em formatos inovadores.
Precisam acreditar que podem cuidar! Precisam acreditar que tem o que dar e que nessa troca vão ganhar muito!

Pais precisam de mais presença.
E menos presente.

Precisam entender que o papel de provedor financeiro não satisfaz as necessidades de sua família. Nao é de um membro que se responsabilize unicamente pelas finanças a maior necessidade, embora tenha sua importância. 

É de um membro que tenha um lugar mais amoroso e participativo no dia a dia. De alguém que possa dar colo, acolher a noite um filho, principalmente quando doente, alguém que possa amparar seu filho nas suas dificuldades e medos. Um pai que tenha um colo fofo sem com isso ser menos masculino!

O masculino tem sido repensado cada vez mais na sua pseudo autoridade desmedida e se tem procurado um novo lugar para esse homem que quer poder viver sua delicadeza e fragilidade sem ter compromisso com um único arquétipo de guerreiro feroz. "O destruidor"!

Imagem daqui
Esse papel social equivocado não condiz com a necessidade de um homem insatisfeito com seu lugar.
Esse homem que cuida e que dá colo é uma necessidade do homem contemporâneo. É sua possível nova realidade !

Se tornar pai e viver uma paternidade ativa pode ser transformador e libertador numa sociedade machista. Todos ganham com isso. 

As mulheres em viverem relações construídas a partir do companheirismo. Os filhos por conhecerem seus pais, não por serem pais biológicos, mas por serem pais presentes e reais. Os homens por não viverem uma máscara de agressiva disposição a falta da capacidade de amar e por poder ter compaixão. A sociedade que começa a aprender a se relacionar de forma menos violenta.

O que podemos festejar nesse dia dos pais é ter um pai que faça parte de fato do dia a dia da sua família de forma mais leve. Menos engravatado e formatado para matar um leão por dia!

Menos comércio e mais celebração!
Menos presentes e mais presença!
Para que ninguém possa ser vítima!
Feliz todos os Dias dos Pais!