quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O que aconteceu com a livre demanda?

Vivemos em bolhas.

Não temos a menor ideia da diversidade que nos cerca, e os algorítimos das redes sociais já foram culpados por esse fato, mesmo que os bairros nos segreguem, as escolas, os muros dos condomínios.

Nas bolhas, os assuntos circulam, e tal e qual como a diversidade de gente, costumam obedecer a mesma lógica dos algoritmos. Em um ano só se fala de sling, no outro da livre demanda, depois de violência obstétrica e ao que parece na nossa bolha de hoje estamos falando de dietas alimentares.



Alimentação é um tema constante da nossa bolha.
Seja ela do filho, como fazer comer o filho, como dar a melhor comida para o filho, onde comprar, como preparar, qual hashtag usar.

Não nos relacionamos mais com os assuntos de um jeito não digital, isso é bem verdade. E talvez por isso as dietas alimentares causam tamanho espanto, não dá para passar desapercebido que seu whatsapp esteja cheio de correntes, seu amigos estejam todos relatando, seu feed de notícia te apresente, e você seja constantemente convidado, por múltiplas pessoas, a conferir o mesmo tema: dietas alimentares.

Não acho que a questão é entrar no mérito do que é bom ou que não é. O certo ou o errado e se o homem do paleolítico comia ou não o grão de arroz. Quero apenas pontuar a surpresa de - depois de um grande avanço na reflexão do bem comer, da comida como fonte de nutrição, prazer, da comensalidade como fator de vínculo - a onda da informação tenha nos trazido para essa lugar de reflexão. O lugar da dieta alimentar como estratégia para conquistas de saúde, estéticas ou bem estar.

O que aconteceu com a livre demanda?

Claro que essa é uma provocação. E existem mais coisas entre o prato de comida e a boca do que sonha nossa vã filosofia. Mas é de se notar que uma após a outra, as dietas alimentares nos tragam de volta para reviver nossas relações com comida. E de alguma forma, com quem nos alimentou.

Acho que estamos falando de infância. De restrições alimentares na infância. De substituição de afeto por comida. De privação que gera abuso. E vocês? Acham que estamos falando apenas de carboidratos e gordura?